Por António Pedro Costa.
Regressou ao seu país, o Roberto Mendes, da Obra de Maria, que praticamente durante de 7 anos viveu intensamente a sua missão na Paróquia do Senhor Bom Jesus, conjuntamente com a Andreia e depois com o nascimento cá na ilha da Maria de Fátima. Partiu um amigo, que se tornou amigo de todos com quem ele privava.
Em jeito de despedida, aqui fica um testemunho, partilhado seguramente por tantos e tantas, sobretudo da vila de Rabo de Peixe, pois constituíam uma família inspiradora que durante este tempo, longe do seu Brasil, atravessou o Atlântico para trabalhar na vinha do Senhor, em Rabo de Peixe, que eles também passaram a amar.
Qualquer partida provoca tristeza e neste caso, partiu alguém que é um verdadeiro missionário do amor e que deixa uma marca profunda na Paróquia que serviu com zelo apostólico e espírito de serviço assinaláveis.
Espalhou alegremente paz e serenidade por toda a Vila, com a sua palavra e postura cândida e amiga, inicialmente, por vezes, no meio de ondas revoltas. Semeou amizades que irão perdurar e apesar de algumas incompreensões nunca ter um gesto ou palavra de mágoa.
O Roberto e a sua família deram um bonito testemunho de uma juventude que sabe viver cristãmente. O seu sorriso e o tom tranquilo da sua palavra sábia e carinhosa foram de um verdadeiro missionário que habitou entre nós.
Rabo de Peixe é uma terra de missão. E nem o serviço que prestou foi acolhido na sua plenitude. Todos nós conhecemos a Parábola descrita por S. Mateus no capítulo 13: Certo homem saiu para semear. Enquanto semeava, uma parte das sementes caiu à beira do caminho e os pássaros vieram e as comeram. Outra parte caiu no meio de pedras, onde havia pouca terra. Essas sementes brotaram depressa pois a terra não era funda, mas, quando o sol apareceu, elas secaram, pois não tinham raízes. Outra parte das sementes caiu no meio de espinhos, os quais cresceram e as sufocaram. Uma outra parte ainda caiu em terra boa e deu frutos, produzindo 30, 60 e até mesmo 100 vezes mais do que tinha sido plantado. Quem pode ouvir, ouça.
É isto mesmo a ação apostólica fecunda que a Obra de Maria tem vindo a fazer nesta seara em que faltam os trabalhadores.
Por seu lado, o Roberto e a sua família são um testemunho vivo da simplicidade, nos caminhos da santidade. Somos ávidos na procura de sinais e muitas vezes eles estão ao nosso lado e nós não nos apercebemos deles. Mas só agora na partida percebemos melhor que eles foram sinais tangíveis e instrumentos privilegiados que Deus, bondosamente, colocou nos caminhos da Vila.
Para além de tudo isto, ele revelou-se um excelente gestor dos assuntos paroquiais e eis que, com toda a sua dedicação, arregaçava as mangas e era o primeiro para, por exemplo, pegar no pincel para pintar as paredes ou as janelas do Salão Paroquial. Quem passava na estrada via-o como mais um trabalhador que ali se encontrava e fazia-o sempre com espírito de missão.
Por isso, neste momento de partida aqui se deixa uma palavra de eterno agradecimento. Partiram seguramente com Rabo de Peixe no coração, mas levaram também no seu coração a sangrar o agradecido povo de Rabo de Pexe. No momento de despedida, foi precisamente isto que se sentiu, pois a sua voz embargada, ao receber uma pequena coroa do Divino Espírito Santo, símbolo maior da nossa identidade cristã, tão peculiar das tradições de cada habitante destas ilhas.
E é de pessoas como o Roberto e da sua família que a Igreja precisa, que viviam aqui em total desprendimento, com simplicidade, alegria e proximidade, em que o lema de vida era sempre o mesmo: Deus provê, Deus proverá e a sua misericórdia não faltará.
Bem hajam Roberto, Andreia e Maria de Fátima por tudo o que foram neste Rabo de Peixe, terra onde o seu altar dedicado ao Senhor Bom Jesus, é o cenário insondável e misterioso que inspirou a criação da Obra de Maria.