Cónego José Constância apela a uma verdadeira vivência da fé para além do “divertimento, de hipotéticas alienações ou de exterioridade”
O ouvidor de Ponta Delgada, Cónego José Medeiros Constância, desafia todos os peregrinos da Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que hoje arranca em Ponta Delgada, a viverem este período abrindo o “coração ao Senhor e aos irmãos”.
“Se abrirmos nestes dias de festa o nosso coração ao Senhor nosso Deus e aos nossos irmãos, não faremos deles meros dias de divertimento, de hipotéticas alienações ou de exterioridades”, afirma
“Num mergulho espiritual profundo em que entre o sentimento, a vontade e a inteligência, abriremos as portas e janelas do nosso coração para «voltar a respirar» cristamente”, refere o sacerdote num artigo publicado na edição desta sexta feira do jornal Correio dos Açores.
Referindo-se a este tempo de festa como “um tempo abençoado” desafia os peregrinos que por estes dias veneram a imagem do “Ecce Homo” a abrir “o seu íntimo no eu mais profundo para se despojarem do que os isola, os fecha e paralisa e entrando em conversa intima com o Senhor se libertem de tudo o que os oprime”, de tal maneira que esta abertura de coração “renove a opção profunda e alegre pelo Deus da Vida” permitindo, assim, “começar de novo o caminho da nossa vida”.
“Na nossa vida não há intervalos e as festas do Senhor Santo Cristo, vividas com interioridade, não são um parêntesis, mas um ponto de partida para uma vida cristã diferente e melhor”, sublinha o ouvidor de Ponta Delgada, cidade que acolhe estas festas há mais de 300 anos.
O cónego José Constância adianta mesmo que nestes dias o Santuário do Senhor Santo Cristo pode tornar-se num “lugar de vanguarda” para uma nova relação entre cada peregrino e Deus”, aproximando também cada peregrino do seu irmão.
“Isto acontece porque contemplando a imagem e abrindo-nos ao Senhor Nosso Deus, necessariamente nos voltamos para os irmãos”, prescisa.
“Quem descobre ou redescobre o Senhor Jesus Cristo na sua vida, abre-se à comunidade e ao mundo onde estão os outros libertando-se do “egoísmo”, do “individualismo e do “orgulho”.
“Perante o dom que o próximo meu irmão é para mim, eu só posso tomar uma atitude: acolhê- lo ouvindo-o, partilhando os seus dramas, as suas tragédias e as suas alegrias. E na reciprocidade do dom que ele é para mim, eu torno-me também um dom serviço para os outros através do acompanhamento, da estima, do amor – caridade e da acção apostólica”.
“Abrir o nosso coração ao próximo é estar na disposição de fazer a opção evangélica pelos pobres. E fazer a opção pelos pobres é dar-lhes o protagonismo necessário, para que tenhamos um mundo melhor e de vida digna para todos”, salienta.
“O maior tesouro do Santo Cristo na vivência cristã são os pobres, a quem ajudamos, tornando um mundo melhor pela mudança numa ac- ção que tenta debelar as causas da mesma pobreza”, conclui o cónego José Constância.