Diretora da Cáritas diocesana pede aos políticos que “olhem para as pessoas” e não “para os seus umbigos”

Seminário “Humanizar a Sociedade” termina com apelos a uma sociedade mais igualitária

A Diretora da Cáritas Diocesana dos Açores apela aos políticos “da esquerda à direita” que a partir das “más experiências” do passado tirem ilações e comecem a “olhar para as pessoas e não para os seus umbigos”.
Em jeito de balanço, no final dos trabalhos do Seminário “Humanizar a Sociedade”, que a Cáritas da ilha Terceira promoveu nos últimos dois dias em Angra do Heroísmo, Anabela Borba lamenta que a situação dos mais fracos “se tenha deteriorado”.
“Os números que recebemos fazem-nos pensar que a situação social, sobretudo dos mais pobres, piorou muito nos últimos anos” e isso “deixou-me chocada porque houve, de facto uma quebra de rendimentos daqueles que já eram pobres ou muito pobres”.
Anabela Borba aponta baterias aos últimos governos, criticando o “esbanjamento dos poderes públicos instituídos que construíram obras megalómanas em vez de investirem nas pessoas” e as “políticas de austeridade que fragilizaram ainda mais os que menos tinham”.
Portanto, diz a Diretora da Cáritas Diocesana e responsável também pela Cáritas da ilha Terceira, “os mais pobres apanharam tareia de dois lados: não foram capacitados com novas competências e foram empobrecidos”. Ou seja: “dois partidos diferentes fizeram o mesmo por caminhos diversos” e conseguiram “transformar a sociedade numa sociedade de subsidio dependentes quando deveriam ter investido na sua formação”.
Aliás, esta foi a grande mensagem do Seminário que é também a mensagem crucial da Cáritas: transformar a sociedade a partir da educação e da sua capacitação, referiu ainda em declarações ao Sítio Igreja Açores Anabela Borba.
A dirigente lembra que os frutos deste e de outros encontros “não são imediatos” mas servem “para consciencializar as pessoas de que cada um à sua medida pode fazer a diferença ajudando”.
“Às vezes ouvimos as pessoas a dizerem que por si só não conseguem nada mas a verdade é que se cada um de nós fizer alguma coisa o mundo tem que mudar necessariamente”, frisa a dirigente, lembrando que este sábado se assinala o Dia Mundial da Erradicação da Pobreza.
“Ouvimos os teóricos a dizerem que existem meios suficientes para erradicar a pobreza e que a distribuição de rendimentos é que não é equilibrada” adianta Anabela Borba destacando, no entanto, que “entre acreditar que há meios disponíveis e homens de boa vontade eu fico dividida porque sinto que há um enorme caminho a percorrer”.
A dirigente lembra, por isso, que os resultados deste tipo de encontros só se colhem no médio e no longo prazo e depois de uma aposta forte na educação e na criação de competências.
O Seminário contou com vários oradores e foi encerrado pelo Bispo de Angra que saudou a organização pela iniciativa sublinhando a importância que a Cáritas dá aos mais jovens.
“Os nossos idosos são uma prioridade e há que criar redes de vizinhança para evitar o seu isolamento mas não podemos perder de vista os mais novos”, salientou D. António de Sousa Braga, destacando a importância da “fraternidade” e do “diálogo entre gerações” sempre tendo por base “o bem comum”, papel que é “muito bem conseguido pela Cáritas”.
Também o Presidente da Direção Nacional da Cáritas, Eugénio Fonseca, lembrou o significado da Cáritas como “a essência natural de ser igreja”.
“Se houver uma maior afinação e articulação entre os vários serviços”, disse Eugénio Fonseca “nunca sairemos derrotados na luta por uma sociedade mais justa e mais igualitária”.
(Com Nuno Pacheco de Sousa)

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