Estará Cristo Dividido?

Esta é questão levantada pela Semana da Oração pela Unidade dos Cristãos, que este ano se realiza de 18 a 25 de janeiro. Durante estes dias apela-se de uma forma mais intensa ao ecumenismo.

O Conselho Mundial de Igrejas e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos organizam a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que este ano decorre de 18 a 25 de Janeiro, e terá como lema “Estará Cristo dividido?”, uma interpelação conhecida do apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto e transposta à esfera cristã de hoje, que permanece muito dividida.

 

Uma divisão que esteve, aliás, no centro das preocupações do Papa Francisco quando enviou aos 25 mil jovens que participaram no 36º Encontro Europeu da Comunidade de Taizé, que decorreu em Estrasburgo, França, e mencionou “uma terra lacerada por guerras, com incontáveis vítimas, mas também uma terra que traz uma grande esperança, a da construção da Família europeia”.

 

Exorta  Francisco para que  “procuremos  a comunhão visível entre todos os que amam a Cristo”, já que “a divisão entre cristãos constitui um enorme obstáculo para a realização da missão que foi confiada à Igreja”  e que estas divisões acabam “por fragilizar a credibilidade da mensagem cristã”.

 

Aliás, o Concílio Ecuménico Vaticano II reconhece este “escândalo” das divisões entre cristãos e aponta-o como uma das causas do ateísmo prático e que tem por base o mau testemunho dos crentes (cristãos).

 

Mas também aponta um sentido: é mais importante o que nos une do que aquilo que nos separa, importando, para isso, não perder de vista uma hierarquia de verdades .

 

Uma ideia desenvolvida pelo Papa Francisco que a recordou e sublinhou  na sua recente exortação apostólica pós-sinodal “A alegria do evangelho”, quando afirmou que  “todas  as verdades reveladas procedem da mesma fonte e são acreditadas com a mesma fé, mas algumas delas são mais importantes por exprimir mais diretamente o coração do Evangelho”, para depois acrescentar que, neste núcleo fundamental, “o que sobressai é a beleza do amor salvífico de Deus “.

 

A semana da Oração pela unidade dos cristãos visa, justamente, a promoção do ecumenismo, a que na já referida exortação apostólica o Papa dedica três parágrafos.

 

 “Devemos sempre lembrar-nos que somos peregrinos e peregrinamos juntos. Para isso, devemos abrir o coração ao companheiro de estrada sem medos nem desconfianças e olhar primariamente para o que procuramos: a paz no rosto do único Deus”.

 

Francisco reputa de contra testemunho “grave” a divisão entre cristãos, sobretudo na Ásia e em África, afirmando que “os sinais de divisão entre cristãos, em países que já estão dilacerados pela violência, juntam outros motivos de conflito vindos da parte de quem deveria ser um ativo fermento de paz”.

 

O esforço em buscar formas comuns de anúncio, de serviço e de testemunho não é “mera diplomacia ou dever forçado” mas “ é caminho imprescindível”.

 

“O abrir-se ao outro tem algo de artesanal porque a paz é artesanal”, expressa o papa Francisco.

 

“Só para dar um exemplo – conclui Francisco –, no diálogo com os irmãos ortodoxos, nós, os católicos, temos a possibilidade de aprender algo mais sobre o significado da colegialidade episcopal e sobre a sua experiência da sínodalidade”.

 

A escolha deste tema nasce no Canadá, país marcado pela diversidade da língua, da cultura e mesmo do clima, incarnando essas diversidades nas suas expressões de fé cristã.

 

Atendendo às divisões sociais e políticas que nascem das diferenças linguísticas, culturais e regionais, pretende esta iniciativa valorizar o modo como essas identidades nacionais contribuem para uma saudável diversidade.

 

A unidade manifesta-se na abertura da comunidade (comum-unidade) à comunhão (comum-união) e no desafio a abandonar tudo o que signifique divisão.

 

O documento preparatório elaborado no Canadá conclui que “devemos tratar-nos com dignidade e respeito uns aos outros e também à terra em que cada um vive. Este reconhecimento convocou-nos à confissão e ao arrependimento, e a procurar vias novas e sustentáveis de habitar a terra.”

O material que serve de guião celebrativo contém o texto bíblico com a perícope que dá mote à semana, uma introdução ao tema, e uma proposta de celebração ecuménica. Propõe, ainda, reflexões bíblicas e orações para os oito dias. Conclui com a relação dos temas de 1968 a 2014 e uma sinopse das datas fundamentais na história da semana de oração pela unidade dos cristãos.

 

Ecumenismo é um movimento entre diversas denominações cristãs na busca do diálogo e cooperação comum, buscando superar as divergências históricas e culturais, a partir de uma reconciliação cristã que aceite a diversidade entre as igrejas. O diálogo inter-religioso é mais amplo por abranger outras religiões.

 

Recorde-se que em 2008 comemorou-se o centésimo aniversário da Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

 

A edição nacional resulta da iniciativa conjunta do Conselho Português de Igrejas Cristãs e da Comissão Episcopal Missão e Nova Evangelização.

Scroll to Top