Durante uma conferência que se realizou este domingo na Câmara Municipal de Angra do Heroísmo, Adriano Borges deixa criticas à sociedade de consumo e às desigualdades sociais. E faz um apelo a todos os cristãos para que sejam mais “generosos”.
O momento de crise, que nos obriga a prescindir de algumas coisas que nos faziam “cheirar a Natal”, pode ser “útil” para nos recentrar naquilo que “é essencial que é o verdadeiro espírito de Natal”, disse este domingo o Ecónomo da Diocese de Angra, Pe Adriano Borges, numa conferência que se realizou na Câmara Municipal de Angra do Heroísmo sobre “O Espírito Natalício sobrevive à crise”.
O responsável financeiro da Diocese de Angra começou mesmo por dizer que “com dinheiro apenas se pode comprar, vender, emprestar ou doar” e esse “não é o espirito de Natal” mas sim a vocação de uma sociedade consumista, apenas preparada para adquirir bens materiais.
“A economia atual está intimamente ligada ao consumo excessivo e ao endividamento desmesurado” adianta Adriano Borges que classifica este problema como “um verdadeiro cancro social”.
“Consumimos porque prescindimos dos afetos e os bens materiais compensam-nos das faltas e das perdas”, disse o ecónomo que sublinhou a “importância e agressividade” da Publicidade para atingir os seus fins.
Citando o Papa Francisco, Adriano Borges lembrou que esta “economia mata” e não é bom “termos um dinheiro que nos governe”.
Socorrendo-se da história que atravessa esta crise, que afeta o mundo global, Adriano Borges lembrou a origem dos problemas- o esquema do Lehman Brothers a que se seguiu a crise das dividas soberanas, em 2008- para dizer que famílias e estados “estão falidos” e a escassez de recursos é “cada vez mais evidente”.
Por isso, lembra o sacerdote, ”é preciso” aproveitar o Natal – “a forma renovada cada ano que desperta nas pessoas sentimentos adormecidos como a solidariedade, a compaixão, a alegria do encontro e do convívio e a felicidade das crianças”- para que se crie uma “harmonia maior” entre todos.
E deu como exemplo, algumas iniciativas de grandes companhias que vão atuando como mecenas, apelando a que mais empresários se possam juntar aos filantropos que já existem.
“Talvez pudessem fazer uma tentativa de devolver à sociedade uma parte do que recebem. Não se trata de uma forma comunitária de partilha de lucros, mas de uma forma de devolução, que também não é compensação por eventuais danos. É verdade que os que lideram a economia já contribuem para a sociedade, criando postos de trabalho, produtos e serviços. Mas não deviam ficar só por isso”, refere Adriano Borges.
Também na linha da Exortação Apostólica do Papa Francisco – Evangelli Guadium- Adriano Borges deixou fortes criticas ao modelo de desenvolvimento económico em vigor para lembrar que “só em sonhos os mercados funcionam de per si”, deitando por terra as convicções mais liberais.
E, deixou um apelo aos governantes para colocarem o interesse comum acima de qualquer outro e que exerçam a caridade na busca de um bem comum.
“Fraternidade rima com criatividade” e, neste momento de Advento, que é também um tempo de espera, Adriano Borges apela aos cristãos que se virem para o verdadeiro espírito de Natal e se deixem “contagiar” por ele, em “harmonia uns com os outros”.