Pe João Chaves “convoca” os cristãos a evangelizar através de uma religiosidade popular adulta
Embora reconheça que a religiosidade popular é uma porta aberta para a nova evangelização, o responsável diocesano pela pastoral missionária, numa altura em que se aproximam as festas de verão e instado pelo Sitio Igreja Açores, diz que ela precisa ser evangelizada promovendo a consciencialização dos cristãos para a importância de outras dimensões como a liturgia e a vida sacramental.
“Não há dúvida que, com sentido pastoral, devemos acarinhar a religiosidade popular, mas também servirmo-nos dela para conscientizar os cristãos da importância de outras dimensões e expressões, como são, entre outras, a vida eclesial e sacramental, a Liturgia. É-nos lançado, portanto um grande desafio, não só de estilo, mas também de objetivo”.
O sacerdote dehoniano, que embora açoriano de nascimento reside permanentemente nos Açores há cerca de dois anos, numa reflexão sobre a Religiosidade Popular e a Nova Evangelização – ambas “até poderiam parecer contraditórias porque a primeira aponta para o intimismo e a segunda pressupõe apostolado e militância”- , deixa um apelo a todos os cristãos açorianos para que não se demitam da condição de evangelizadores.
“A evangelização é um empenho de todos: clero e laicado” disse o sacerdote.
Mas alerta para a necessidade de se “ser fiél à mensagem” e procurar a melhor forma de a transmitir no espaço e no tempo, adequando-a ao seu destinatário.
“O evangelizador tem de se precaver contra esse risco da deformação da mensagem” e tem “de privilegiar o conhecimento, o estudo, a formação e o discernimento, com muita humildade, nunca se sobrepondo à mensagem de Cristo, mas servindo-a em comunhão com a Igreja e o Magistério desta, a quem, em última análise, cabem o discernimento e a orientação”, destaca o sacerdote.
E, acrescenta, em jeito de alerta critico, que o “Evangelho liberta, alegra; se, pelo contrário, acabrunha, é de duvidar se é Boa Nova de Cristo” refere denunciando que “ há muitos batizados que preferem carregar as tintas: visões, castigos” o que pode levar a que as pessoas “procurem nas seitas” a “alegria e libertação que são próprias da nossa proposta católica, mas que não sabemos transmitir”.
Um cuidado que, estende também a todos os que seguem a religiosidade popular que tem “uma verdadeira força missionária” e, por isso “deve ser acarinhada”, mas que não deve ficar-se pelos ritos ou pelos momentos.
“Há que reconhecer excessos e riscos na religiosidade popular, excessos que exprimem e, por sua vez, produzem lacunas, o que acontece quando a religiosidade popular persiste em estar desarticulada ou desligada da Liturgia, da catequese, da Bíblia”, disse o Pe João Chaves.
“As práticas da religiosidade popular podem iludir e deixar num infantilismo religioso, dando excessiva importância ao ritual, ao exterior” e quando “mal entendida e mal praticada pode levar a relativizar Cristo, o itinerário salvífico, o mistério pascal, a pertença à Igreja, a vida religiosa comunitária e de assembleia; a relativizar e mesmo dispensar os sacramentos; a relativizar a Sagrada Escritura; a dispensar a formação e a catequese, a desligar a religião dos empenhos da vida; a ter um conceito utilitarista da religião; a favorecer a magia, a superstição, o espetáculo, o fanatismo”, conclui o sacerdote.
Daí, adianta o Pe João Chaves “a necessidade de evangelizar a religiosidade popular para que ela seja verdadeiramente lugar teológico e meio de evangelização; com paciência, porém, prudência e tolerância, ao estilo do Bom Pastor”.
O sacerdote que, no ano passado proferiu uma conferência sobre o tema no Nordeste, na ilha de São Miguel, deixa ainda alguns exemplos menos bons que corporizam uma “deficiente” religiosidade popular “quando vejo uma igreja cheia de romeiros no primeiro domingo de cada mês, quando se prepara a romaria. E nos outros domingos onde estão eles?!” ou “Quando vejo tanto entusiasmo e apego aos pormenores nas procissões, cumprimento de promessas… descurando outros aspectos também ou mais importantes”, entre outros.
Numa altura em que se aproximam as festas de verão, com o culto do Espírito Santo ainda muito vivo e presente nas festividades, o sacerdote lembra que as festas “são boas”, “inspiram e alimentam virtudes importantes, como a paciência, a resignação cristã, a solidariedade ou o sentido de família”; “inserem-se melhor na alma do povo, identificando-o”; permite a “transmissão geracional da fé, tornando-se em si mesma missionária, evangelizadora” e “facilita a conservação da fé, contra o secularismo”, mas deve sobretudo “não perder o essencial” que é “aprofundar e amadurecer a fé”.