“Ecos” do Conselho Presbiteral (4) Fazer Pastoral nos Açores hoje: Evolução e Revolução

Por Monsenhor José Constãncia

Da vivência real da Assembleia do Conselho Presbiteral deste ano e do seu “comunicado final” podemos concluir que a nossa vida de presbíteros numa Igreja renovada nos Açores pede que entremos numa grande conversão teológica, espiritual e formativa como processo permanente e realista.

A ciência e a arte que edifica a Igreja como povo de Deus, comunidade ministerial, evangelizadora e missionária chama-se pastoral. Devemos falar mesmo na nossa Igreja Local de uma Teologia Popular Açoriana que diga o que é ser cristão nestas ilhas, assim como de uma Teologia Prática, ou pastoral açoriana que faça a incarnação nas realidades de vida dos nossos Açores da Igreja de Cristo ao serviço do Reino.

O “comunicado final” está todo cheio de pequenas afirmações, de perspectivas teológico-pastorais, de sugestões, recomendações e conclusões que levam a perguntar: Fazer Pastoral nos Açores hoje, pedirá uma revolução ou evolução?

Creio que se nos situarmos do ponto de vista evangélico, bem podemos afirmar que ser e fazer pastoral hoje à maneira do Evangelho e de Cristo, Bom e Belo Pastor, é seguir uma linha revolucionária que nos leve a um Evangelho puro e há construção da nossa Igreja como a realização dos “Actos dos Apóstolos” aqui e agora.

Vou em cinco linhas de força resumir o “eco” do que me parece ter de ser a pastoral, revolucionária e evolucionária, seguindo o melhor da reflexão na assembleia e do encontro das referências assinaladas.

1- A nossa pastoral para ser revolucionária e evolucionária do Evangelho, nas nossas Comunidades hoje, seguindo as luzes do Espírito Santo, exige um caminho novo. Não podemos ficar no louvar a tradição, na força do “religioso” e da piedade popular; ou então, permanecer num certo “peso” sócio-religioso que tem ainda a Igreja no Arquipélago. Não podemos continuar a fazer o mesmo. O que está velho e “caduco” é para cair. Tenhamos a coragem para tal! A revolução comunitária deve ter em conta a linha de força: deixar morrer o que de facto deve desaparecer; renovar o que é para permanecer e começar de novo evangelicamente. Devemos voltar a partir da vida e dos humanos a falar de Deus. Voltar a Cristo e sonharmos no seu Espírito um caminho pastoral bem popular e construído por todos.

2- Construir a Igreja hoje nesta nossa terra, terá de significar fazer e repensar juntos a Pastoral. Fazer e repensar a Pastoral deve ser um trabalho de todos, todos. Um trabalho de todos os leigos antigos, novos, mesmo dos que estão fora das comunidades e são alternativas. Leigos nas paróquias, nos conselhos pastorais, nos grupos cristãos e nas equipas das Ouvidorias. Devem predominar os cristãos leigos, nas famílias, nos movimentos, serviços e obras de apostolado. Importa fazer cair o “clericalismo” a favor de uma ação ousada e pioneira. Repensar juntos é discernir a partir de todas as auscultações feitas: trabalhos, vivências e conclusões da caminhada sinodal, das conclusões da última reunião dos Ouvidores, do Conselho Presbiteral e do Conselho Diocesano Pastoral que urge celebrar. Para além disto, todo o contacto diário e intenso do nosso novo Bispo com as pessoas, com as comunidades em todas as Ilhas, sobretudo e também com os jovens contará para o discernimento comunitário que se fará.

3- Para uma nova Pastoral na nossa Diocese importa passarmos do «eu» ao «nós» e deixarmos de ser ilhas nas paróquias, nas zonas pastorais, nas ouvidorias e na Diocese. Temos a riqueza e os limites de sermos ilhas geograficamente, mas não podemos ser pastoralmente. Paróquias pequenas e grandes fechadas em si num paroquialismo tacanho, zonas pastorais que são o somatório individualista de paróquias, ouvidorias pequenas e grandes sem abertura ao diocesano e muitas vezes a Diocese numa afirmação justa da nossa autonomia eclesial e riqueza local, mas fechada a outras Dioceses e a ajudas necessárias e mútuas que terão de ser grandes no futuro. Não a uma pastoral de tecto baixo e de nevoeiro cerrado e a psicologias e práxis pastorais de ilhéus pastoralmente indiferentes e sonolentos.

4- Para uma Pastoral revolucionária e evolucionária teremos de optar por uma pastoral de itinerário(s) de processos e não de eventos. Uma pastoral de peregrinos, de quem faz caminho e não de quem pára. Passamos tempo sem fim a comemorar datas, a programar festas de centenários e semi-centenários, a homenagear pessoas e instituições, a ladear acontecimentos locais com muito culto de personalidades, enquanto necessitamos “como de pão para a boca” de ter um itinerário concreto, formativo prático de conjunto que engloba a preparação para o batismo “de crianças e de adultos”, de preparação para o matrimónio, de ajuda aos casais jovens ou em dificuldade. Um itinerário que abrace a família por dentro e por fora nos seus problemas, feridas e virtudes e nos conceda uma Igreja: Fraternidade de Famílias.

5-Uma Pastoral revolucionária ou evolucionária terá de ter um método, um modo de agir que facilite tudo e todos. Já muito temos feito! Todavia, necessitamos de um método mais actual que considere por vezes o “pouco, o pequeno e o possível” que podemos fazer em todos os sectores. Todos são necessários!

O método terá de ser o actual em Teologia Pastoral: Análises da Realidade, Referenciação Bíblico-Teológica e Prática Pastoral. A metodologia na análise da realidade é o ver a vida, constatar os factos, analisar as situações, escutar e auscultar as pessoas, acolher, acompanhar e reconhecer o que existe. O momento da reflexão ou referenciação teológica é o interpretar, o julgar, o referenciar e o discernir segundo a palavra de Deus. Finalmente a prática pastoral é agir, é escolher, é aplicar, é viver, é integrar e é transformar a vida.

Fazer Pastoral nos Açores hoje implica evolução e revolução!

*Este é o quarto artigo de uma série de cinco, com Ecos do Conselho Presbiteral de 2023. Monsenhor José Constância é, entre outras coisas, o Diretor do Instituto Católico e Cultura e colaborador regular do sítio Igreja Açores.

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