No Dia da Mãe o Igreja Açores falou com a advogada micaelense, mãe de três filhos, catequista na paróquia de São José em Ponta Delgada
Educar os filhos na fé é porventura uma das tarefas mais desafiadoras da parentalidade que Maria do Sameiro Mesquita Gabriel compreende na perfeição. Mãe de três filhos- dois rapazes e uma rapariga, com 25, 24 e 21 anos, respetivamente-, a advogada micaelense reconhece que caminhar e educar na fé é uma tarefa simultaneamente “simples e dolorosa”.
“Quando são mais pequenos é mais fácil. Eduquei os meus filhos na fé- todos fizeram o Crisma-; com o crescimento é difícil a transmissão da fé. É, talvez, um dos desafios mais complicados” reconhece ao sublinhar que à medida que vão crescendo vão criando uma individualidade que tem de ser respeitada; uma forma de pensar que tem de ser atendida.
“Aceitar o espaço e a liberdade deles, a forma de pensar diferente é toda a uma aprendizagem que nos ensina muito também. Apesar de eu ser uma pessoa comprometida, hoje eles não têm a mesma experiência” adianta.
“Foram criados em ambiente católico mas não vivem da mesma forma que eu vivo a minha fé” esclarece antecipando que isso também não é um problema.
“Sinto que lhes transmiti todas as bases para viverem a sua fé; os valores estão lá e isso manifesta-se no seu comportamento” independentemente das vezes que vão á Igreja.
“O respeito, a atenção aos mais frágeis, a tolerância… são valores cristãos que estão lá” frisa.
“Eu às vezes brinco e digo que os meus filhos foram educados à moda antiga porque eu tive tempo para eles. Recordo muito a infância deles, quando brincava porque tinha tempo para o fazer. Hoje há muitas mulheres que não têm”, reconhece lembrando aspectos como os baixos salários, a precariedade laboral ou até um certo individualismo que grassa nas famílias, muito presas “à cultura do sofá que as torna muito ligadas ao écran e a si próprias”.
“Quando olho em perspetiva vejo que as pessoas estão mais individualizadas; o silêncio impera porque as pessoas estão agarradas aos seus écrans e vivem de forma própria” sublinha ao salientar que não é “só isso” que dificulta a maternidade.
“A minha experiência de mãe foi muito contextualizada: o viver numa ilha pequena, ter apoio de retaguarda com empregada, pais que me ajudaram a ter tempo para os meus filhos” reconhece. No entanto, também afirma que durante 15 anos suspendeu a carreira na advocacia procurando uma atividade profissional que lhe desse mais estabilidade de horários e tempo livre para cuidar dos filhos.
“Normalmente é sempre a mãe que é mais penalizada na vida profissional, mesmo quando marido ajuda e colabora nas tarefas”, apesar de hoje “as novas gerações já estarem a mudar um pouco isso”.
“Não há receitas fáceis” diz ao destacar que educar vários filhos “ é mais fácil”.
“As regras são melhor aceites, educam-se uns aos outros e respeitam mais os limites dos pais”, refere frisando que o grupo familiar alargado tem mais vantagens.
A entrevista de Sameiro Mesquita pode ser ouvida no programa de Rádio Igreja Açores, este domingo, Dia da Mãe, a partir do meio dia no Rádio Clube de Angra e na Antena 1 Açores.