Além da devoção, organizadores procuram uma “resposta cristã” para mitigar sofrimento
Realiza-se este domingo a sexta edição das festas em honra de Santa Quitéria, protetora dos doentes oncológicos, na Criação Velha, na ilha do Pico.
A festa, que é organizada pela Irmandade de Santa Quitéria, criada em 2013, com a colaboração do Pároco, Pe André Resendes Graça, pretende ser simultaneamente um momento para promover o culto à Santa portuguesa, muito ligada à doença da raiva em Espanha, mas também uma oportunidade para refletir e pensar numa “resposta cristã à dor”.
“Uma vez que esta devoção está muito ligada às questões da doença oncológica considerámos que seria útil aproveitarmos este momento para refletirmos sobre a forma como podemos ajudar-nos e ajudar os outros a superar um momento de sofrimento”, disse ao Sítio Igreja Açores o Pe André Resendes Graça.
Este, de resto, foi o tema do tríduo preparatório que começou na quinta feira e foi pregado (tal como as festas serão) pelo Diretor do Serviço Diocesano da Pastoral da Saúde, Pe Paulo Borges.
“Não tenho dúvidas de que estas festas, como outras, podem ser momentos importantes e oportunos para dotar as pessoas de ferramentas e de instrumentos para numa situação de dor estarem melhor preparadas para a entender, lidar com o sofrimento e ultrapassá-lo da melhor maneira possível”, disse ao Sítio Igreja Açores o Pe Paulo Borges.
“Uma doença qualquer que ela seja, mas a oncológica em especial, coloca-nos em sobressalto e assusta-nos, não só o doente mas todas as pessoas que estão à sua volta”, constata o sacerdote lembrando que nestes momentos, “saber acompanhar o doente, saber estar presente de forma constante, amiga e amorosa pode ser um contributo importante para o equilíbrio psicológico e afetivo dessa pessoa”. E, a fé é um “suporte decisivo para ajudar a descodificar a ideia do sofrimento como castigo”, sobretudo se tivermos em conta que uma das questões que mais se coloca é “que Deus permite tamanho sofrimento?”.
Durante o tríduo preparatório da festa “levantarei algumas questões que têm a ver com perguntas que não reclamam uma resposta porque são apenas uma forma de expressão de sentimentos; com a necessidade de entendermos o estado psicológico em que nos encontramos ou que se encontra um doente para saber lidar com ele ou, ainda, questões limite como o medo, a desesperança ou a morte”, refere o sacerdote.
“Não é quando estamos doentes que devemos aprender a lidar com estas coisas, deve ser antes para que quando a doença bater à porta sabermos enfrentá-la”, refere ainda o responsável pela Pastoral da Saúde.
As festas em honra de Santa Quitéria começaram a ser celebradas de forma mais organizada em 2009 e em 2013 foi fundada a Irmandade de Santa Quitéria, uma irmandade mista, que hoje conta com 50 membros, “não só do Pico mas também de outras ilhas e até da diáspora”, refere o Pe André Resendes Graça. A partir de hoje a Irmandade terá mais quatro irmãos.
A Missa Solene da festa será celebrada às 16h00 seguida da coroação.
“É um momento muito importante das celebrações e a coroação faz-se com a coroa conseguida a partir de donativos dos devotos que além da coroa para a imagem ofereceram esta coroa maior com a qual se faz a coroação dos fieis, em especial dos doentes, que requeiram uma proteção especial de Santa Quitéria. Só no ano passado coroaram mais de 400 pessoas”, refere o sacerdote adiantando ainda que a partir de agora e graças à generosidade dos fieis a imagem passou, também, a ter uma capa.
Esta devoção é antiga e faz parte da religiosidade popular açoriana, congregando à sua volta fieis de todas as ilhas.