A Secção de Comunicação do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), presidida pelo bispo português D. Nuno Brás, promove a partir de hoje um encontro para assessores de imprensa e porta-vozes sobre os desafios da inteligência artificial.
“Humanidade e inteligência artificial: um olhar o futuro, o compromisso da Igreja” é o tema que motiva a presença de cerca de 30 participantes, das várias conferências episcopais da Europa, para debater o “uso humano da inteligência artificial”.
“Que o uso humano da inteligência artificial não coloque em causa a vida humana e o desenvolvimento do humano”, afirmou D. Nuno Brás em declarações à Agência ECCLESIA.
Para o presidente da Secção de Comunicação do CCEE, a inteligência artificial “está aí” e não vale a pena “clamar contra ela” nem “fazer com que desapareça”, antes é necessário pensar como “tornar humano” este contexto.
Henrique Leitão, que estuda a história da ciência, considera que os tempos atuais “são fascinantes” e colocam-se a todos os setores da sociedade, também à Igreja Católica que “tem um olhar particularmente atento” às mudanças em curso.
“Todos temos olhar para estes desafios, que vão obviamente trazer mudanças nas sociedades, no trabalho, na organização do trabalho e outros provavelmente são um bocadinho hipotéticos e podem estar um pouco exagerados”, afirmou.
Para Henrique Leitão, é possível “tentar perceber o que nos espera a curto prazo, a médio prazo”, mas “a longo prazo é impossível”.
“Tecnologias muito disruptivas têm duas fases: numa primeira fase, fazem muito melhor e mais rápido o que nós já fazíamos. E isto nós conseguimos antecipar e já estamos a ver alguns resultados disso. Mas depois há uma segunda fase que ninguém consegue antecipar”, referiu o cientista.
“Henrique Leitão considera que, “numa segunda fase, as tecnologias começam a fazer coisas e a tratar problemas que ninguém imaginava”, lembrando que quando apareceram os primeiros computadores pessoais “ninguém imaginava YouTube, ninguém imaginada criptomoedas, era inimaginável”.
“Estamos numa mesma situação. Conseguimos mais ou menos ver as transformações nesta primeira fase: muitas tarefas que eram feitas por seres humanos, serão feitas quase a custo zero por máquinas, não todas, mas muitas serão, mas não conseguimos ver a fase para a frente”, sustenta.
Henrique Leitão lembra as alterações no mercado de trabalho, na economia e até em “algumas atividades que eram habitualmente consideradas criativas”, mas alerta: a inteligência artificial não faz uma proposta de verdade, é preciso ter cuidado, ter atenção”.
“É um momento extraordinário para vermos como ser humano cria e reage dentro destas transformações. O importante é conseguir, como em tudo, que elas alinhem com a construção de um mundo melhor, que aproxime mais as pessoas de Deus, que seja mais justo e tenha mais paz. E esta foi sempre a grande preocupação da Igreja”, afirma.
O encontro de assessores de imprensa e porta-vozes das conferências episcopais da Europa decorre até quinta-feira, no Seminário de Alfragide, em Lisboa, e, para além da experiência da comunicação desenvolvida nos vários países, contará também com uma conferência do secretário do Dicastério do Vaticano para a Comunicação, monsenhor Lucio Adrian Ruiz.
(Com Ecclesia)