Coliseu Micaelense acolhe bordões e cevadeiras de 54 ranchos
A exposição itinerante “Símbolos e Tradições I”, promovida pelo Grupo Coordenador do Movimento de Romeiros de São Miguel chegou este domingo a Ponta Delgada, onde estará patente ao público no Coliseu Micaelense até dia 16.
Na cerimónia de inauguração, o responsável pelo Grupo Coordenador ressalvou o compromisso cívico e social dos romeiros na prossecução do bem comum.
“Se olharmos para o nosso movimento verificamos a sua expressão numérica- quase um rancho por freguesia- e o que nós pretendemos é que isso acrescente muito à vida da comunidade e nós possamos fazer a diferença na ajuda ao outro”, disse João Carlos Leite.
“Pastoralmente até pelo número de irmãos que envolvemos temos de ser capazes de fazer a diferença assumindo um compromisso de intervenção social relevante no contexto de cada uma das nossas comunidades”, precisou o responsável.
Recordando um apelo feito no último retiro de preparação das romarias quaresmais em 2015, João Carlos Leite destacou a “responsabilidade dos romeiros na Evangelização” não só dos Açores, mas também do continente e até da Europa e recordou as palavras do Santo Padre, em Roma, na audiência geral do dia 3 de dezembro de 2014, na qual sublinhou a “importância da oração dos Romeiros de São Miguel”.
“A nossa tradição é esta; temos de manter-nos fieis a ela e por mais que avancemos não podemos perder de vista esta dimensão da tradição e da fé”, concluiu.
Também , no mesmo sentido, o Presidente da Câmara de Ponta Delgada que cedeu o espaço do Coliseu Micaelense para esta exposição, ressalvou que esta mostra “era um espelho da identidade açoriana, particularmente em São Miguel”.
“As romarias são um ato de fé, fazem parte de nós, porque a nossa condição de ilhéus como que nos dá força para uma capacidade diferente do sacrifício que se revela nesta oportunidade de devoção”, disse José Manuel Bolieiro.
Apresentando a Romaria Quaresmal como “um ato de fé identitário” sublinhou a importância da sua divulgação não só pela originalidade mas também pelo testemunho.
“Este ato de fé é uma forma de expressar o nosso modo de ser; exprime a nossa pobreza e também o nosso temor a Deus” disse o autarca, incentivando os romeiros a prosseguirem este trabalho de divulgação das romarias e das suas especificidades.
Desta feita, no inicio da cerimónia houve lugar para um testemunho de um romeiro- um dos mais antigos de São Miguel- o Irmão Adriano, do Rancho da Saúde nos Arrifes.
Lembrou como antes, raramente se saía na primeira semana da Quaresma, reservada ao Lausperene, como ainda hoje se conserva nos Arrifes, uma das freguesias de maior tradição nas romarias quaresmais, no entanto destacou o facto de hoje as “romarias serem muito diferentes”.
“Não falta nada a um romeiro”, disse e quando falta “há sempre um telefone ou uma voz que se levanta e resolve” e contou a este propósito um episódio passado com um primo, numa casa de acolhimento.
“Naquele tempo não havia máquinas de secar roupa e as pessoas que nos acolhiam faziam o que podiam. Uma vez uma senhora colocou as calças de um primo meu no forno de lenha para as secar; queimou-as e no outro dia o romeiro lá seguiu com as calças remendadas. Hoje isto era impossível”, rematou.
Os romeiros estão a expor algumas peças da sua indumentária habitual, mas querem prosseguir na recolha de testemunhos que permita reconstruir a história destas peregrinações penitenciais de São Miguel.
A organização espera assim “criar uma narrativa permanente que possa contar a história” das romarias, para que “quem não conhece” esta tradição “fique a perceber a sua essência”.
Para já a exposição “Símbolos e tradições I” estará na “estrada” até 12 de fevereiro, percorrendo todos os concelhos de São Miguel.
O projeto, feito em “parceria com as autarquias” locais, incluiu “a recolha de bordões e cevadeiras ou sacas” em “cada um dos 54 ranchos” – grupos de romeiros – da ilha.
As romarias na Ilha de São Miguel, no Arquipélago dos Açores, têm cerca de cinco séculos de história e juntam todos os anos milhares de peregrinos.
Na sua origem estiveram as catástrofes que tocaram o território em 1522 e 1563, quando terramotos e erupções vulcânicas fustigaram as regiões de Vila Franca do Campo e Ribeira Grande, provocando inúmeras perdas humanas e materiais.
“Em 2016 será feito um pequeno desdobrável bilingue onde se explica sucintamente a história das Romarias e se alerta para a necessidade de uma condução cautelosa durante o período da Quaresma”, no sentido de garantir a segurança dos romeiros que se fazem à estrada.
“Estes folhetos serão distribuídos em centros de aluguer automóvel, no aeroporto João Paulo II, de Ponta Delgada e também em locais de maior visibilidade para criar uma consciência social do movimento dos romeiros”.
No itinerário da exposição está agora o concelho do Nordeste, de 19 a 25 de janeiro. Segue-se a Povoação (27 de Janeiro a 2 de Fevereiro); Vila Franca (de 4 de Fevereiro a 10 de Fevereiro) e Lagoa, até 12 de Fevereiro.