Por Renato Moura
Está nos Açores D. Ivo Scapolo, Núncio Apostólico em Portugal. Para além das publicamente divulgadas, pelo menos Deus e ele saberão de alguma razão especial que o trouxe aos Açores: por iniciativa? ou imaginativo convite?
A Diocese açoriana está a aguardar a nomeação de novo bispo. Sendo o Núncio o representante da Santa Sé em Lisboa, sabemos do seu poder quanto à escolha.
Na chamada Missa Crismal, celebrada cada 5.º feira Santa, o bispo pede aos presbíteros para renovarem as promessas sacerdotais “vivendo mais intimamente unidos a Cristo” e configurados com Ele. E o bispo também pede, na circunstância, ao povo presente, para rezarem por ele, “para que seja fiel ao ministério apostólico” e “seja imagem, cada vez mais viva e perfeita, de Cristo”.
Bastariam aliás os ensinamentos e os exemplos da vida de Jesus, plasmados no Evangelho, para conformarem a vida dos presbíteros e de todos os cristãos. Acrescem, repetidos, os apelos e orientações do Santo Padre, no sentido de todos os presbíteros cumprirem a sua missão como um serviço. Infelizmente abundam aqueles que exercem o seu ministério arvorando-se de poderes soberanos.
Infelizmente somos todos humanos e imperfeitos. Mas aqueles a quem foram conferidos dons e especiais missões na Igreja, têm uma muito maior responsabilidade. Se alguém mantém alguma secreta esperança, mal disfarçada, de ser nomeado bispo, isso é, em si mesmo, um mau prenúncio. Ânsia de alto cargo cheira a desejo de poder; serviço é função que pode ser desempenhada por um simples sacerdote, com a humildade que Jesus ensinou. O Núncio tem o dever humano e funcional de o saber distinguir perfeitamente.
Foi notícia a visita de cortesia ao Presidente do Governo, pelo Núncio Apostólico, acompanhado de Hélder Fonseca Mendes – administrador diocesano. Na sequência soube-se que o Presidente do Governo afirmou “não pude deixar de manifestar a minha preferência por um açoriano” para novo bispo. A declaração do Presidente é, pelo menos, imprópria, impolítica, abusiva, infundada. O Presidente abusou da circunstância. Exorbitou no uso de poderes de interferência naquilo que só à Igreja cabe. Tentou fazer crer, sem justificação, que a escolha de um açoriano era preferível. Disse e não sabe que, no actual contexto de crise, a Diocese só teria a ganhar com um Bispo vindo de fora, isento de bairrismos, liberto de práticas anquilosadas, livre de amorfismos, de erros; com independência para reformar e inovar; para salvar. Politicamente sério.
Bolieiro ofendeu ao meter foice na seara alheia.