Membros da Igreja Metodista, Igreja Lusitana e Igreja Católica falam do caminho de diálogo e união que têm feito em Portugal.
Três membros das Igrejas cristãs que no sábado vão assinar a declaração que reconhece mutuamente o Batismo assumiram à Agência ECCLESIA, que gostariam de ver uma posição conjunta mais firme em termos sociais.
“O tempo dos abraços e de dizer ao outro que nos amamos na diferença está feito”, sublinha o reverendo Fernando Santos da Igreja Lusitana (Anglicana), que lamenta “alguma inércia”, “coragem ou força” para um testemunho comum.
O historiador João Luís Fontes, católico, acredita que “no silêncio”, algumas ações vão acontecendo mas, afirma que as estruturas que coordenam a ação social nas diferentes Igrejas, “deveriam ter uma palavra conjunta e firme” para este tempo de crise que Portugal atravessa.
A pastora Eva Michel, da Igreja Metodista e Presbiteriana, reconhece o caminho feito quando no início se constituiu um grupo com jovens e que hoje são, por exemplo, “o bispo da Igreja Lusitana ou da Igreja Metodista”.
É o respeito que está na base da construção dos guiões que propõem para as celebrações ecuménicas realizadas em Portugal.
“Há uns anos a Igreja Católica propôs introduzir o incenso numa vigília, algo natural nas suas celebrações, mas estranho noutras Igrejas”, recorda o membro da Igreja Lusitana, acrescentando não ter sido “uma batalha” mas um passo em frente na compreensão das diferenças.
“Não gosto do termo tolerância. Trata-se de respeito profundo que se tem pelo outro e de encontrar elementos que afinal nos unem”, acrescenta reverendo Fernando Santos.
Também a pastora Eva Michel recorda o episódio de uma participante da Igreja metodista numa celebração ecuménica, que decorreu num espaço católico, onde as imagens de santos causaram espanto.
“A partir desta experiência surgiu uma reflexão, onde eu aprendi, no diálogo com irmãos católicos e ortodoxos, a apreciar esta presença porque me recorda que nós, que neste determinado momento estamos na Igreja, fazemos parte de uma comunidade maior que é o corpo de Cristo”, precisa.
Sobre os desafios familiares que o ecumenismo lança, o reverendo Fernando Santos recorda o seu testemunho: oriundo de uma família católica, tem um sobrinho que vai ser ordenado sacerdote na Igreja Católica.
“Esse meu sobrinho, fazendo a sua formação e sabendo que tem um tio presbítero anglicano, uma vez desabafou, com alguma tristeza, que quanto mais caminhava no processo vocacional, mais se afastava de mim. E a mãe disse-lhe: «Não digas isso, porque vocês são o sinal de que é possível amarem-se mutuamente, mesmo na diferença»”, relata.
João Luís Fontes, pai de dois filhos com oito e cinco anos habituados a participar em celebrações ecuménicas, acredita que o melhor testemunho que se pode dar é perceber que “todos somos gente à procura”.
As comunidades são desafiadas a responder a uma realidade crescente de famílias com diferentes confissões religiosas.
A pastora Eva Michel que, juntamente com um sacerdote católico presidiu a um casamento ecuménico, indica que nestes casos “a oração, a vida e os projetos que se constroem são mais importantes” do que a diferença.
Sobre o ritual, a pastora metodista indica que os celebrantes partiram do rito católico, acrescentando “alguns elementos próprios da tradição protestante”, mas não encontraram nada que tivessem de “riscar”.