O cardeal Konrad Krajewski, enviado especial do Papa à Ucrânia, esteve esta segunda-feira em Izyum, recentemente recuperada pelas forças de Kiev, junto de valas comuns com centenas de pessoas.
“Não há palavras, não há lágrimas”, disse o presidente do novo Dicastério para o Serviço da Caridade (Santa Sé), a cumprir a sua quarta missão em território ucraniano desde o início da invasão russa, a 24 de fevereiro.
O responsável do Vaticano chegou a Kharkhiv, onde se encontrou com o bispo diocesano, D. Pavlo Honcharuk, seguindo juntos para Izyum.
“Ali assistimos a uma ‘celebração’ – podemos dizer – onde 50 jovens, principalmente polícias, bombeiros, soldados vestidos com macacões brancos, cavaram e retiraram das sepulturas, muitas vezes comuns, os corpos dos pobres ucranianos mortos, alguns há três, quatro meses, alguns recém-sepultados”, relata.
“A guerra não conhece misericórdia, também há os mortos. Claro, ver tantos numa área é uma coisa difícil de dizer, de explicar”, acrescenta.
Cerca de 450 sepulturas foram localizadas nas proximidades de Izium, na área libertada pelas tropas ucranianas de Kharkiv na última semana.
A presidência checa da União Europeia defendeu a criação de um tribunal internacional para crimes de guerra, após esta descoberta, com alguns dos corpos exumados – entre eles civis, incluindo crianças – mostrando sinais de tortura.
O cardeal Krajewski mostrou-se emocionado perante o cenário que encontrou e a “celebração da misericórdia” pelos mortos, durante várias horas.
“Houve uma coisa que me tocou muito: os jovens ucranianos retiraram os corpos de uma maneira tão delicada, tão silenciosa, totalmente silenciosa”, indicou.
O enviado do Papa visitou ainda uma esquadra da polícia, transformada em câmara de tortura.
“Sabia que iria encontrar muitos mortos, mas conheci homens que mostraram a beleza, às vezes escondida nos nossos corações. Eles mostravam uma beleza humana no lugar onde só poderia haver vingança”, declarou.
D. Konrad Krajewski chega hoje a Kiev, regressando depois a Roma.
(Com Ecclesia)