Habitação e alimentação são prioridades da organização católica em Portugal
A confederação europeia da Cáritas apresentou hoje em Roma o terceiro relatório sobre a crise, no qual denuncia a existência de 133 milhões de pobres na União Europeia e o aumento das desigualdades sociais.
O documento adianta que a situação se agravou com a crise financeira e as políticas de austeridade, analisando em particular os seus impactos na Itália, Portugal, Espanha, Grécia, Irlanda, Roménia e Chipre.
A organização católica sustenta que a resposta a crise acabou por “transferir dinheiro dos pobres para os ricos”, pedindo novas políticas sociais para inverter o atual rumo da União Europeia.
Walter Nanni, responsável da Cáritas italiana, disse em conferência de imprensa que os objetivos assumidos na chamada ‘Estratégia de Lisboa’, que visavam uma diminuição dos pobres até 2020, estão longe de ser concretizados.
“Os pobres deveriam ser 96,4 milhões até 2020, isto é, menos 20 milhões, mas pelo contrário estão a aumentar. É preciso questionar se o medicamento utilizado para curar a despesa pública não matou o paciente”, declarou, durante a apresentação do relatório 2015 da Cáritas Europa, ‘A pobreza e as desigualdades em ascensão: sistemas sociais justos são necessários como solução’.
Este é um estudo sobre as consequências da crise europeia e da intervenção da ‘troika’ nas populações dos países da União Europeia mais afetados pela crise económica, apresentando os “impactos humanos da crise e das políticas de austeridade”.
Os dados mostram que um “número crescente de pessoas lutam contra a pobreza e as desigualdades” e que a crise “tem afetado o acesso aos serviços sociais e de saúde”, prejudicando “a difícil situação das crianças e suas famílias”.
Segundo a Cáritas, a pobreza infantil afeta 28% dos menores da União Europeia, há 24 milhões de desempregados e 9,9 milhões de pessoas vivem em situação de “privação material grave”.
Em Portugal, a «Semana Cáritas» 2015 (1 a 8 de março) vai ter entre as suas principais preocupações as carências alimentares das crianças, jovens e adultos sem esquecer a “explosiva” questão da habitação.
“Tem sido muito sofrimento para as nossas famílias, em termos de austeridade, que se podia ter evitado em termos de intensidade se as opções políticas tivessem sido outras”, disse à Agência ECCLESIA Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas Portuguesa.
Face ao número de pessoas que têm vindo a perder a sua casa, a organização católica vai reunir-se com Governo para pedir “urgentemente” uma medida de corresponsabilidade entre “bancos, Estado e sociedade civil”.
“Nós defendemos que haja um fiador moral, alguém que consiga manter uma distância esclarecida pudesse dizer ao banco e ao Estado que as pessoas não pagam porque efetivamente perderam os recursos que dispunham”, esclarece o presidente da Cáritas Portuguesa.
O presidente da Cáritas apela aos portugueses que sejam generosos nas “dádivas financeiras” e embora reconheça que existem pessoas que já não são capazes de “dar mais” porque têm sido “muito solicitadas”.
Esta é, também, a convicção da presidente da Cáritas diocesana, em Angra, Anabela Borba que, numa recente entrevista ao Sítio Igreja Açores, a propósito do programa de intervenção social-Terra Nostra- apontou “os caminhos estreitos” para ajudar as famílias em necessidade que, “infelizmente são cada vez mais”.
Anabela Borba sublinha que apesar dos esforços mitigadores do Governo há “cada vez mais problemas e mais sérios” pois as ajudas são escassas e “as necessidades quase permanentes”.
Também em São Miguel, a Cáritas da ilha, assiste atualmente cerca de 400 pessoas com necessidades muitos variadas, que vão desde o pagamento de medicação, rendas de casa até ás necessidades mais básicas de alimentação.
CR/Ecclesia