Fátima passou a ser ponto de encontro da comunidade surda nacional incluindo os Açorianos

Foto: Igreja Açores/CR

Mais de seis dezenas de surdos, do continente e ilhas, participaram este domingo na Peregrinação da Comunidade surda ao Santuário de Fátima

A comunidade surda foi convidada a peregrinar à Cova da Iria este domingo e respondeu de forma expressiva com a participação de mais de seis dezenas de peregrinos surdos, com particular destaque para um grupo de duas dezenas de açorianos que, todos os anos, faz questão de estar em Fátima.

“O facto de fazermos este caminho e virmos em grupo dá a estas pessoas também a noção de que a fé é mais forte se for vivida em grupo e não apenas no interior de cada um” referiu à Sala de Imprensa do Santuário o padre Eurico Caetano, que acompanha o grupo dos Açores, que integra maioritariamente surdos de Santa Cruz, na Lagoa, ilha de São Miguel, onde a cada terceiro domingo do mês a Missa dominical principal tem interpretação em Língua Gestual Portuguesa. É, de resto, a única paróquia dos Açores a garantir esta acessibilidade de forma regular à comunidade surda.

“Estas experiências com todos é muito enriquecedora. Tocar as palavras com as mãos impele-nos a que nós próprios joguemos mãos à obra para tornar as nossas comunidades cristãs mais agregadoras e acessíveis a quem tem algum tipo de deficiência” referiu ainda o sacerdote açoriano.

“Este grupo que já caminha connosco há alguns anos é um grupo que se abre e que se junta frequentemente preparando-se  para estes momentos celebrativos, inclusive este ano tivemos catequeses feitas pelo bispo D. Armando Esteves Domingues” acrescentou o sacerdote salientando que a ideia de “pertença” é muito importante para estas pessoas.

O grupo oriundo do arquipélago junta pessoas de várias paróquias de São Miguel, a saber: Santa Cruz da Lagoa, Cabouco, Relva, Arrifes, São pedro de Ponta Delgada e Santo António.

“Aqui sinto-me em paz e venho todos os anos desde 2015” afirma, por seu lado, Zélia Reis, de Castelo Branco.

“O convívio, o reencontro de amigos e beber desta espiritualidade é algo que me toca particularmente. Se vivesse em Fátima viria aqui todos os domingos. Infelizmente, em Castelo Branco não temos interpretação. Sempre que posso sigo Fátima através da televisão”, refere ainda esta peregrina surda.

Renato Coelho é um dos intérpretes que integra a equipa que colabora com o Santuário de Fátima nas diferentes celebrações, desde 2013, e não tem dúvida de que o caminho da acessibilidade que o santuário abriu nesse ano deve ser reforçado.

“Esta peregrinação é um momento em que todos podem receber em conjunto a acessibilidade que o Santuário lhes proporciona; penso que adicionar mais momentos celebrativos, também nas redes sociais, criando mais acessibilidade seria muito interessante, pois muitos deles cresceram com uma educação cristã embora sem acesso à língua gestual e, neste momento, estão a encontrar a razão de alguns rituais e de alguns momentos” referiu o intérprete.

Foto: Igreja Açores/CR

As celebrações regulares com interpretação em Língua gestual Portuguesa começaram em 2013, na Missa dominical das 15h00, na Basílica da Santíssima Trindade; em 2015 iniciaram-se as peregrinações anuais e depois de um período em que as peregrinações de maio e depois de outubro contavam com interpretação em Língua Gestual Portuguesa, hoje o Santuário já disponibiliza uma segunda Missa aos domingos às 11h00, incluindo na transmissão em live streaming a partir do Recinto de Oração, bem como todas as celebrações das peregrinações aniversárias de maio e outubro. Também as celebrações do Tríduo Pascal e de Páscoa contam com a interpretação em Língua Gestual Portuguesa.

“Há sempre a possibilidade de crescer; temos feito esse caminho e julgo que há espaço para crescermos mais nesta oferta garantindo uma maior inclusão e acessibilidade das nossas celebrações” disse, por seu lado, André Pereira, diretor do Departamento de Acolhimento e Pastoral.

“Umas pessoas vão chamando outras o que mostra que as pessoas sentem que este lugar as congrega e lhes fala e toca de forma clara”, refere ainda.

Este ano, a peregrinação da comunidade surda a Fátima iniciou-se com o acolhimento, às 10h00, junto à Cruz Alta, de onde os peregrinos seguiram para a Capela da Ressurreição de Jesus, para participarem num momento catequético-formativo sobre a organização do ano litúrgico, a liturgia da Palavra de cada domingo e o lugar da homilia e o seu papel interpretativo e atualizante da Palavra de Deus. Às 12h15, no mesmo espaço, teve lugar uma celebração penitencial. Depois do almoço, foi celebrada a Missa da peregrinação, com interpretação em LGP, na Basílica da Santíssima Trindade. O dia termina com uma visita guiada à exposição “Rosarium: Alegria e Luz, Dor e Glória”, no Convivium de Santo Agostinho.

O Padre Ronaldo, capelão do Santuário, presidirá às celebrações desta que é a nona peregrinação da comunidade surda à Cova da Iria. A primeira peregrinação realizou-se em setembro de 2015, depois de o Santuário ter assumido no seu calendário celebrativo semanal uma Missa com interpretação em LGP, como forma integrar a comunidade surda, conforme sublinha André Pereira, diretor do Departamento de Acolhimento e Pastoral do Santuário de Fátima.

“A realização anual desta peregrinação sinaliza e concretiza a atenção à inclusão que vem sendo cuidada e progressivamente incrementada no Santuário. Nesta ocasião de encontro, os peregrinos surdos podem viver mais fecundamente essa sua condição de peregrinos e de batizados, celebrando comunitariamente a fé, conhecendo mais profundamente a mensagem de Fátima e reconhecendo-se mais claramente parte integrante e integrada do Povo de Deus”, partilhou André Pereira.

 

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