Falta de conhecimento da doença mental potencia aumento do estigma social

Iniciativa da igreja no Faial serviu sobretudo “para uma maior consciencialização” social

O atraso que Portugal vive no tratamento da doença mental deveria ser compensado pelos políticos que precisavam de colocar este problema como prioritário na sua agenda,  disse este fim de semana no Faial a especialista Filipa Palha, durante as jornadas de Saúde Mental promovidas em parceria pelo Serviço Diocesano da Pastoral Social e a Ouvidoria da Horta.

“Nós estamos a caminhar nesta área com cerca de 30 anos de atraso, pelo que é uma falta de inteligência não se colocar a saúde mental como uma prioridade na agenda política no nosso país” disse a professora da Universidade Católica Portuguesa e presidente da associação Encontrar+se.

“O desequilíbrio na atribuição de recursos e a ausência de financiamento adequado destinado à saúde mental levanta sérias questões éticas, e quem paga o preço deste desinvestimento são as pessoas com doença mental e os seus familiares que muitas vezes perdem a capacidade de reivindicarem os seus direitos ou de expressarem as suas necessidades” acrescentou lembrando que, a par deste desinvestimento, há um claro desconhecimento destas doenças o que “potencia o aumento do estigma social”.

As jornadas de saúde mental, que contaram com uma participação significativa da população faialense, entre especialistas, familiares e doentes de saúde mental, tiveram como objetivo aumentar o conhecimento sobre a temática da saúde mental, “derrubar barreiras que permitam a procura de ajuda precoce, combater o estigma e a discriminação associada à doença mental e alertar os açorianos para a dimensão dos problemas de saúde mental e os riscos pessoais, familiares, sociais e económicos associados a situações de ausência de cuidados adequados”, informa uma nota enviada ao Sítio Igreja Açores esta segunda feira.

Ao longo da comunicação Filipa Palha defendeu que “o caminho de integração ou inclusão social e a recuperação das pessoas com experiência de doença mental não depende apenas dos serviços e dos profissionais que trabalham na área da saúde mental, mas sim da sociedade em geral e da colaboração entre os diversos sectores”. E, “como em qualquer problema de saúde, quanto mais cedo se intervir, melhor”.

A especialista falou, ainda, de uma espécie de “sentimento de culpa, acentuado pelo estigma social” que estes doentes apresentam.

“Chegam-me por vezes pacientes que me relatam ´tenho uma vida tão boa, porque é que estou deprimida?´, mas eu não ouço ninguém dizer ´tenho uma vida tão boa, porque é que estou com gripe?´”. Por isso, ressalva: “É importante ouvir os especialistas sobre as várias estratégias e serviços de suporte que permitem que uma pessoa com doença mental consiga gerir os seus sintomas e ter uma melhor qualidade de vida”.

A Comissão organizadora do evento faz um balanço “muito positivo” destas Jornadas e acrescenta que este ano Pastoral se apostou na descentralização geográfica para “chamar a atenção sobre uma área menos debatida, reforçando a aproximação e a comunicação inter-ilhas” com vista à produção “de efeitos multiplicadores” diz ainda a nota citando o responsável pela pastoral social diocesana, o Pe Duarte Melo.

 

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