Comissão Coordenadora da Caminhada Sinodal envia instrumento de trabalho, com uma matriz de análise, aos conselhos pastorais das paróquias e das ouvidorias. Movimentos de apostolado e institutos religiosos são também questionados
A Comissão Coordenadora da Caminhada Sinodal na diocese de Angra acaba de enviar a todas as paróquias, ouvidorias, movimentos e institutos religiosos, o instrumento de trabalho que servirá de base a uma reflexão sobre a realidade cultural, sócio-económica e eclesial dos Açores que deve estar concluída até abril do próximo ano, após debate ao nível das estruturais locais e de ilha.
A reflexão agora proposta, que pressupõe várias etapas devidamente calendarizadas- em janeiro ao nível das paróquias, em fevereiro ao nível da ouvidoria e em abril a um nível diocesano- parte de um trabalho realizado por um equipa restrita, coordenada pela Vigário Geral, Cónego Hélder Fonseca Mendes, onde se faz um levantamento do estado da diocese sobre o qual agora importa refletir.
Este documento é composto por três items essenciais: uma análise à cultura contemporânea; um olhar sobre a situação económica e social dos Açores a partir de dados estatísticos e um levantamento de dados sobre a identidade religiosa e eclesial dos Açores.
O objetivo, segundo o comunicado enviado a todas as estruturas da Igreja açoriana pelo Vigário Geral, a que o Sítio Igreja Açores teve acesso, é que “nesta “caminhada sinodal” se consiga elaborar “um documento síntese que dará origem a um conjunto de interpelações feitas à Igreja e à sociedade açorianas”.
Os documentos enviados terminam sempre com um conjunto de questões, que darão aso ao debate interno.
No caso da cultura, as questões equacionadas estão agrupadas em três blocos, que correspondem a três aspetos da cultura contemporânea, sobre os quais a Igreja deve refletir.
O texto base da proposta para reflexão parte da perceção de que há sinais de alerta na sociedade contemporânea, face a uma cultura digital que impõe novos modos de pensar e de agir.
“Que sinais são esses”, como “é que a igreja os deve interpretar”, “qual deve ser a atitude do cristão perante esta nova realidade” são algumas das questões colocadas.
A Comissão Coordenadora da Caminhada Sinodal além de definir datas para conclusão dos trabalhos aponta também estratégias e caminhos definindo o caderno de encargos de cada estrutura da igreja e apela a uma “auscultação generalizada” da sociedade açoriana, incluindo a academia.
No capítulo da realidade concreta sócio-económica o quadro traçado apresenta sinais negativos a partir das estatísticas regionais. Desde o Produto Interno Bruto – “É possível constatar que a evolução nos Açores é francamente positiva, seguindo a tendência nacional, embora com um período de alguma estagnação entre os anos de 2008 e de 2012. Comparativamente, a diferença negativa que existia nos Açores em relação à média do país em 2000 subsiste no ano de 2017”- até aos dados sobre as taxas de natalidade e mortalidade, incluindo a mortalidade infantil, passando pela escolaridade, nível de rendimento disponível das famílias até às questões do emprego e do desemprego, sobretudo feminino e jovem, os católicos açorianos são chamados a pronunciar-se sobre esta realidade e de que forma a Doutrina Social da Igreja oferece ferramentas de intervenção.
“Segundo o Evangelho e a Doutrina Social da Igreja, qual destes «sinais» se distingue nos Açores de forma mais positiva? A que se deve? Segundo as mesmas fontes e critérios, qual destes «sinais» se distingue nos Açores de forma mais negativa? Por que causa? Como Igreja, em que podemos colaborar (e como), no cuidado da «casa comum» e na resposta aos problemas sociais e económicos detetados na nossa Região?” são questões levantadas pela Comissão.
Finalmente, no que respeita à realidade eclesial e religiosa dos Açores, o quadro não é mais positivo: “As nossas comunidades e o todo da nossa Igreja ainda apresentam um rosto muito clericalizado e de pouca participação na sua ação evangelizadora no mundo. Estamos longe de uma Igreja desclericalizada, inculturada nas realidades de vida do nosso meio, “de rosto açoriano”, numa palavra, uma comunidade horizontal, inclusiva, circular, de iguais”.
“Quais os principais apelos e clamores que lançam à Igreja os homens e mulheres das nossas Ilhas e quais os desafios principais que vêm da realidade social e cultural dos Açores hoje?” ou “Porque é que face ao nosso mundo a Igreja, por vezes, se apresenta cansada, envelhecida, desacreditada, triste e sem sonho?” são algumas das questões levantadas.
“Que podemos e devemos “descomplicar” (por exemplo, no aspeto orgânico, administrativo e burocrático) em ordem a uma vivência e ousadia do Evangelho nas nossas comunidades e diocese?
Com o conhecimento que temos da cultura açoriana (para além da religiosidade popular) que aberturas encontramos para o anúncio do Evangelho? Vamos continuar com a visão autossuficiente das paróquias e com um modelo de Igreja que não se coloca em movimento missionário? Que dizemos dos nossos movimentos diocesanos?” são outras das interpelações deixadas pela Comissão.
Recorde-se que a Igreja insular iniciou neste ano pastoral, que começou no dia 6 de outubro, uma `caminhada sinodal` inspirada no lema “A beleza de caminharmos juntos em Cristo”. A par deste documento que interpela as comunidades para um debate profundo sobre a sua própria realidade e a relação Igreja-Mundo, a Comissão envia também um conjunto de subsídios de catequese e liturgia, como a oração da Caminhada Sinodal, que devem ser utilizados por todas as comunidades cristãs do arquipélago.