Livro de Teixeira Dias é uma homenagem em registo autobiográfico ao padre António Cassiano
“Eu, Padre, Me Confesso”, de Teixeira Dias, é o título do livro de homenagem ao padre António Cassiano, por ocasião do primeiro aniversário da sua morte.
O livro editado pelas Letras lavadas é uma ‘autobiografia’ do sacerdote natural das Furnas que paroquiou e residiu mais tempo em Vila Franca do campo, onde foi diretor do jornal A Crença.
O historiador recolheu textos e entrevistas de António Cassiano, num total de cerca de 600 textos publicado ao longo de quase duas décadas na A Crença e a partir desta recolha organizou uma publicação, com 50 textos, que serve também de homenagem a um sacerdote que, de forma simples e discreta, tinha um sentido de igreja e de serviço muito peculiar.
“Foi uma pessoa que me influenciou bastante pois era absolutamente coerente com as suas ideias: pregava a igualdade e praticou-a; em vez de ser professor de moral preferiu ser funcionário da casa do povo, esteve no sindicato e defendeu a igualdade. A frontalidade dele em todas as reuniões, na luta em que se empenhou e da qual nunca desistiu, foram exemplares” afirmou ao programa de rádio Igreja Açores Teixeira Dias.
“No livro há duas ou três páginas escritas por mim” refere lembrando que a assinatura é do sacerdote que “infelizmente adoeceu e morreu antes de terminar o trabalho”.
“A origem do livro é simples: convivi com o padre Cassiano durante 45 anos. Após o 25 de abril tornámo-nos amigos porque ambos embarcamos numa viagem em que pugnávamos pela igualdade na sociedade e isso juntou-nos em colóquios, sessões de esclarecimento ações da Igreja, reuniões do CPM e ficámos amigos. Quando ele se reformou projectei fazer um livro com ele, colocando-lhe questões, mas só respondeu às 10 primeiras”.
Um dos textos publicados no livro é a intervenção que teve aquando da comemoração do jubileu sacerdotal, onde assinalou o 50 º aniversário da sua ordenação.
A propósito da pergunta recorrente sobre se nunca se tinha arrependido de ter optado pelo sacerdócio afirmou: “ sim, há momentos em que duvido se terei tomado a decisão acertada, como outros há em que dou graças a Deus por ter feito essa escolha. A verdade é que, para mim, essa já nem é uma questão. Muito menos, um drama. Aprendi e habituei-me a viver psicologicamente entalado entre a satisfação de exercer o ministério e a sensação de perda do que poderia ter sido e vivido se não tivesse sido padre. E essa tensão, por vezes desconfortável e inquietante, sinto-a sobretudo perante duas realidades bem distintas: Por um lado, quando constato que os maiores obstáculos com que deparo no trabalho pastoral vêm não do povo ou da comunidade mas da própria instituição, a Igreja Católica, sua hierarquia, algumas das suas leis e, pior, de alguns dos seus pecados, que os tem, e grandes, como se sabe. Nos anos mais recentes, tem-me valido de consolo o Papa Francisco, os seus gestos admiráveis e as suas posições corajosas”.
E prossegue: “Por outro lado, a dúvida ocorre-me quando tenho oportunidade de conhecer mais de perto casais jovens, com dois ou três filhos, que, logo se vê, constituem famílias unidas e felizes; ou, então, quando vejo na rua crianças, a caminho da escola, de mãos dadas com os avós. Aí, invade-me um sentimento algo indefinido, semelhante a nostalgia, uma espécie de boa inveja, que me põe introspetivo, a falar comigo mesmo: “Estás a ver o que perdeste? Renunciaste ao direito humano, natural, de viver com uma companheira, de constituir família, de ser pai, de ser avô… Achas que valeu a pena?”
Uma pergunta que fica sempre sem resposta conclusiva, porque, dependendo do estado de espírito e das fases da vida, umas vezes respondo que sim, outras que não. Para paz e sossego da minha consciência, tem predominado o “sim”.
O livro foi coordenado pelo Professor Teixeira Dias em articulação com o atual diretor do jornal A Crença, padre José Paulo Machado e com o ouvidor de Vila Franca do Campo, padre José Alfredo Borges.
O padre António Cassiano serviu em Vila Franca durante 45 anos.
(Noticia feita a partir da nota bibliográfica das Letras Lavadas)