Promotor Judicial diz que esta fase romana é também um sinal de esperança para a Diocese e para os diocesanos que tanto estimam esta causa da jovem mártir

Foi entregue esta manhã na Chancelaria do Dicastério das Causas dos Santos, no Vaticano, ao seu responsável Federico Favero, o processo diocesano em ordem à beatificação da jovem mártir terceirense Maria Vieira.
“Estou bastante satisfeito pois o culminar da fase diocesana e agora o início da fase romana é uma forma de darmos continuidade e credibilidade ao nosso trabalho na diocese. Levar esta causa, e quem sabe abrir outras, é também dar um sinal de esperança, sobretudo aqueles que encontram nestes exemplos um alimento para a sua esperança” disse esta manhã ao sítio Igreja Açores o cónego Hélder Miranda Alexandre, visivelmente satisfeito por ter entregue todo o processo que constitui a primeira causa açoriana em Roma.
“Já era tempo da nossa diocese apresentar uma causa junto do Vaticano. Estou certo que existirão muitos santos nos Açores e, por isso, era bom que pudéssemos avançar com outras causas, como pro exemplo a de Madre teresa D´Anunciada” disse ainda o Promotor Judicial da causa do processo de Maria Vieira, que sublinhou o auxílio de Monsenhor António Manuel Saldanha, secretário do Studium do Dicastério das Causas dos Santos.
Uma vez entregue o processo no Vaticano, agora o passo seguinte será a nomeação do postulador, que não poderá ser nenhum oficial interveniente no processo na fase diocesana e terá que observar duas exigências: ter morada em Roma e frequentar o curso de postulador.
Depois da nomeação do postulador e uma vez entregue o processo no Dicastério, toda a documentação será estudada e avaliada, será desenvolvida a Positio, documento fundamental para o reconhecimento das virtudes heróicas em ordem à beatificação. Como o fundamento para esta causa é o martírio poderá ser dispensada a prova de existência de um milagre para a sua beatificação.
Filha de Júlio de Sousa da Silva e de Isabel Vieira da Silva, casal católico que soube incutir nos seus filhos o amor a Deus e aos irmãos, desde cedo aprendeu a colocar toda a sua vida ao serviço da vontade divina. Aos seis anos já frequentava a catequese ministrada pelo pároco, o Padre Joaquim Esteves. Fez a primeira comunhão e a comunhão solene, rezava todos os dias o terço em família e era cumpridora dos princípios e orientações da fé católica.
Do processo judicial que se seguiu à sua morte, e que acabou por condenar o autor do crime, realça-se a sua morte como defesa da sua honra.
O entusiasmo por este processo percorreu três episcopados, mas só em fevereiro de 2018, D. João Lavrador deu indicações para o processo andar com a nomeação da Comissão Histórica e da Comissão Teológica, o que permitiu chegar agora a esta fase final.
“O trabalho desenvolvido foi muito sério e procurámos eliminar tudo aquilo que fosse subjetivo e pudesse adulterar a verdade dos factos”, conclui o Promotor de Justiça.
A história de Maria Vieira era em tudo semelhante à de Maria Goretti uma menina Italiana de 12 anos que no final do século XIX perdeu a vida a defender a sua virgindade e que sete anos após a morte de Maria Vieira, foi beatificada pelo papa Pio XII, que haveria de a canonizar Santa Maria Goretti em 1950.
Tal como a nova santa Italiana também Maria Vieira perdeu a vida a defender-se de um agressor que lhe queria roubar a pureza, falecendo a 5 de junho de 1940. O povo da Terceira, comovido com a história, sobretudo com a capacidade de perdão por ela evidenciada, começou de forma individual a pedir a intercessão da jovem sempre que se via em aflições e a sua fama de santidade começou a espalhar-se pela voz popular.
Vários anos depois a própria paróquia de São Sebastião, de onde Maria Vieira era natural, solicitou à diocese que pudesse estudar o caso para iniciar um processo de beatificação. Nos anos 90 do século XX houve pelo menos duas tentativas por parte da paróquia junto de D. Aurélio Granada Escudeiro, mas a abertura do inquérito não seguiu em frente.
Em 2007 foi entregue ao bispo D. António de Sousa Braga uma petição para a introdução da causa de beatificação/canonização da Serva de Deus Maria Vieira, da autoria do pároco da altura, o padre Jacinto Bento, suportada em decisão unânime pelo Conselho Pastoral Paroquial, de 10 de dezembro de 2007. Mas, novamente não houve qualquer decisão da autoridade eclesiástica. Só em 2018 é que, diante de novo pedido do pároco, se dá inicio ao processo que agora chega ao fim na sua fase diocesana, tendo ainda um longo caminho para percorrer até haver qualquer decisão.
A paróquia de São Sebastião chegou a ter um grupo de pessoas para angariar fundos para o inicio da causa, já que a falta de recursos financeiros e humanos foi invocada para não se avançar na primeira década do século XXI. Hoje volvidos 85 anos desde a morte de Maria Vieira, muitas das pessoas que se bateram pela abertura do processo vêem com muita satisfação o final da fase diocesana de um processo há muito desejado.