Por Renato Moura
A opinião pública é insistentemente condicionada por acontecimentos repetidos por toda a comunicação social; os partidos políticos acabam sempre arrastados para deles fazerem temas principais.
Agora é o desrespeito pelos direitos humanos no Catar e a realização ali do campeonato do mundo de futebol; tratados como se fossem descobertas recentes! Há doze anos que a FIFA fez essa opção inimaginável e inexplicável, sem sãos fundamentos; e há muitos mais que essa Federação dá motivos para não ser tida como abonatória. O futebol profissional é cada vez menos desporto são e cada vez mais ostentação ofensiva; e o espectáculo logicamente esperado, frequentemente não acontece.
A ligação de muitos dos políticos ao futebol só tem a ver com ânsia de popularidade e votos. Quando cismam que o povo gosta, entram na onda, sem sequer discernirem onde, como e quando. Certamente os cidadãos devem perceber que não é a presença de altas figuras de um Estado na bancada de um estádio a ajudar os futebolistas a vencer o jogo.
Aliás, algumas das muitas deslocações de altas figuras da nossa política são feitas sem se justificar qual o interesse público, sem se ponderar o custo/benefício. Agradáveis para quem vai; querendo aparecer por vezes comprometem; são caras para a dimensão e situação de Portugal. É isto que acontecerá com a deslocação ao Catar, do Presidente da República, do Presidente da Assembleia da República e do Primeiro-ministro, para verem os primeiros jogos da selecção de Portugal, no mundial de futebol. Claros sinais de falta de discernimento!
A coragem é uma virtude indispensável a quem queira ser bom político. E coragem não é embarcar no sentimento da maioria ou estar com os companheiros, para ficar protegido, para ser tido como popular e evitar críticas gerais. Virtude é saber discernir, em cada circunstância procurar a razão, atentar nos valores e nos princípios, e ter a coragem de não alinhar no populismo, ainda que fosse avassalador.
Há todas as razões para criticar o regime vigente no Catar e em tantas outras ditaduras no mundo. Mas tem de haver coragem para as enfrentar e procurar mudar, em todos os fóruns e oportunidades.
Tem de haver discernimento e coragem para nos países democráticos também impedir: que haja mulheres tuteladas, trabalhadores explorados, gente na nossa prisão mental, só por não serem como nós. Tudo especiais deveres dos católicos e das suas hierarquias, exigindo-se discernimento e coragem; assim como para dar às mulheres o papel que lhes cabe na sociedade e na Igreja.