Pelo Padre Marco Luciano Carvalho
Estamos a atravessar um momento muito difícil. A urgência da nossa tarefa e missão de pastores diz-nos que devemos continuar a alimentar a fé, a esperança e a confiança das nossas comunidades. Temos que continuar a viver e a darmos razão de ser da nossa esperança com a certeza que dias melhores virão. A contrastar com esta linha de pensamento, o pior que nos poderia acontecer neste momento, seria não estarmos atentos ao “grito das ovelhas”, ao “grito do Mundo”… é doloroso caminhar sem uma palavra de confiança, é tenebroso não ouvir um simples “estou aqui”! Neste momento que é de dificuldade e expectativa para todos nós, seria uma enorme perda de tempo estarmos angustiados e a pensar no que seria para fazer no normal da vida pastoral se não fosse esta pandemia. Ficarmos nesta situação, seria alhear-nos do mundo real que precisa mais da nossa palavra do que dos nossos calendários e programas pastorais.
Não vamos perder de vista algumas palavras, tais como “Quaresma”, “interioridade”, “espiritualidade”, “amizade”, “unidade”, “ajuda”, “generosidade”… mas, para além destas palavras que pertencem ao léxico da gramática do cristão, a ciência diz-nos na sua hábil forma de interpretar o comportamento humano, que não nos devemos alhear do mundo e dos problemas em que estamos mergulhados. A isso chama-se “evasão”, “alheamento”, “insensibilidade”… uma espécie de esquizofrenia, em que se divide o mundo e a pessoa, como se divide a mente. A isto chama-se viver numa espécie de esquizofrenia e alheamento eclesiástico, pensando que aquilo que o calendário e que a pastoral rotineira é que será para nós uma bóia de salvação. Pensar assim será cair num poço vazio, onde não há lugar ao transcendente, onde não há lugar à pessoa, onde o vazio dá lugar ao nada. Nós Igreja temos que nos reinventar pois existem muitas sedes para saciar.