Experiência in solidum tem “dado passos positivos”

Entrevista com o padre Ruben Pacheco, ouvidor da Graciosa

 

Foto: Igreja Açores/P. Ruben Pacheco, ouvidor da Graciosa

A pouco mais de uma semana do inicio da primeira visita pastoral à ilha Graciosa, que se realizará de 15 a 26 de fevereiro, o sítio Igreja Açores falou com o ouvidor, padre Ruben Pacheco, que juntamente com o padre João Paulo Brasil, formam a equipa sacerdotal que há um ano começou a fazer a experiência de uma vivência in solidum nas quatro paróquias da ilha. Embora no início, o ouvidor reconhece que têm sido dados passos e já começou a ser vencida a desconfiança em relação à promoção de uma pastoral conjunta. “O pior mesmo é a celebração eucarística porque todos querem a missa à porta de casa”.

 

O Senhor Bispo  começa no próximo dia 15 a Visita Pastoral à Graciosa. É a primeira visita pastoral à ilha. Como é que está a ser preparada esta visita?

Esta visita está a ser preparada já há vários meses e tivemos a preocupação de reunir o Conselho Pastoral de Ouvidoria e, em primeiro lugar, fazer o esquema da visita, que tem várias vertentes. Por um lado, a celebração das Eucaristias nas paróquias com a administração do Sacramento do Crisma. Por outro lado, a visita às diversas instituições, aos lares, às Santas Casas da Misericórdia, assim como ao Centro Paroquial de Nossa Senhora da Luz. E, claro, está também prevista a visita às igrejas, ermidas, encontros com as autoridades civis, nomeadamente a Câmara Municipal e as Juntas de Freguesia.

Que realidade vai encontrar o senhor Bispo?

Vai encontrar uma igreja que está a envelhecer mas que não deixa de ser uma igreja alegre, com muita entrega. A Ilha da Graciosa é uma das ilhas com menos população da nossa diocese, que vai, infelizmente, perdendo cada vez mais população e a população vai ficando cada vez mais velha. Também, por outro lado, há pouca juventude e a juventude que participa ativamente nas paróquias também está a participar ativamente nas outras instituições e movimentos da sociedade.

Portanto, eu acho que é esta igreja que vai encontrar, e depois, claro, a juventude que vai receber o Sacramento do Crisma e que também é parte ativa na catequese e nos escuteiros, que são o movimento juvenil por excelência na ilha.

Quais são, neste momento, os movimentos e os serviços que são mais preponderantes?

A nível de movimentos e atividades, nomeadamente com a juventude, temos, para além da catequese, que é um serviço da igreja, o CNE, com dois agrupamentos. A nível de movimentos e restantes serviços, temos a Cáritas, os Vicentinos, na Paróquia de Santa Cruz, temos também o próprio Centro Social e Paroquial com várias valências e que pertence à Paróquia da Luz, e temos o Grupo de Romeiros. Temos, ainda, a nível de ilha, o Caminho Neocatecumenal.

Quais foram as preocupações na preparação da visita, quer da parte da equipa sacerdotal, composta por dois sacerdotes, quer da parte dos leigos mais comprometidos com a vida da igreja?

Em primeiro lugar, dar uma imagem, o mais fiel possível, da nossa realidade do dia a dia, a nível da vivência da ouvidoria. Por outro lado, o Sr. Bispo também poderá ter um  maior conhecimento e mais amplo dos edifícios, dos movimentos, do sentido a dar a tudo isto na Graciosa. Esperamos, de coração aberta, orientações para esta nova realidade in solidum que estamos aos poucos a desenvolver na ilha.

Ainda estamos nos primeiros passos e, claro, gostaríamos de saber da parte do Sr.D. Armando Esteves Domingues o que é que nos aconselha e qual é o caminho que nós devemos seguir na caminhada sacerdotal. Isto é uma experiência nova, quer para o clero, quer para os paroquianos mais comprometidos. E, claro, precisamos sentir o pulsar e sentir o ânimo.

O padre Ruben é ouvidor da Graciosa, entrou na ilha numa experiência ainda sem ser in solidum. Do ponto de vista pessoal e do ponto de vista institucional, porque tem a responsabilidade, digamos assim, também de coordenar e de orientar a pastoral da ilha, que leitura é que faz destes tempos na Graciosa e da prestação da Igreja?

A nível pessoal, acho que saí a ganhar, enquanto pároco, enquanto cristão, desta passagem da vivência da paróquia, aquelas em que estava, para uma experiência in solidum, porque ajudou-me a ter o maior conhecimento da ilha, mais contato com todos os paroquianos da ilha e não só com os das paróquias da Luz e do Guadalupe. Faltava a esta experiência qualquer coisa. A nível da Igreja, da vivência da Igreja enquanto instituição, claro que ainda temos algumas dificuldades, porque como somos só dois e quando alguém está doente ou tem que se ausentar, sentimos ainda aquele peso de ter de nos desdobrarmos. Mas eu acho que a nível da instituição o futuro vai passar por aí, será quase uma inevitabilidade. A ilha tem quatro paróquias e cerca de 4 mil habitantes.

