“Falta-me a dimensão espiritual que é alimentada pela vivência da dinâmica pastoral numa paróquia ou numa diocese”

O Pe Diniz Silveira é um dos três sacerdotes da diocese de Angra que atualmente estuda e vive em Roma

Há quatro anos na `cidade eterna´ a estudar Direito Canónico na Universidade Gregoriana, o Pe Diniz Silveira, diz-se “pronto para regressar” à diocese de Angra.

O sacerdote, natural da ilha Terceira, está neste momento a escrever a tese de doutoramento sobre as misericórdias, e numa conversa com o Sitio Igreja Açores, em Roma, fala das dificuldades e das virtudes de se “estar no centro”.

“Têm sido longos anos e estou pronto para partir e regressar à diocese” refere identificando cada uma das diferenças existentes entre a vida de um sacerdote ao serviço de uma paróquia e de uma comunidade e a vida de um padre estudante em Roma.

“Foram anos completamente diferentes, sem o carinho e sem a empatia das pessoas; resta-nos as aulas e estudar” sublinha lembrando que, apesar disso,  “o computo é positivo” por aquilo que foi aprendendo e porque “esta é também uma maneira de servir a igreja. Não vimos para aqui estudar para contentamento pessoal ou mero gozo intelectual mas para que, com a nossa aprendizagem, possamos servir melhor a igreja e as pessoas”.

Uma das grandes dificuldades que diz sentir é a que se prende com a dinâmica pastoral e a vertente espiritual: “não é uma coisa extraordinária, mas a atividade pastoral a que estava habituado ficou para trás”, afirma.

“O meu lugar de santificação era o altar, os movimentos, a família… aqui é uma cadeira, uma secretária e os livros e isso é complicado porque exige de nós uma ginástica muito grande” para não esmorecer perante “ a solidão romana” a que diz estar sujeito, tal como “todos os restantes sacerdotes que estão nestas condições”.

Mas “nem tudo é mau” insiste, reconhecendo que, viver numa cidade onde a igreja todos os dias faz história e em cada edifício há uma história para contar,  “é uma experiência e uma riqueza incomparáveis”, embora os romanos tenham uma relação difícil com esta igreja.

“Onde está o centro de decisão, a instituição é sempre assim e aqui em Roma não é diferente. Os romanos não gostam da igreja mas também não podem nem conseguem viver sem ela” referiu ainda. No entanto, não esconde o desconforto pessoal “com uma certo formalismo com que as coisas da fé por vezes são tratadas”, para além da falta que tem dos Açores.

“A dinâmica pastoral da nossa diocese é muito dura não só pela geografia mas também pelos ritmos pastorais: a Quaresma, os romeiros, o Espirito Santo, os padroeiros… nunca se para e isso é diferente, muito diferente e vivê-lo à distância não deixa de ser difícil, pelo menos para mim que sou açoriano e preciso do mar e da nossa natureza”.

Quanto ao momento que a Igreja vive recorda que o Espírito Santo sabe sempre encontrar “um homem para cada tempo e para o seu tempo” e, por isso, o Papa Francisco com o “seu jeito próprio de fazer as coisas é esse homem”, mas não esconde também a admiração pelo seu antecessor, “um homem  que a igreja em breve fará doutor não só pela profundidade dos seus textos e da sua reflexão mas também pela sua qualidade”.

“Tive a graça de viver a passagem de um pontificado para o outro” e isso, lá está, “é também uma vivência que me ajudou a ver a forma como a igreja é e sabe responder em cada momento”.

O Pe Diniz Silveira é, juntamente com os padres Teodoro Medeiros e Jorge Ferreira, um dos sacerdotes que a diocese de Angra enviou para Roma para aprofundar os estudos. Os outros dois sacerdotes estudam Sagrada Escritura e Liturgia, respetivamente.

Os excertos desta conversa podem ser ouvidos este domingo no programa Igreja Açores transmitido a partir do meio dia no Rádio Clube de Angra e Antena 1 Açores.

 

 

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