Por Renato Moura
Noticiam as televisões férias, para presidente, membros do governo, deputados, dirigentes partidários. Há férias para profissões especiais; e ainda para outros felizardos. Mas há largas porções de povo, sem trabalho nem rendimento; tomara ainda poderem fazer o churrasquinho à beira de casa, ou viajar para os filhos chapinharem na água do mar ou da ribeira!
Seja qual a situação, nesta época o povo está desatento. Quando voltarem a si já não terão debates quinzenais na Assembleia da República, mas só a obrigação de o 1.º Ministro enfrentar os deputados de dois em dois meses! Uma receita do PSD cozinhada na panela PSD/PS, mesmo à entrada das férias dos supostos nossos representantes. Os demais partidos da oposição votaram contra. E ainda assim saltaram fora da panelinha, votando contra para não se escaldarem, 7 deputados do PSD e 28 do PS.
Quem diria?! O maior partido da oposição, dita alternativa de governo, quis reduzir a fiscalização ao governo! Quinzenalmente é muito trabalho para o PSD? Tem medo de perder? Receia ser ofuscado pelos pequenos partidos? Quer reduzir a réplica política se um dia for governo? Para além de Rui Rio já há muitos mais a embirrar e corroer o trabalho parlamentar? Que compensação espera do PS?
E onde está o PS que originou em 1995 os debates mensais e em 2007 os debates quinzenais? Já aceita o patrocínio do PSD para desvalorizar o escrutínio parlamentar? Falta-lhe coragem para enfrentar? Treme de medo? Já não se honra de ter a democracia como prato fundamental, ou dela só quer um poucochinho apenas como tempero? Ou acredita ser governo para sempre?
Mas há outras surpresas de cálido estio. As estações privadas de televisão enchem a boca com as contratações e transferências de trabalhadores, a alguns dos quais se atribui um valor profissional desajustado. A qualidade está longe de ser regra em muitos programas e cede à guerra das audiências de públicos pouco exigentes. Rolam os milhões. Como compensam a crise?
Vêm as televisões agora juntar-se ao futebol, este com perspectivas de contratações de milhões, de jogadores, treinadores, equipas técnicas. Como tomar isto a sério conhecendo-se a crise profunda em que viviam e ora se agravou? Rumo à falência?!
Há decisões e milhões provocatórios e ofensivos. Se é aproveitada a distração veronal do povo para abafar o desacordo e a refutação, para sufocar a contestação ou esmagar a revolta, é execrando.
Se as férias fossem aproveitadas para arrefecer, procurar discernimento, ponderar, retomar entusiasmo, seria óptimo.