Martins do Carmo, 72 anos de idade, 25 de diaconado permanente na diocese de Angra e uma vida inteira dedicada à igreja, que só uma grande paixão afastou do sacerdócio
No próximo dia 8 de dezembro, dia da Imaculada Conceição, a igreja do Santuário de Nossa Senhora da Conceição, em Angra, veste-se de festa para homenagear o mais antigo diácono permanente em funções na diocese de Angra.
25 anos a proclamar o Evangelho fazem de Martins do Carmo, diácono, professor, homem de cultura, uma das vozes mais conhecidas da igreja terceirense, mais que não seja porque todos os domingos através da Antena 1 Açores e do Rádio Clube de Angra ouvimo-lo a proclamar o Evangelho..
“Mãe, esta é a voz da missa “ dizia em tom de espanto uma criança há uns anos na Caixa Económica da Misericórdia de Angra, com ar sorrateiro à mãe, quando na fila ouviu a voz de Martins do Carmo, uma voz “maior que o próprio” como já lhe disseram quando o viram “magro e baixote” e lhe perguntaram ostensivamente “tu é que és o Martins do Carmo? A tua voz é bem maior do que tu. Foi nessa altura que percebi de facto como era insignificante”.
Colaborador do Rádio Clube de Angra e do Jornal a União, Professor no Liceu de Angra, na Universidade, no Instituto Italiano de línguas e no Seminário Episcopal de Angra, lecionou grego, latim, português, filosofia, literatura…ao longo de mais de 25 anos.
25 é, de resto, um número importante das contas da vida deste diácono forjado na escola dos Padres do Sagrado Coração de Jesus (vulgo dehonianos), no Funchal, em Coimbra, em Roma e no Porto.
“Tenho muito orgulho na minha formação. Queria ser padre mas…” outros valores se levantaram que é como quem diz uma paixão, que o levou ao matrimónio, sacramento vedado aos sacerdotes.
“Quando nos preparávamos para a celebração com o Papa João Paulo II, e ele se dirigiu para a capela da Praça de Touros, onde se paramentou, cumprimentou os acólitos e deu-lhes um terço. Quando se aproximou de mim- era muito observador- reparou que eu tinha aliança e perguntou-me se eu era casado. Disse-lhe que sim e ele num gesto imediato disse-me:aqui tens um terço para a tua mulher”.
“Recordo este diálogo brevíssimo como um dos mais importantes e significativos da minha vida”, declarou ao Sítio Igreja Açores quando se prepara para ser homenageado depois de 25 anos ao serviço da igreja, como diácono e de 25 anos ao serviço do Rádio Clube de Angra.
“Vivo com uma enorme saudade desse tempo em que a cultura tinha um C grande”, diz com alguma tristeza mas sem resignação, apenas com a memória de Vitorino Nemésio, a quem um dia foi buscar a Porto Martins, a casa de uma tia e no caminho fizeram um programa a partir da conversa. No dia seguinte o Diário Insular titulava:“Vitorino Nemésio dá lição no Rádio Clube de Angra e o aluno é Martins do Carmo”.
“Os tempos são outros. Os Jovens não leem, buscam na internet mas o que lhes é dado é insuficiente para poderem formar uma opinião”, por isso, “hoje vivemos uma espécie de anemia coletiva”.
“Ainda há pouco, quando me preparava para a missa, ouvia a emissão do Rádio Clube de Angra e até do ponto de vista técnico a emissão estava anémica, cheia de ruído e de cortes”, lamenta Martins do Carmo que não esquece os tempos áureos do rádio.
“Sabe fiz em direto a cobertura da cimeira entre o Nixon e o Pompidou nas Lajes; até traduzi em direto o discurso do presidente Francês, uma insanidade vista a esta distância” desabafa em voz alta lembrando que Pompidou era professor de “clássicas como eu, o que achei muito curioso”; hoje “já não se fazem essas emissões no Rádio Clube de Angra e é pena”. Também “já não há crítica literária, não há a União…os órgãos de comunicação social são a voz e a vontade do povo; quando terminam, o povo acaba por ficar mudo e anémico. É como nós estamos”.
“Não reagimos e das duas uma: ou não fazemos porque não compreendemos ou porque estamos anestesiados. Nenhuma das duas coisas é boa”, remata lamentando que os jornalistas hoje, mais do que mediadores, se tenham transformado em “repetidores”.
O Diácono Luís Rafael Martins do Carmo vai ser homenageado esta terça feira no Santuário de Nossa Senhora da Conceição.
“Sobre isso não sei nada; a única coisa que sei é que ao meio dia há missa e eu vou proclamar o Evangelho”… o resto “não faço ideia”. Como não fazia ideia quando D. Aurélio Granada Escudeiro, que o ordenou diácono a 8 de dezembro de 1990, juntamente com os Padres José Francisco e Manuel Galvão, o convidou para dar umas aulas no Seminário, substituindo o Cónego Piques Garcia que entretanto adoecera.
“Foi uma substituição que se tornou num ´contrato´ permanente” diz sublinhando a importância do Seminário na formação “humana, intelectual e moral dos futuros sacerdotes”.
“Oxalá consigam ser uma espécie de prolongamento da Universidade Católica aqui nos Açores pois qualidade não falta ao Seminário” diz o professor que ainda hoje leciona latim e grego.
Aos 72 anos de vida e 47 de vida na Terceira mantém vivo o sonho de servir Jesus através da palavra e, já agora, ter saúde para poder ver o papa Francisco nesta terra.
“A forma de ser, de estar, de comunicar, de dizer e de ser testemunha são únicas neste Papa. É a encarnação do Cristo que veio para servir, é fantástico. Nós católicos acreditamos que o Espírito Santo preside à Igreja e Ele enviou-nos este homem para o leme. Que maravilha!…)