José Carlos Seabra Pereira sublinha importância de promover a partilha de visões do mundo
O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC), defende que Igreja Católica deve procurar ir sempre mais longe no diálogo cultural com a sociedade, promovendo a “partilha de visões do mundo”.
“É um papel importantíssimo que a Igreja tem vindo a desenvolver, sobretudo com os últimos papas, muitas vezes com uma perceção insuficiente no âmbito mais geral da sociedade civil, e que tem não apenas como património, mas como potencialidade de formação integral de cada indivíduo”, disse José Carlos Seabra Pereira na sessão de abertura das I Jornadas de Teologia dos Açores, promovidas pelo Seminário Episcopal de Angra, e que arrancaram esta quinta feira à noite na cidade património, na ilha Terceira.
Para o diretor do SNPC, a Igreja neste diálogo e reflexão com a sociedade, para além do “grande dinamismo” já demonstrado, pode “ir mais longe”, concretamente no debate de ideias “não apenas dos grandes temas e problemas contemporâneos” mas também nas facetas éticas e estéticas.
“Há uma forma de conhecimento para o homem que só se consegue através da arte, que não é apenas uma montra que difunde elementos que vêm de fora mas criadora desse elementos” disse o professor da Universidade de Coimbra acrescentando que “o valor das artes é grande e todo o homem cristão, em particular e a igreja, no seu todo, tem aqui uma razão fortíssima para valorizar as artes”.
“Ao longo dos séculos a arte muda e exprime outra visão do mundo, do homem e do seu destino, e por isso, precisa de outras formas para figurar o horizonte de esperança e desejo” precisou Seabra Pereira que considera a assumpção do “relativismo e da diferenciação como condições fundamentais no diálogo entre a igreja e o mundo”.
Nesse sentido, o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura observa que como noutras áreas, onde a Igreja já trabalha e tem “consolidado um espírito de abertura e proximidade”, também na cultura pode existir a “partilha de razões para encontrar um sentido fulgurante” para a vida.
Por isso, o professor Seabra Pereira rejeita qualquer ideia imobilista que possa prevalecer dentro da igreja que “não quer ser dominadora” mas “inspiradora e colaboradora”.
“Quando os cristãos, e a igreja pretendem compreender e dialogar com a cultura têm que ter em atenção esta dinâmica dos bens simbólicos, tentando perceber o jogo de influências porque é isso que desenvolve o espírito crítico”, diz o professor.
“Temos de incentivar culturalmente nos sacerdotes, nos fieis e em todos nós, o desenvolvimento desse espírito crítico, que é diferente das maledicências. O nosso desafio é o de formularmos uma avaliação e um pronunciamento sobre o que consideramos a categoria intrínseca de um determinado pensamento e a sua consequência”, referiu.
“A igreja e os cristãos, para uma convivência em diálogo aberto, precisam das confrontações; de perceber e ver que diferenças existem nos vários modelos simbólicos e depois trocar as razões de cada um , ultrapassando sem subterfúgios o que nos poderia separar”, pois a “cultura é um factor de alargamento e aprofundamento da consciência humana, quer em termos morais quer em termos cognitivos”.
“Um cristão tem de ser suficientemente consciente da diferença do outro e ir à raíz dessa diferença e interpretá-la”, concluiu sublinhando que a originalidade da atitude de um cristão “não é fazer diferente, é procurar a origem”.
José Carlos Seabra Pereira, professor associado da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, é licenciado em Filologia Românica e doutorado pelas universidades de Coimbra e Poitiers (França).
O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, desde novembro de 2014, tem uma vasta obra publicada, onde se destacam títulos como: “Do fim-de-século ao tempo de Orfeu”; “Neorromantismo na poesia portuguesa”; “António Nobre: Projeto e destino” e “O tempo republicano da literatura portuguesa”.
As Jornadas de Teologia 2017, “Cristianismo e Cultura” têm como público-alvo a comunidade académica, todos os que procuram as razões da sua fé e são ainda uma iniciativa fundamental de formação permanente do clero diocesano, nos Açores.
As reflexões produzidas entre 16 e 18 de março serão o embrião para a revista cientifica do Seminário Episcopal de Angra.
Para esta sexta feira está previsto o visionamento do filme “Dos Homens e dos Deuses” de Xavier Beauvois, que será exibido no Centro Cultural e de Congressos de Angra.
O filme narra a história de da vivência de monges católicos num mosteiro da Argélia, na década de 90. Oito monges católicos franceses vivem em harmonia com a população muçulmana, até que, progressivamente, a violência e o terror tomam conta da região. Apesar das ameaças, os religiosos decidem resistir ao terrorismo e ficar, conscientes do preço dessa escolha.
Esta é a história verídica dos monges de Tibhirine, raptados e assassinados por um grupo de fundamentalistas islâmicos durante a guerra civil argelina, em 1996.
O filme venceu o Prémio Especial do Júri em Cannes 2010 e foi o filme selecionado para representar a França nos Óscares de 2011.
Ao final do dia os professores Nuno Ornelas Martins, da Universidade Católica do Porto, e Brandão da Luz, da Universidade dos Açores irão proferir duas conferências sobre “Pensar o Mundo em mudança”. Os trabalhos prosseguem sábado de manhã com os professores da Universidade Católica do Porto, Pe. Jorge Cunha e do Seminário Episcopal de Angra, Pe. Júlio Rocha.
(Com Nuno Pacheco de Sousa e Pe José da Encarnação Cabral)