Diocese de Angra inicia fase diocesana de instrução do processo de canonização de Maria Vieira

O postulador será o Cónego Manuel Carlos, atual reitor do santuário de Nossa Senhora dos Milagres na Serreta

O bispo de Angra acaba de dar luz verde ao inicio do processo de canonização  de Maria Vieira da Silva, uma jovem terceirense  de 13 anos,  natural da paróquia de São Sebastião, que foi brutalmente martirizada por defender a preservação da sua virgindade até à morte, a 4 de junho de 1940.

O processo, que começa a ser instruído na sua fase diocesana, tem como promotor o pároco de São Sebastião, Pe. Domingos Graça, e como postulador da causa o Cónego Manuel Carlos, pároco da Serreta.

“Tendo obtido já o parecer favorável da Conferência Episcopal Portuguesa e o nihil obstat da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, iniciamos o processo”, adianta  D. João Lavrador numa Nota Pastoral enviada a todos os diocesanos.

“Ponderadas as condições e a oportunidade para tal facto, decidimos aceder a tal pedido e começar com as diligências normativas para se prosseguir com o processo que conduzirá à decisão sobre a beatificação da jovem Maria Vieira da Silva” afirma o bispo de Angra que não esconde ter sido sensível “aos sinais” de santidade e de devoção relativamente a Maria Vieira da Silva.

“A fama de santidade vem desde o inicio. Ao local do seu martírio recorrem muitas pessoas em atitude de obter graças e, desde então até hoje, continua a sua fama de santidade e o desejo manifesto por inúmeras pessoas para que seja reconhecida como mártir pela Igreja e seja exposta como modelo de santidade para os jovens de hoje” refere o prelado diocesano na nota pastoral.

“A coragem e a valentia, a fidelidade e a coerência, que marcam a vida de Maria Vieira da Silva e que a levaram até ao martírio, são muito importantes para a vida da comunidade cristã, mas é igualmente um sinal luminoso para os jovens de hoje mergulhados numa cultura do prazer, do descartável, narcisista e sem raízes consistentes para a edificação da dignidade humana” refere ainda a nota pastoral, destacando as virtudes heroicas desta jovem.

“Dada a sua formação católica, a sua vivência cristã, o clima de oração diária em sua casa, a sua pertença à cruzada eucarística e os valores cristãos que norteavam a sua conduta, desde logo se reconheceu que foi mártir para defender a virtude da virgindade”, justifica o prelado diocesano insular na nota .

“Aos olhos humanos o martírio assenta sempre numa tragédia, mas sob o olhar da fé é fonte de graças inesgotáveis”, precisa D. João Lavrador que pede a oração comprometida de todos os diocesanos para que o processo chegue a bom porto.

“Com a abertura do processo de beatificação da Maria Vieira da Silva, ela abre a sua vida a toda a Igreja diocesana, e mesmo fora dela, para que todos os diocesanos possam implorar de Deus a graça da sua beatificação de modo que em breve tenhamos o reconhecimento oficial da santidade presente nela e a ela possamos recorrer como nossa irmã e intercessora junto de Jesus Cristo”, frisa D. João Lavrador.

O processo, que será necessariamente “longo, minucioso e oneroso” começa agora a ganhar forma com o inicio do trabalho das várias comissões – histórica e teológica- que irão contribuir para a sua instrução, o que exigirá recolha de testemunhos, análise de fontes históricas, documentos e tudo o que for relevante para justificar primeiro a beatificação e depois a canonização.

A Comissão Teológica será necessariamente composta por teólogos, cuja identidade não pode ser revelada; já a Comissão Histórica é formada por José Guilherme Reis Leite, Ricardo Madruga da Costa e Neves leal, que tem já produzida alguma investigação compilada em livro com a história de Maria Vieira da Silva.

Depois de concluída a fase diocesana, o processo segue para Roma, para a Congregação para as Causas dos Santos, onde será declarada primeiro a beatificação e depois a canonização, sendo que como o fundamento para o processo é o facto da jovem ser mártir poder-se-á dispensar a prova da existência de milagre.

O Pe. Domingos Graça, pároco de São Sebastião, está naturalmente satisfeito e lembra que, apesar de ser um processo moroso, conta com o empenho total da paróquia que já escolheu as comissões de trabalho através do Conselho pastoral.

Maria Vieira da Silva, nascida a 11 de Novembro de 1926 na antiga Vila de São Sebastião da Ilha Terceira, Açores, no dia 4 de Junho de 1940 era brutalmente martirizada por defender a sua virgindade frente a um homem que sem escrúpulos a queria abusar na sua honra e dignidade mais intima, ao qual ela resistiu até à morte.

A jovem, antes de morrer pronunciou o nome do agressor e disse «que não lhe tinha raiva», «não lhe façam mal» exclamou, e que «lhe perdoava».

Filha de Júlio de Sousa da Silva e de Isabel Vieira da Silva, casal católico que soube incutir nos seus filhos o amor a Deus e aos irmãos, desde cedo aprendeu a colocar toda a sua vida ao serviço da vontade divina. Aos seis anos já frequentava a catequese ministrada pelo pároco, na altura o Padre Joaquim Esteves. Fez a primeira comunhão e a comunhão solene, rezava todos os dias o terço em família e era cumpridora dos princípios e orientações da fé católica.

Do processo judicial que se seguiu à sua morte e que acabou por condenar o autor do crime, realça-se a sua morte como defesa da sua honra.

 

 

 

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