Zona do Santuário do Santo Cristo da Caldeira já está repleto de peregrinos, apesar do mau tempo
O dia principal da festa é só amanhã mas desde o inicio desta semana que são inúmeros os visitantes e peregrinos que por estes dias se concentram na Caldeira da Fajã do Santo Cristo, na ilha de São Jorge, nos Açores, para viver as Festas do Senhor Santo Cristo da Caldeira, uma imagem que se encontra no Santuário diocesano com o mesmo nome.
Trata-se de um dos três santuários cristológicos da Diocese de Angra e está situado numa zona considerada Reserva Natural desde 1984.
A lenda que deu origem ao culto conta que um pastor deixou o seu gado a pastar, descendo a uma lagoa onde apanhou lapas e ameijoas. Ao parar para descansar contemplou um objeto na água a flutuar e viu que era uma imagem em madeira do Senhor Santo Cristo. Surpreendido com o achado, pegou na imagem, molhada e inchada de estar na água, e levou-a para terra seca. Ao fim do dia, quando voltou para casa fora da fajã, levou a imagem e colocou-a em local de destaque numa das melhores salas da sua casa. No outro dia de manhã a imagem tinha desaparecido. Depois de procurarem por toda a casa e de já terem dado as buscas por terminadas, ele foi de novo encontrado, dias depois, na mesma fajã e local onde tinha sido encontrado da primeira vez. Foi levado várias vezes para o povoado fora da rocha, e durante a noite a imagem voltava sempre a desaparecer, até que alguém disse: “O Santo Cristo quer estar lá em baixo na fajã à beira da caldeira, pois que assim seja”.
A Lenda da Caldeira de Santo Cristo é uma tradição da ilha de São Jorge e relaciona-se com as crenças populares numa terra onde a luta do homem com a natureza foi constante e onde, por séculos, as necessidades básicas do dia-a-dia foram prementes.
A Fajã do Santo Cristo, onde está situado o Santuário, continua sem luz elétrica e apenas residem permanentemente seis pessoas na Caldeira.
Todos os anos no primeiro fim de semana de setembro é cumprido o “voto” da festa e aqui acorrem “crentes e não crentes” como disse ao Sítio Igreja Açores o reitor do Santuário e ouvidor da ilha Pe Manuel das Matas Santos.
“Há 22 anos que aqui estou e foi sempre assim. No domingo juntam-se crentes e não crentes na zona a que chamamos praça”, disse o sacerdote sublinhando a importância do “Sermão da Praça”.
“Junta-se mesmo muita gente e eu aproveito a oportunidade para lançar o mote para o ano pastoral e social lembrando como deve ser o nosso comportamento, como devemos lidar uns com os outros, como devemos ser uns com os outros, para que a nossa comunidade cresça enquanto tal”, frisa o Pe Manuel das Matas Santos.
A festa tendo dimensão de ilha, “aliás chama também muita gente da Graciosa, do Pico e da Terceira” que acampa durante estes dias na Caldeira, é presidida e celebrada apenas por este sacerdote.
O programa religioso começa este sábado com uma missa às 20h00; prossegue amanhã com uma missa de acolhimento dos peregrinos, às 9h00 e outra, a chamada missa de festa, às 11h00. À tarde realiza-se a procissão cujo giro impõe uma volta à Lagoa. É no decurso dessa procissão que há o momento de oração e o Sermão da Praça.
Além do programa religioso há também atividades culturais e recreativas, com particular destaque para a animação noturna e para as “sopas do Espírito Santo” que são servidas a todas as pessoas que se encontram na Caldeira este sábado.
A ilha de São Jorge, onde se situa o Santuário do Santo Cristo da Caldeira, possui 13 paróquias, 7 curatos e 5 sacerdotes