Por outro lado, a nível da organização geográfica é espetacular no sentido em que a geografia sendo pouco acidentada, nós conseguimos com muita facilidade ir a qualquer ponto da ilha. Para nós, para quem organiza, é muito mais entusiasmante e há uma maior partilha e uma maior riqueza a nível espiritual e pastoral.

Como é que os leigos, as comunidades,  têm reagido a esta experiência que, como o senhor disse, está a dar os primeiros passos, mas pelos vistos e pela sua leitura estão a ser passos sólidos e positivos?

Tem sido interessante porque, em primeiro lugar, nós notámos muita apreensão e é completamente normal. Porque durante séculos nós tínhamos uma vivência pastoral e depois, quase de um dia para o outro, as pessoas perderam logo aquela ideia de ter o seu pároco e quase que sentiram que tinham de partilhar o pároco com o resto da ilha. Do ponto de vista pastoral é mais fácil de gerir porque as pessoas percebem quando há poucas crianças que se calhar, até para proveito das próprias crianças a escola, a sala de catequese, ente outros, devem ser mais concentrados. O pior é mesmo a eucaristia, que todos querem à porta de casa. Nas restantes atividades eclesiais, as pessoas já se habituaram a partilhar e a reorganizar. Tem  sido uma riqueza para todos nós, porque vendo até ontem, esta semana tivemos aqui a visita do Padre António Santos, que pertence sempre à Comissão de Diocesana de Formação, e da ecónoma da diocese, Carla Bretão.

Mas têm dado passos concretos relativos às estruturas de comunhão e sinodalidade?

Sim no trabalho pastoral, sobretudo. Todos estamos a aprender o que cada um tem e pode fazer. Nas festas de verão, por exemplo, evitamos fazer mais de uma festa na ilha, para evitar sobreposições.

 Elegeria este o grande desafio que a ilha tem pela frente?

Sim, eu posso dizer que sim.

É esta oportunidade, de trabalhar e promover a comunhão entre os clérigos e os leigos. Com mais formação, haverá mais consciência do papel de cada um e isso trará mais responsabilidade de compromisso.

 Em termos pastorais qual é a área mais desafiadora da ilha?

Aqui na Graciosa, e eu acho que também acontece nas outras ouvidorias, o nosso maior desafio é exatamente a catequese, de forma particular a relação com a família, porque muitas vezes percebemos que as crianças participam mais por tradição do que por convicção e as famílias têm responsabilidade nisso.

Depois, a nível da participação da Eucaristia no âmbito catequético, ainda parece que o sacrifício é maior, e quando chega às férias de Natal, Páscoa e Verão, desaparecem. Eu acho que este é o nosso maior desafio a nível da vivência da catequesa e acima de tudo a envolvência da família na catequese.

Na carta ao povo de Deus, antes de iniciar o ciclo das primeiras visitas pastorais do seu episcopado, Dom Armando dizia que mais do que cumprir um preceito canónico, estas visitas pastorais eram sobretudo para estar com as comunidades e perceber que caminho queriam fazer. Vão ter tempo, as comunidades e o Sr. Bispo para, durante este programa intenso da visita pastoral, alcançar este designio?

Sim, eu espero que sim.

Nós tivemos este cuidado a nível da preparação da visita. Ou seja, o contato com o Sr. Bispo, com as comunidades, podemos dizer que vai por várias vertentes. A nível mais oficial e institucional, temos as reuniões com o Conselho Pastoral, temos as visitas ao lado de idosos, com a superação do Eucaristia, as várias valências da Extensão das Casas, do Centro Social e Paroquial. Para além disso, também uma coisa que eu acho que será muito interessante é o convite que muitas famílias fizeram ao senhor bispo para participarem na festa do Crisma dos filhos. Serão momentos de partilha mais intima e por isso mais de encontro com aquilo que o senhor bispo, porventura, tem desejado.

Do ponto de vista pessoal, Padre Ruben, e como sacerdote desta diocese, um sacerdote que está ao serviço na comunidade graciosense, pergunto-lhe qual é que gostaria que fosse a notícia no dia seguinte à visita, ao final da visita do Sr. Bispo.

Poderiam ser muitas, mas eu acho que a nível pessoal teria sido que a visita correu bem e que houve boas conclusões. Mas, enquanto sacerdote, gostava que chegássemos todos à conclusão de que este povo graciosense tem motivos para lutar contra a desesperança e continuar com a esperança e a confiança em Cristo. A sua entrega na cruz não foi em vão: tem de servir para alguma coisa e tem de nos inspirar.Eu acho que esta seria a notícia mais bonita para mim. Significaria que o povo de Deus não desistiu, descruzou os braços e voltou à luta, ao terreno, ao concreto da esperança.

A ilha Graciosa

Esta entrevista poderá ser ouvida na íntegra em www.igrejaacores.pt/podcast no domingo, dia 9 de fevereiro. Vai para o ar depois do meio dia no programa de rádio Igreja Açores, no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores também no domingo.
Scroll to Top