Diocese de Angra ouvida no processo de classificação do tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres

Vigário Geral esteve esta tarde na Comissão Parlamentar de Assuntos Sociais

A Diocese de Angra discorda da “amplitude” da proposta de classificação do espólio relacionado com o Senhor Santo Cristo dos Milagres como Tesouro Regional, apresentada pelo PSD/Açores, com o apoio de todos os partidos da oposição parlamentar, disse esta tarde aos deputados da Comissão Parlamentar de Assuntos Sociais o Vigário Geral.

A proposta dos cinco partidos abrange a imagem do Santo Cristo dos Milagres, que tem mais de 300 anos, o resplendor, a coroa, o cetro, a corda e o relicário bem como as capas oferecidas pelos fieis com as quais a imagem é adornada sempre que sai em procissão, em Ponta Delgada, na ilha de São Miguel, anualmente no quinto domingo a seguir à Páscoa.

“Não podemos concordar com esta classificação pois de todo o património ligado ao culto do Senhor Santo Cristo, verdadeiramente o que está inventariado e estudado é a imagem e os seus cinco adornos- o resplendor, o relicário, o cetro, as cordas e a coroa”, disse o Pe Hélder Fonseca Mendes em declarações ao Sítio Igreja Açores, à saída do encontro.

“Isso não quer dizer que não possamos no futuro pensar numa classificiação mais ampla mas, neste momento, devemos classificar apenas o que está estudado”, sublinha o Vigário geral.

A Diocese de Angra apresentou no final do verão à Direção Regional da Cultura uma proposta a solicitar a classificação do tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres, integrado pela imagem e os cinco adornos.

“A nossa proposta baseia-se num estudo feito pela Comissão Diocesana dos Bens Culturais da Igreja, desenvolvida no ano passado. Trata-se de um inventário em que foram consultados 40 obras e artigos de investigação sobre estas peças e consideramos que, para já, só estas devem merecer a classificação de Tesouro Regional. E, foi isso que eu disse aos senhores deputados”, frizou ainda o Vigário Geral.

De acordo com o Pe Hélder Fonseca Mendes os deputados manifestaram “grande abertura para rever o texto da proposta de decreto legislativo regional” e solicitaram à Diocese o envio do processo entregue na Direção Regional da Cultura.

“O que nos distingue é muito pouco e não temos qualquer pretensão que não seja a classificação do Tesouro. Não nos interessa nem a paternidade da proposta e muito menos questões de natureza política”, sublinhou o sacerdote.

Antes da Igreja foi ouvido o Governo. O Secretário Regional da Educação e Cultura, Avelino Menezes, considerou que o projeto de decreto legislativo regional apresentado pela oposição tem um problema de “indefinição” do património que se pretende proteger.

O governante disse ainda que era necessário “proceder com urgência à inventariação” dos bens existentes no Convento da Esperança, onde está guardado o tesouro do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em Ponta Delgada.

O processo de classificação do tesouro surgiu na altura em que se registou uma polémica na ilha de São Miguel, por causa da cedência temporária do resplendor do Senhor Santo Cristo ao Museu Nacional de Arte Antiga, para integrar a exposição “Splendor et Glória”, que ainda decorrre em Lisboa.

A Diocese de Angra entretanto entregou à Direcção Regional da Cultura um pedido formal de classificação, na sequência do protocolo celebrado com a Secretaria Regional da Educaçãoe Cultura a 2 de Abril deste ano, e que visa o inventário dos bens culturais da Diocese açoriana e a sequente valorização do Património Cultural dos Açores.

 

Os responsáveis diocesanos entendem “que o valor simbólico deste conjunto (imagem e cinco complementos), que representa o corolário da Paixão de Cristo de acordo com a descrição bíblica, é partilhado por uma vasta comunidade de crentes espalhados por todo o mundo” e por isso, deve “merecer” uma classificação diferente.

 

Para lá do valor material de cada um dos seis bens em apreço, “esta proposta reflete que a Diocese de Angra está consciente do valor religioso e devocional que este conjunto tem para os fiéis e pretende dignificar esta fé de forma privilegiada, propondo que seja institucionalmente reconhecido como Tesouro formal o que desde há muito é um tesouro no coração de inúmeros devotos”, diz o documento que fundamenta o pedido diocesano.

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