Bispo de Angra preside às duas celebrações no dia 1 na Praia do Almoxarife, no Faial e no dia 2 na Ermida de Nossa Senhora dos Milagres, no Cachorro, na ilha do Pico
O bispo de Angra, que vai presidir às celebrações evocativas da passagem de 300 anos do voto que as populações do Faial e do Pico fizeram na sequência da erupção vulcânica de 1718, convida os diocesanos, particularmente das ilhas do Faial e do Pico, a “renovarem hoje” a mesma crença dos seus antepassados na ação criadora de Deus, como “Senhor dos acontecimentos e da história”.
Numa mensagem de congratulação pelo voto feito há 300 anos pelas comunidades do Faial e do Pico na sequência das erupções vulcânicas e dos abalos de terra em 1718, que assutados com a situação que a natureza lhes oferecia e perante a ausência de auxílio terreste, elevaram ao céu as suas preces e fizeram os seus votos, D. João Lavrador lembra que “o voto feito em época muito remota e distinta da nossa actual, pode ajudar nos tempos de hoje a nortear a consciência da acção de Deus no mundo, na história e na sociedade”.
“Estamos perante as pessoas que se sentem impressionadas e vulneráveis diante dos sinais da presença do Mistério que nos envolve e que não sendo compreensível à inteligência se impõem pela sua presença e pelo impacto com que atuam”, esclarece o prelado açoriano.
E acrescenta: “mais do que projetarem o medo e o temor, estes fenómenos da natureza devem levar-nos a contemplar a Deus Criador e Senhor, a penetrar na realidade do mistério do mundo e da sua complexidade e abrir-nos à Revelação de Deus que nos oferece o sentido novo de todas as coisas no mistério Pascal de Seu Filho Jesus Cristo e na renovação da criação através da Sua Ressurreição”.
O prelado vai presidir às celebrações no Faial e no Pico, que têm um programa próprio que se estende até setembro, mas cujo momento alto será no dia 1 de fevereiro na Praia do Almoxarife, no Faial, com uma Missa Solene (15h00) seguida de procissão (com um percurso mais alargado), celebrações que se repetirão no Pico no dia 2. Nesse dia, sairão as peregrinações da Igreja Paroquial de Santa Luzia (09.30h) e da Igreja das Bandeiras (10.00h) em direção à Ermida de Nossa Senhora dos Milagres, no Cachorro. Rezando com os pés, o povo encaminhar-se-á para a Eucaristia que será celebrada à chegada na Ermida do Cachorro. Será também descerrada uma lápide comemorativa com um trecho do texto do Pe. Nunes da Rosa, que foi pároco das Bandeiras e escritor de mérito reconhecido. Ainda nas comemorações no Pico, estão previstas as arrematações no formato habitual. Terminada esta fase, as peregrinações regressarão processionalmente aos seus pontos de origem. No dia 3 de Fevereiro haverá uma noite cultural, no adro da Ermida de Nossa Senhora dos Milagres, no lugar do Cachorro. Irá abrir com a atuação do Folclore da freguesia das Bandeiras. Seguir-se-á uma palestra por Albino Terra Garcia, filho da paróquia, que está a compilar estudos para publicar, posteriormente, uma obra sobre o tema.
Também no Faial, será lançado um opúsculo sobre a história deste voto, elaborado por Carlos Lobão. Será o primeiro registo do género que sublinhará a importância destes acontecimentos, assinalados também pela edição de um selo comemorativo e de um concerto no dia 4 de fevereiro.
Quer as celebrações no Faial quer as do Pico foram apresentadas em conferência de imprensa, sendo que no Faial há um voto de congratulação camarário sobre a passagem desta efeméride e no Pico, há um voto da paróquia.
A conferência de imprensa no Pico decorreu esta terça feira, com a participação do Ouvidor Eclesiástico do Pico e do Pároco das Bandeiras. Participou igualmente o investigador Manuel Serpa que sublinhou a importância desta efeméride “pelo passado, pelo presente e pelo futuro”.
Manuel Serpa enquadrou historicamente o acontecimento, reconhecendo que o ano de 1717 havia sido trágico para esta ilha, como recorda Silveira de Macedo na “História das Quatro Ilhas que formam o distrito da Horta.” Nesse ano, ocorreram fomes e epidemias que dificultaram a vida das populações. O ano de 1718 não começou de melhor forma. Segundo Nunes da Rosa, “Após um fortíssimo abalo de terra, um estampido medonho faz-se ouvir nas três ilhas de Faial, Pico e S. Jorge.” Silveira de Macedo acrescenta que seriam 6 horas da manhã do primeiro dia de Fevereiro quando tudo aconteceu.
Na mesma ocasião, tendo rebentado outro vulcão no lado Sul da Ilha, o povo do lugar da Terra do Pão dirigiu-se a São Mateus, que era então sua Igreja Paroquial, suplicando o auxílio divino. Surge então o terceiro voto, que ainda hoje é cumprido no dia 21 de Setembro, data da festa do padroeiro, quando se celebra missa, se coroa e se distribuem rosquilhas por todos os presentes. Manuel Goulart Serpa lembrou também que as rosquilhas estão distribuídas eram chamadas de “arreliques” – corruptela de “relíquias”. Eram uma relíquia, uma preciosidade que as pessoas levavam consigo.
Na conferência de imprensa, o Ouvidor Eclesiástico do Pico, Pe. Marco Martinho, destacou a importância dos três votos (Cachorro, S. Mateus e Praia do Almoxarife) e ressaltou, também, o facto dos dois primeiros envolverem toda a ilha do Pico, independentemente dos concelhos. Dentro do quadro celebrativo para o presente ano, lembrou que, a 2 de Março, por ocasião da abertura da Visita Pastoral de D. João Lavrador à Ilha do Pico, haverá um momento cultural, no Santuário do Senhor Bom Jesus Milagroso, com uma conferência da Professora Zilda França, que publicou uma tese de doutoramento sobre as erupções de 1718 nestas Ilhas. O momento irá concluir com a atuação do Grupo Coral das Lajes do Pico.
Já no dia 21 de Setembro, data em que o Povo de São Mateus e São Caetano cumpre o seu voto, o programa seguirá, na generalidade, os trâmites habituais. Haverá Missa, Coroação e Procissão, finda a qual serão benzidas e distribuídas as rosquilhas. Os atos litúrgicos serão presididos pelo Bispo da Diocese. Para perpetuar esta data, será descerrado um memorial evocativo do voto. “Contemplando o céu, continuaram firmes pela terra”, lembrou o Ouvidor, referindo-se à tenacidade da fé dos cristãos que viveram os cataclismos agora recordados.
A conferência de imprensa foi encerrada pelo Presidente da Câmara da Madalena, José António Soares.
(Com Pe. Jacob Vasconcelos)