Por Carmo Rodeia
Os católicos portugueses vivem por estes dias a 43ª Semana Nacional das Migrações, com a habitual peregrinação internacional de migrantes em Fátima.
A peregrinação ao Santuário tem por lema “Formamos um só corpo” acentuando que a igreja, migrante por natureza, tem uma orientação humanitária, evangélica, de acolhimento e já agora de integração que importa desenvolver e potenciar.
Esta semana acontece num momento particularmente tenso.
Em Portugal e na Europa, onde nos últimos sete meses chegaram 224 mil migrantes e refugiados.
Ao país deverão chegar nos próximos dias 1500 refugiados sírios. Fazem parte da quota portuguesa no âmbito da resposta que a União Europeia está a dar ao problema da guerra no médio oriente. Uma resposta que tarda e que, às vezes, parece enjeitar as profundas raízes cristãs, como se tratasse de uma luta contra a sua própria história, tão bem espelhada no muro da vergonha que alguns estados membros da União pretendem erguer para barrar a entrada de imigrantes.
Deus criou o mundo como a “Casa comum” de todos os homens. Porque é que alguns insistem em esquecer isto e se armam em donos do “seu” mundo, num individualismo gritante como se mais nada contasse para além deles próprios e de outros como eles?
Por medo? Por ignorância? Por dificuldade? Por incompreensão? Ou por interesse?
Portugal, e os católicos portugueses em particular, podem ser importantes neste recontar da história dos nossos dias.
Somos 10 milhões de habitantes, mais coisa menos coisa. E temos 900 anos de história como Estado, durante os quais fomos capazes de construir três impérios e globalizarmo-nos.
Quando iniciamos esse processo, a seguir ao Mestre de Avis, abrindo as portas ao mundo, fomos terra de migrantes, em nome da globalização, embora na altura não houvesse essa consciência. Pelo menos nestes exatos termos. Em momentos mais difíceis emigramos sem desistir de lutar. Na maioria dos casos soubemos integrar-nos com sucesso.
Hoje, apesar de todas as crises e dificuldades, continuamos a ser um país de migrantes, onde coabitam pessoas de mais de 150 nacionalidades que constituem cerca de 5% da população residente.
Esta realidade colocou-nos e continua a colocar enormes desafios. Desde logo porque a diversidade de proveniências levanta outras questões, a começar pelo fenómeno religioso, expresso de forma cada vez mais visível a partir de novas confissões religiosas.
Esta realidade requer novas interações e abordagens para garantir uma maior coesão social e, sobretudo, responder à emergência de uma sociedade portuguesa mais intercultural, que concilie estruturas da sociedade de acolhimento e dinâmicas das novas comunidades, que insistem em manter, e bem, a sua identidade. Mas nunca por nunca ousemos abdicar do que é nosso, como tem acontecido noutros países da União.
Acolher e integrar não significa abdicar. De valores, de costumes e das nossas raízes, como aconteceu em muitos estados da União Europeia, que puseram de parte símbolos e valores em nome da convivência plural.
Hoje, são os primeiros a fecharem-se a estes novos fluxos migratórios, com medo. E não são certamente apenas razões económicas a ditarem esse medo.
Numa entrevista ao Sítio da Internet do Santuário de Fátima, o Bispo das Forças Armadas, D. Manuel Linda, que preside à peregrinação deste ano apelou a que o projeto de Deus se “sobreponha aos regionalismos humanos”.
Portugal, estado pequeno no contexto europeu, pode ensinar ao mundo como se acolhe, mas sobretudo como se integram estes novos portugueses, que um dia hão-de ser europeus. Basta haver vontade e seguir quem já o faz por razões de dignidade humana, à luz da fé.