Agrupamento mais antigo na Terceira tem 91 anos e é dirigido por uma mulher
Cláudia Machado é a primeira mulher em 91 anos a dirigir o Agrupamento 23 do CNE da Praia da Vitória, o mais antigo da ilha Terceira e um dos mais antigos nos Açores. Acaba de participar nas festas do centenário do Movimento, em Braga e sublinha a importância do ambiente e dos valores escutistas na vida de uma pessoa.
“Em Braga só se respirava escutismo. Foi uma experiência única, quase do outro mundo. Foi muito intenso e muito importante” disse ao Igreja Açores, numa entrevista que pode ser ouvida na íntegra no programa de rádio este domingo depois do meio-dia, na Antena 1 Açores e no Rádio Clube de Angra.
“É muito bom participar num movimento que ajuda as pessoas a serem melhores e, sobretudo a contribuírem para uma sociedade melhor. Não tenho dúvidas de que quando se encontra um escuteiro encontra-se uma pessoa diferente”, refere ainda.
No último fim de semana de maio, o Corpo Nacional de Escutas (CNE) celebrou o centenário da sua chegada a Portugal e juntou mais de 20 mil escuteiros naquele que foi o maior Fogo de Conselho realizado em Portugal.
Estiveram representadas todas as regiões do país e “nenhum evento do CNE teve tanta adesão como a celebração do Centenário” afirmou à agência Ecclesia Henrique Ramos, responsável de comunicação do Movimento, que conta com 70 mil associados em todo o país.
Nos Açores existem 97 agrupamentos: 864 lobitos, 797 exploradores, 553 pioneiros, 294 caminheiros e 782 dirigentes, num total de 3290 escuteiros, divididos por sete núcleos nas nove ilhas dos Açores. O mais novo é o agrupamento 1289 de Porto Martins, também na ilha Terceira. Surgiu em 2005, 4 anos depois do Porto Martins se tornar freguesia.
“Em 2019, com pouca atividade, reuniram-se 10 adultos para devolver vida ao agrupamento. Em 2021 começámos a trabalhar com crianças, com 30 pessoas. Atualmente temos 47 elementos” referiu ao Igreja Açores, Luís Morais, chefe do Agrupamento.
O CNE nos Açores é, tal como no país inteiro, o movimento com maior mobilização juvenil.
João Carlos Tavares, presidente da Junta Regional há seis anos e candidato a mais três, sublinha que a pandemia afectou o movimento mas ainda assim, a caminho dos cem anos, que se celebrarão em 2025, o movimento está robusto
“O grande desafio é criarmos um centro de formação em todas as ilhas e com eles um quadro de dirigentes formadores para dar resposta às exigências do próprio movimento em termos nacionais e internacionais , de forma a preservarmos a ideia do movimento escutista como um movimento seguro” referiu ao Igreja Açores.
“Este é um movimento que continua muito atual e tem um papel fundamental na sociedade” acrescentou.
Inês Medeiros é escuteira há 9 anos. Pertence ao Agrupamento 344 das Lajes e é caminheira, talvez uma das etapas mais difíceis pois coincide com a idade em que os jovens ingressam na Universidade e ficam mais afastados dos seus lugares de origem e, consequentemente, dos seus agrupamentos.
“Ser escuteira é não ser nada e ser tudo ao mesmo tempo: o outro está sempre ao nosso lado e deve estar sempre na nossa prioridade. É um projecto de vida muito especial, porque vivemos o mundo de maneira muito diferente” refere a jovem.
Como? “Essencialmente somos uma família; tornamo-nos cidadãos diferentes, aprendemos valores diferentes: a questão material é mesmo secundária porque uma das coisas que aprendemos logo é que com pouco podemos fazer muito”.
“O movimento traça diferenças de personalidade em relação a outras realidades sociais: há uma conexão muito importante com a Igreja, pessoas mais presentes, não interessa o que se recebe em troca porque todos estão comprometidos com o bem de todos”, conclui Inês Medeiros.
Ainda assim, há dirigentes que estão preocupados com o futuro.
