Encíclica do papa João Paulo II suscita debate sobre a verdade, alimentada pela razão e pela fé

Fotos: Igreja Açores/CB

“A fé e a razão são duas asas que elevam o homem para o conhecimento e a busca da verdade”- José Luís Brandão da Luz

O Instituto Católico de Cultura, em parceria com o Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, promoveu uma tertúlia em torno da Carta Encíclica “Razão e Fé”, do Papa João Paulo II, com a participação de José Luís Brandão da Luz, Professor Catedrático Jubilado da Universidade dos Açores, e moderação de Carmo Rodeia, no dia 12 de dezembro, no Coro Alto do Convento da Esperança.

“Fides et Ratio” (Fé e Razão) é uma Carta Encíclica publicada por João Paulo II a 16 de setembro de 1998 e centra-se no tema da verdade. Embora no seu 25º aniversário, o documento não tenha suscitado grandes referências, o professor Brandão da Luz fez uma reflexão sobre este texto do Magistério, publicado no blogue Azorean Torpor, no dia 21 de setembro de 2023 e esta terça-feira partilhou o seu pensamento sobre o tema.

“A encíclica começa por falar do desejo espontâneo em todo o homem de conhecer a verdade, ao mesmo tempo que apresenta a fé e a razão com a sugestiva imagem de duas asas que o podem elevar até ela” começa por explicar o catedrático jubilado.

“A ideia de homem capaz de dominar o mundo, manipulando-o e criando-o à medida, sem o labor operativo da razão, mas pelas virtuosidades da inteligência artificial, confrontou-se com a dura fragilidade do eclodir da pandemia, que ainda nos aflige, e os conflitos que devastam a humanidade e ameaçam a Europa. No apogeu das crises, sem dispor de algoritmos que as detivessem, veio ao de cima a ancestral ideia de que as luzes que poderão iluminar o futuro do mundo estão para além dos algoritmos e de uma racionalidade apoiada apenas na potencialidade discursiva dos seus quadros operativos” afirmou ainda, tal como no texto que escreveu em setembro passado.

“O que está aqui em causa é que a fé e a razão são duas asas que elevam o homem para o conhecimento e a busca da verdade. A fé está dentro da razão” disse ainda o catedrático jubilado.

“A razão, tal como a nomeamos, é mais teorética, lógico dedutiva mas não deixa de orientar a vida das pessoas, calculando  o que é melhor em cada situação e orienta-se segundo objectivos e valores” mencionou.

“ O que há de específico no homem é conhecer uma natureza racional que o projecta para além do cálculo; é uma razão que nos projecta para além do aqui e agora,  para o domínio do transcendente; é uma espécie de sondagem do absoluto, que nos põe em contacto com a dimensão da fé” disse ainda.

“A fé situa-se no âmago da razão, aberta à busca do sentido e do significado” o que no mundo fragmentado como o que vivemos “torna tudo mais relativo” e é aí que este mundo choca com a Igreja.

“O que é a verdade, o bem, a justiça e o amor…Muitas das concepções são datadas e produto de um conjunto de conceitos que hoje não nos dizem muito” explicou sublinhando que o “discurso da Igreja precisa ser repensado”, com uma linguagem mais “sugestiva e concreta”.

José Luís Brandão da Luz é professor catedrático aposentado da Universidade dos Açores, onde foi vice-reitor. Licenciado e doutorado em Filosofia, tem publicado trabalhos no âmbito da epistemologia e filosofia em Portugal. É membro da Academia das Ciências de Lisboa, do Instituto de Filosofia Luso-Brasileira e do Instituto Cultural de Ponta Delgada.

A sessão começou com uma palavras de boas-vindas por parte do Reitor do Santuário, Cónego Manuel Carlos Alves.

“É um bom sinal esta parceria. Importa que este espaço esteja povoado, com actividades, porque o santuário é um espaço que respira espiritualidade, liturgia com certeza, mas espiritualidade” disse o Reitor.

“Existe também um espaço de reflexão, neste caso com uma ideia acrescida a relação entre a fé e a razão, isto é, um diálogo entre a Igreja e a cultura”, disse ainda referindo que é seu objectivo proporcionar a fruição deste espaço que é o Convento às crianças para que conheçam o lugar, o culto e tenham amor a este espaço, aprofundando as suas raízes…É com alegria que vos acolho”, concluiu.

Esta iniciativa do Instituto Católico de cultura insere-se no seu programa de actividades para o ano pastoral em curso.

 

 

 

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