“É preciso ver a Igreja no mundo, identificada com os problemas reais das pessoas e da sociedade, misturada com as injustiças e desigualdades”- bispo de Angra

Foto: Imagem captada a partir da transmissão da TV Canção Nova

Bispo de Angra presidiu esta manhã em Fátima à Peregrinação Nacional da Família Espiritana e defendeu cristão empenhados na resolução dos problemas concretos das pessoas

D. Armando Esteves Domingues desafiou esta manhã os cristãos a travar “lutas proféticas” para a defesa da vida concreta das pessoas, no mundo de hoje.

“Precisam-se profetas capazes de tocar e curar as feridas da sociedade. Profetas como os que, em todas as épocas, sairam do seu comodismo, por amor a Deus e aos irmãos” afirmou o bispo de Angra na homilia da Missa a que presidiu no recinto de oração de Fátima, por ocasião da Peregrinação Nacional da família espiritana.

O prelado açoriano alertou para a tentação “do comodismo” e “resignação”, que atravessa todas as gerações, mesmo “no nosso tempo”.

“Muitos cristãos olham com resignação para os ambientes doentios, as comunidades amorfas, as famílias e instituições em crise, a justiça, a paz, a igualdade e a liberdade para todos, como algo que de outros depende. Lamentam o mal, mas não se envolvem porque tudo vai voltar ao mesmo de antes, mais tarde ou mais cedo”, apontou o presidente da Comissão Episcopal da Missão e Nova Evangelização, ao lembrar exemplos onde a Igreja deve estar presente no mundo, “alargando a missão” e não apenas “olhando para dentro”.

“É preciso ver a Igreja no mundo, identificada com os problemas reais das pessoas e da sociedade, misturada com as injustiças e desigualdades que são fruto também da sua ação ou inação e tudo fazer para haja igualdade de direitos e deveres para todos” afirmou D. Armando Esteves Domingues, deixando uma série de interrogações.

“Perguntemo-nos: há saúde igual, médico de família, etc. para todos?; há acesso a uma justiça igual para todos, todos, todos?; há acesso à educação igual para todos ou continuamos com escolas de ricos e pobres e regiões do país descriminadas?; há habitação digna, trabalho justo e bem pago ou exploração?; há proteção suficiente à família, também nos horários laborais, na defesa do domingo como dia de descanso e da família?;  para quando o esforço sério pelo fecho das grandes superfícies ao domingo?”, interpelou o bispo de Angra.

“Essas e outras deveriam ser lutas proféticas de todos os cristãos para a defesa da vida concreta das pessoas. Precisamos de cristãos profetas em todos os lugares, que tomem posição, sejam interventivos, sobretudo onde se jogam os direitos que são de todos, todos, todos!”, enfatizou ao deixar o desafio de encontrar Deus e levá-Lo às periferias existenciais.

“É aí que somos chamados a reconhecer o Deus cristão: na ordinariedade de uma humanidade que a fé sabe abrir a uma outra dimensão, a ponto de ver nessa existência profundamente humana a narrativa do amor do Pai pela humanidade. O Deus cristão salva a humanidade partilhando a sua normalidade e dando assim sentido à nossa normalidade”, disse.

“Admiramo-nos porque os contemporâneos não reconheceram Cristo, mas também hoje, as nossas comunidades passam ao Seu lado e não O reconhecem na pessoa do irmão” destacou ainda pedindo o alargamento da missão.

“Alarguemos os horizontes da missão(…) A Igreja não é uma elite, mas um povo a caminho, peregrino. Buscamos, muitas vezes a utopia de pessoas intocáveis, completamente formadas, santas, para a missão. Vivemos a utopia de grupos fechados para a própria santificação, quando ser santo sempre implicou ter o olhar de Jesus e sair para servir a todos como irmãos”, afirmou o bispo de Angra.

O prelado insular deixou ainda uma mensagem aos Missionários do Espírito Santo e a toda a família espiritana que “vivem para alargar o reino”.

“Demos graças a Deus pelo seu grande trabalho ao serviço das missões sobretudo em países de língua portuguesa e rezemos por todos eles – padres ou leigos, consagrados ou casados – para que nos digam com a vida que a missão nasce da oração e que o serviço começa com o repartir do que temos e somos. Partilhamos da vossa alegria por serdes, desde a fundação, uma Palavra Nova pronunciada pelo  Espírito Santo para o bem dos pobres de bens e de Deus. Continuai fiéis ao vosso Fundador e seus continuadores”, concluiu.

A família missionária espiritana peregrinou este fim-de-semana até à Cova da Iria, com o lema “Orar, repartir, servir”.

Com mais de 300 anos de missão, os Espiritanos olham o futuro com renovada confiança na ação do Espírito Santo, lê-se numa nota enviada pela organização aos órgãos de comunicação social

Para além dos momentos de oração, na tarde de sábado realizou-se uma sessão missionária no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.

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