“Este movimento traz-nos muitas responsabilidades: queremos deixar o mundo melhor e para isso temos de ajudar os jovens a serem melhores” diz, por seu lado, Nelson Gonçalves, dirigente.
“Sou dirigente há mais de 30 anos e noto uma diferença muito significativa entre os primórdios do agrupamento e os dias de hoje. Os miúdos estão mais comodistas, agarrados às novas tecnologias, têm menor capacidade de improviso o que faz com que nos desinstalemos ainda mais para podermos cativar as gerações atuais” refere sublinhando o esforço que estão a fazer, por exemplo, para através das novas tecnologias “devolverem os jovens à natureza que é o principal motivo de ligação do CNE”, refere em declarações ao programa de Rádio Igreja Açores, que este domingo será inteiramente dedicado aos escuteiros, a partir da ilha Terceira.
O grande evento do CNE este ano nos Açores é o VIII ACARAL dos Açores- Agrupamento de Alcateias, envolvendo crianças dos 6 aos 10 anos de idade. Realiza-se nas Lages do Pico, de 5 a 10 de julho.
O Corpo Nacional de Escutas – Escutismo Católico Português – nasceu em Braga a 27 de Maio de 1923. Foram seus fundadores o Arcebispo D. Manuel Vieira de Matos e Avelino Gonçalves, que em Roma mantiveram os primeiros contactos com o Movimento, quando ali assistiram, em 1922, a um desfile de 20.000 Escutas, por ocasião do Congresso Eucarístico Internacional que esse ano se realizou na Cidade Eterna.
A 26 de Maio de 1924 é publicado o Decreto-lei n.° 9729, que confirma a aprovação dos estatutos e alarga a todo o território Português o âmbito da Associação. Em Janeiro de 1925, reuniu em Braga, pela primeira vez a Junta Nacional com: D. Manuel Vieira de Matos, Director Geral; D. José Maria de Queirós e Lencastre, Comissário Nacional; Dr. Avelino Gonçalves, Inspector-Mór; Cap. Graciliano Reis S. Marques, 1.° Vogal e Álvaro Benjamim Coutinho, 2.° Vogal.
O Movimento estende-se de Norte a Sul de Portugal e, como meio de informação entre todas as Unidades apareceu em Fevereiro de 1925 o 1.° número do jornal “Flor de Lis” que mais tarde, em Janeiro de 1945, se apresentava em forma de Revista.
Os últimos quinze anos ficam marcados por uma grande expansão do Escutismo e aumento dos efectivos, em todo o continente e regiões autónomas.
Novas áreas são desenvolvidas. A do ambiente com a inauguração em 1988, do Centro Nacional de Formação Ambiental, em S. Jacinto, com toda a gama das mais diversas campanhas, onde se destaca a de “Um Milhão de Árvores”.
Campanhas como a do calendário escutista, a do seguro escuta, a da sede própria e outras vêem, concretizar o nosso património.
A nível pedagógico dá-se realce ao aparecimento das metodologias educativas das quatro secções, livros, revistas, fichas e manuais.
Rover’s, encontros e fóruns de caminheiros, expansão do Escutismo Marítimo, a forte sensibilização do Escutismo de integração, são pontos fortes na vida da associação.
Os últimos três Acampamentos Nacionais, como o de Bagunte em 1987, o do Palheirão em 1992, em que o governo atribuiu a Ordem de Mérito, como reconhecimento do CNE junto dos jovens Portugueses e o de Valado de Frades em 1997, constituíram pontos altos na vida da Associação e dos milhares e milhares de jovens participantes.
Como resultado destes eventos foi a presença maciça no Jamboree da Holanda em 1995 e do Moot na Suécia em 1996 que são bem o testemunho do grande desenvolvimento que ocorre a todos os níveis.
Seminários como o da Família em 1994 e o congresso “Valores e Missão” em 96/97, concretizam a forte maturidade e implantação do Escutismo Católico em toda a sociedade portuguesa.
(Informações sobre a história do CNE retiradas da página online do Movimento)