Igrejas do Imaculado Coração de Maria e Santa Barbara das Ribeiras foram construídas em pleno Concilio Vaticano II As Igrejas do Imaculado Coração de Maria, dos Biscoitos na ilha Terceira e a de Santa Bárbara das Ribeiras, na ilha do Pico celebram hoje e no dia 18 de julho, respetivamente, 50 anos.
Estas igrejas são juntamente com as de Nossa Senhora da Alegria nas Furnas (1962) e São José da Ribeira Chã (1967), ambas em São Miguel, dos poucos exemplares arquitetónicos construídos em plena reforma conciliar.
A Igreja dos Biscoitos, o segundo templo erguido nesta freguesia da ilha Terceira, foi uma iniciativa do Bispo de Angra, D. Manuel Afonso Carvalho que a inauguraria a 27 de maio de 1965.
“Neste dia apenas celebraremos uma missa de ação de graças pois a população está muito envolvida em vários festejos nomeadamente do Divino Espírito Santo e por isso adiámos as comemorações do cinquentenário para o mês de Setembro altura em que invocaremos o nosso padroeiro”, disse ao Sítio Igreja Açores o pároco, Pe Carlos Cabral.
A Igreja de Santa Bárbara das Ribeiras, no concelho das Lajes do Pico, celebra no próximo dia 18 de julho 50 anos e para já o templo está a “refrescar-se” para receber as comemorações “condignamente”.
“O templo está neste momento a sofrer obras de restauro, nomeadamente ao nível do altar mor que está a ser construído em São Miguel, tal como os nichos onde será colocada a estatuária da igreja”, disse ao Sítio Igreja Açores o pároco, Pe João Bettencourt das Neves.
Curiosamente ambas as igrejas foram “encomendadas” porque os locais de culto existentes apresentavam-se demasiado pequenos para o número de habitantes de então.
No caso dos Biscoitos a Igreja foi construída noutro local, conservando-se a Igreja de São Pedro. Já no caso das Ribeiras, o templo original foi destruído e erguida uma nova igreja.
As duas outras igrejas, localizadas em São Miguel e contemporâneas deste período conciliar, são a de Nossa Senhora da Alegria, nas Furnas e São José da Ribeira Chã, na Lagoa. A Igreja das Furnas foi inaugurada a 22 de novembro de 1963, mais de 60 anos depois de lançada a primeira pedra, em 1901. A invocação a esta Santa corresponde a uma homenagem aos padres jesuítas que ali se estabeleceram nos séc. XVII e XVIII e que construíram um templo/ermida dedicado a Nossa Senhora da Alegria, junto à ribeira da Alegria antes de 1642.
Já a Igreja de São José, na Ribeira Chã, assinalou no dia 1 de maio o seu 48º aniversário e a sua construção deveu-se ao incansável esforço do Pe João Flores e de toda a população desta pequena comunidade, tendo sido a sua primeira pedra, lançada no ano de 1962 e benzida pelo bispo D. Manuel Afonso de Carvalho.
Esta Igreja veio substituir a pequena Ermida de São José, que havia sido construída no mesmo local no ano de 1853 que se encontrava em elevado estado de degradação devido aos sismos. A nova Igreja foi inaugurada no dia 1 de Maio de 1967, sendo o seu arquitecto Eduardo Read Teixeira. No seu interior destaca-se, principalmente, o painel de mosaicos da Capela-mor da autoria do pintor micaelense Tomás Borba Vieira e o sacrário da autoria do escultor Álvaro França.
Existe ainda, na Igreja, uma imagem de São José que foi oferecida pelos emigrantes, da autoria do escultor portuense Manuel Thedim.
“É uma igreja modernista concebida segundo o princípio da Gesamtkunswerk (uma obra de arte total) que congrega contributos das três artes clássicas, Arquitectura, Escultura e Pintura (Desenho)”, refere o arquiteto Igor França, membro da Comissão Diocesana dos Bens Culturais da Igreja, na diocese de Angra, sublinhando “a rutura com a História no recurso à grande fenestração do alçado sul (que concilia a depuração decorativa própria do Modernismo com a recusa da planimetria) na utilização dos blocos perfurados na torre sineira, mas que, simultaneamente mantém um fio condutor com o passado (evidenciando uma das características do 2.º Modernismo português que é precisamente a de inovar sem cortar totalmente com a tradição) patente na sobrelevação e contenção do adro, e recurso ao campanário”.
“Já as outras duas- Nossa Senhora da Alegria e Biscoitos- são obras bem mais modestas e, mesmo assim, podem ser diferenciadas porque a dos Biscoitos evidencia uma linguagem depurada de carga decorativa enquanto a das Furnas apoia a sua gramática plástica num desenho pseudo-historicista”, adianta ainda o arquiteto.
“A grande alteração que o Concílio Vaticano II impôs às igrejas incidiu sobre o espaço presbiterial. A imposição de que a missa deixasse de ser oficiada de costas para a assembleia refletiu-se, por exemplo, no avanço do altar-mor, que passou a anteceder o arco triunfal”, diz Igor França.
Esta alteração acabaria por se concretizar, no entanto, em todas as igrejas abertas ao culto.