“É possível fazer um pouco mais e melhor para garantirmos uma sociedade menos desigual”, afirma Nobel da Economia

 

Foto: Igreja Açores/CR

Paul Krugman está nos Açores a participar no 63º Congresso da Associação Científica Regional Europeia que reúne 700 investigadores de 63 países

O Prémio Nobel da Economia 2008, Paul Krugman, que se encontra na Terceira a participar no  63º Congresso da Associação Científica Regional Europeia (ERSA), entende que a “globalização é uma coisa boa”, mas “há que ser cuidadosos e não alinhar por uma autonomia total das forças do mercado” de modo a se conseguirem “sociedades menos desiguais”.

Numa breve conversa com o sítio Igreja Açores, depois de ter sido homenageado na Câmara Municipal de Angra, o laureado com o Nobel da Economia em 2008, afirmou que “é possível fazer muito mais do que temos feito sem prejudicar o desenvolvimento económico que é essencial para garantirmos uma sociedade mais igualitária, onde as clivagens não sejam tão grandes”.

“Nós podemos ser ricos, promover o desenvolvimento económico de forma sustentável. As tecnologias são amigas e criam-nos oportunidades que antes não tínhamos para o trabalho remoto, por exemplo. Temos de as colocar ao serviço de um desenvolvimento mais harmónico de forma a vencer alguns constrangimentos geográficos”.

“É algo terrível, e que nos deve preocupar, o mundo ser tão desigual. Acredito que temos de trabalhar nos limites daquilo que é politicamente possível e o que temos de fazer é criar soluções que pelo menos nos devolvam a esperança  e possam levar os países e regiões mais pobres a um outro nível de desenvolvimento e bem estar”, disse ainda.

O colunista do New York Times deixou, ainda, uma recomendação: “Nós vivemos num mundo onde temos mesmo de trabalhar se queremos ter uma centralidade económica e a geografia for um constrangimento. Do que conheço, os Açores são uma região belíssima que pode e deve tirar partido de alguns factores que hoje são competitivos como a segurança ou a qualidade de vida”, disse ainda Paulo Krugman. Referindo-se ao Turismo, lembra que este é um sector que pode tornar-se uma alavanca estratégica.
“Acredito que o turismo está de facto a começar a acontecer. É fácil desconfiar disso, mas há muitas pessoas por aí que estão à procura de experiências”, afirmou aconselhando uma atenção maior a este sector económico, que por vezes ainda gera desconfiança nos locais.

Sobre os apoios sociais nos Açores, que continua a registar os maiores índices de pobreza do país, o economista norte-americano frisou que uma “rede de segurança” é importante.
“Ajudar as regiões com carências é muito difícil e ninguém o faz muito bem, mas assegurar que as pessoas nessas regiões têm cuidados de saúde adequados e não estão numa pobreza profunda, isso é algo que sabemos fazer e eu sou a favor”, afirmou.
O mundo, vincou, está numa encruzilhada: “Podemos virar para uma sociedade muito mais dura no mundo ocidental, mas também há um grande movimento na direção de fazer as coisas melhores, mais justas. Vamos aprender muito sobre isso nos próximos anos”, concluiu.

Paul Krugman, que acompanha Portugal desde o fim da ditadura-  viveu três meses em Portugal em 1976 e trabalhou com economistas como Silva Lopes e Miguel Beleza- considera que o percurso do país tem sido, apesar de tudo, o “de uma história feliz”.

“Para os Açores, surge esta força gravitacional das grandes zonas metropolitanas, e estando no meio do oceano Atlântico, é preciso fazer algo especial , mas  não estou certo de qual será a resposta”, assinalou.
Na cerimónia nos Paços do Concelho foram também distinguidos Robin Wells, economista e co-autora de diversos textos de economia com Paul Krugman, e Carlos Moreno, professor associado e diretor científico da Sorbonne Business School.

Até sexta-feira, mais de 700 especialistas em economia regional e urbana e geografia económica, de 63 países,  debatem os “Diálogos Científicos para a Paz e Desenvolvimento Sustentável”, em Angra do Heroísmo, no 63º Congresso da European Regional Science Association (ERSA).

Na abertura dos trabalhos, o  vice-presidente do Governo Regional dos Açores apelou à valorização da região em cinco dimensões: mundo submarino, mar, terra, ar e espaço, destacando o contributo que pode dar na economia, paz e desenvolvimento social a nível mundial.

“Mais do que a nossa posição geoestratégica, é o nosso espaço geoestratégico que temos de valorizar, que tem de ser estudado, para o contributo que dá para a dimensão atlântica da Europa, o contributo para a paz no mundo e para a segurança do mundo”, afirmou o vice-presidente do executivo açoriano (PSD/CDS/PPM), Artur Lima, em declarações aos jornalistas.

“A extensão da plataforma submarina, os cabos submarinos, tudo isso é importante, tudo isso passa por aqui e tudo isso constitui o nosso espaço geoestratégico”, vincou, sublinhando “a importância do espaço geoestratégico dos Açores para a economia, para a paz e para o social”.

O vice-presidente do Governo Regional considerou que o potencial dos Açores nestas cinco dimensões “tem de ser valorizado em primeiro lugar pelo governo português e depois pela Comissão Europeia e pelos Estados Unidos, que são outra parte interessante e interessada nos Açores, além, obviamente, de todos os parceiros da NATO, que têm [na região] uma base estratégica e importante para a defesa da Europa”.

O governante realçou, por outro lado, que os Açores podem ser “o espaço ideal” para acolher “investigações e algumas experiências”.

“Estamos a caminhar nesse sentido, quer nos parques de ciência e tecnologia, o Terinov e o Nonagon, quer também estimulando e apoiando novas experiências que possam vir a ter. Ainda há pouco tempo recebi o comandante [Jacques] Cousteau com ideias interessantes sobre o mundo submarino e experiências que pode vir a realizar nos Açores, tivemos a Glex Summit, fazendo uma missão análoga a Marte”, apontou.

(Com Lusa)

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