Fé e razão foi o tema da palestra proferida pelo Padre João Seabra no auditório do Campus de Angra, perante uma assembleia de universitários e alunos do Seminário de Angra.
“A recusa apriorística da fé não faz boa ciência” disse esta tarde o Pe João Seabra, recordando as palavras do cientista Einstein, durante uma conferência sobre “Fé e Razão”, organizada no Universidade dos Açores, no Campus da ilha Terceira, numa iniciativa conjunta do Departamento de Ciências Agrárias, Departamento de Economia e Gestão, Associação para a Ciência e Desenvolvimento dos Açores e Há Vida no Campus.
“Quem não acredita no insondável mistério não pode ser cientista”, disse o sacerdote depois de considerar Albert Einstein como uma das figuras mais proeminentes do século XX, concluindo que “a recusa apriorística da fé não faz boa ciência”, sobretudo quando é devida a argumentações ideológicas.
O Pe João Seabra, que é Cónego na Sé de Lisboa, começou a sua comunicação por contextualizar o debate entre fé e razão no âmbito polémico de duas intervenções do Papa Bento XVI em meios universitários:. a primeira na Universidade alemã de Ratisbona, aonde tinha lecionado, e a segunda numa universidade romana em que os alunos manifestaram forte oposição, chegando mesmo a impedir que o Papa discursasse, alegando que “era o portador do dogma”.
Segundo João Seabra, estes dois factos ilustram uma nova fase do debate acerca da fé e a razão “porque colocam a pergunta sobre Deus no contexto da busca da verdade própria das academias”.
O P. João Seabra provocou, ainda, o auditório de universitários quando recordou que os ramos mais avançados da ciência moderna foram obra de padres cientistas, e citou a título de exemplo figuras incontornáveis como Georges Lemaître, padre católico, astrofísico autor da teoria da expansão do universo, conhecida como Big Bang e Gregor Mendel, o monge agostiniano, botânico e meteorologista, autor das leis da hereditariedade.
João Seabra esclareceu que “a nossa certeza de que Deus criou o universo é anterior à teoria do Big Bang”, e mesmo segundo esta teoria “o momento de início está fora da explicação científica e só pode ser discutido filosoficamente com argumentação livre”, concluindo que “o conhecimento científico não diz tudo o que há para dizer”.
Segundo Seabra, ironicamente, “os argumentos são interessantes mas às vezes os factos adaptam-se mal aos paradigmas”.
O sacerdote, sustenta que o conceito de razão foi “reduzido” ao conhecimento que é empiricamente demonstrável, e contrapõe que “o objeto reclama da razão métodos diferentes e diversos”.
Na sua comunicação deixou evidente que “a fé é uma ocupação da razão” e que “sem humildade a vida e o trabalho do cientista tornam-se tentações tremendas” pois “não podemos fazer a história da razão sem atender às ideologias”.
Para João Seabra “pela interpretação simultânea de uma multiplicidade de indícios chega-se à certeza razoável”.
O Padre João Seabra é Cónego da Sé Metropolitana Patriarcal de Lisboa, é licenciado em Direito, Teologia e em Direito Canónico. É Prior das Igreja da Encarnação e de Santos-o-Velho, é Capelão da Universidade Católica de Lisboa, Director do Instituto Superior de Direito Canónico da Universidade Católica Portuguesa, é Promotor de Justiça e Defensor do Vínculo do Tribunal Patriarcal de Lisboa e Assistente Diocesano da Fraternidade Comunhão e Libertação. É ainda Presidente da Associação para a Educação, Cultura e Formação, a instituição particular de solidariedade social que dirige o Colégio de S. Tomás.