Por Carmo Rodeia
Na próxima sexta-feira, há muitos sacerdotes diocesanos que celebram o aniversário da sua ordenação. Para todos vai um abraço grato pela forma como me têm ajudado a crescer na fé, com o seu exemplo e inteireza. Poderia nomear alguns, mas permitam-me que me dirija em particular a um neste artigo que, mais não é, do que uma singelíssima homenagem ao Padre António Rego, pelos 60 anos de sacerdócio, que serão celebrados na Igreja onde foi ordenado e tantos da minha família cresceram na fé e receberam alguns dos seus sacramentos.
Conhecia o padre António Rego das suas pregações e dos seus programas na RTP, em particular o 70X7, a contar sempre histórias de pessoas. Contactei pessoalmente com ele pela primeira vez quando já era aprendiz de jornalismo, e trabalhava em Lisboa, quando o Papa João Paulo II esteve em Portugal e veio aos Açores em 1991 mas, verdadeiramente, só em abril de 2014 pude privar a sério com ele, tendo conversas bem mais profundas e profícuas. Fomos os dois convidados ao Conselho Presbiteral, em Angra, pelo bispo D. António de Sousa Braga porque o tema era a comunicação. Embora convidados para intervir em momentos específicos acabámos por ficar na reunião os dias todos, naquela que foi a minha primeira experiência do género, podendo já na altura testar esta sinodalidade dentro da Igreja, o caminho conjunto, sem que tenhamos de pensar e agir todos da mesma maneira, aceitando as diferenças, partilhando-as e, sobretudo, crescendo com elas.
Este foi o maior ensinamento que tive do padre António Rego nesses dias e em todos os que se seguiram e nos quais fez, e faz, o favor de ser meu amigo. Em Fátima, chegámos a estar juntos várias vezes, a discutir os caminhos da Igreja, do Santuário, cujas peregrinações ele contava como ninguém, e da vida porque tudo está necessariamente ligado na vida de um cristão. Tínhamos de resto um grande amigo em comum: Mário Mesquita, meu professor em tantas cadeiras da licenciatura, tantas quantas as que leccionava na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Os Açores e o gosto que os três tínhamos por estes nove pedaços de terra poderia ser sempre o tema de partida para uma bela conversa, a dois ou a três. Nem que fosse pela beleza da criação destas ilhas…Mas acabávamos sempre a falar de Deus ou da Igreja, o que não é necessariamente a mesma coisa.
Na próxima sexta-feira leremos o evangelho de Mateus- “Não junteis tesouros aqui na terra, onde a traça e a ferrugem destroem, e os ladrões assaltam e roubam.
Ao contrário, juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça e a ferrugem destroem, nem os ladrões assaltam e roubam. Porque, onde está o teu tesouro,
aí estará também o teu coração”. Nem a propósito… Administrar a riqueza é um despojamento continuo do próprio interesse e não pensar que este tipo de riquezas nos proporcionarão a salvação. Este é um dos muitos exemplos que a vida do padre Rego nos ensina, pelo despojamento, integridade e entrega no anúncio à Palavra de Deus, procurando mostrar sempre este Deus que bate à nossa porta e está sempre à nossa espera.
Lembro-me de um dos seus últimos livros- Eterno Agora – Conversas com o Deus de Sempre- que me ajudou a rezar e a descobrir Deus no meu quotidiano de uma forma ainda mais especial porque são orações poemas que nos interpelam, ao ritmo litúrgico, no ciclo anual das nossas vidas, colocando-nos frente a frente com esse Deus cujo conhecimento se tece mais pela via do afecto do que pelas vias legais.
O papa Francisco tem insistido nisso por outras palavras. Perdemos tempo de mais à procura de Deus no labirinto das leis.
Por isso, este artigo servirá apenas para felicitar o padre Rego que à sua maneira e com a profundidade teológica que todos lhe conhecemos tem sido pela palavra e pelo exemplo um anunciador deste Deus belo no espaço da comunicação.
No livro “A ilha e o Verbo”, uma gigante entrevista de Paulo Rocha, seu sucessor na Agência Ecclesia, o Patriarca emérito de Lisboa, o cardeal D. Manuel Clemente, afirma no prefácio: “Em António Rego tudo dá bem com tudo, da terra ao mar, da família à sociedade, da escrita à fala, da Igreja ao mundo. Reparemos na consonância geral do tom, quando versa os mais variados assuntos; reparemos nas palavras que usa, em como as distribui com igual generosidade por pessoas e temas. Porque nunca lhe falta o afeto, que harmoniza profundamente as coisas”.
Não poderia estar mais de acordo. Acrescentaria apenas a empatia que gera em todas as suas relações, traduzidas numa educação, amabilidade e cordialidade invulgares.
Não gosto de falar de pessoas, mas há sempre umas que nos tocam mais do que outras. E num mundo em que é tão fácil juntarmo-nos para dizer mal e deitar abaixo, é bom também vir ao espaço público mostrar o nosso reconhecimento e gratidão por tudo o que essas pessoas especiais nos dão.
Eternamente grata, padre Rego, pelo seu exemplo na Comunicação e na Igreja. Lembrá-lo sempre é também uma oportunidade para mergulhar na minha vocação ao serviço da Igreja, como profissional de comunicação.
Ad multos anos, com muita saúde!
(Este texto foi publicado no Correio dos Açores)