Diocese de Angra inaugura ano pastoral apostada num “diálogo fecundo” com a sociedade

Caminhada sinodal desafia igreja insular a ser menos clerical

A diocese de Angra está prestes a iniciar um novo ano pastoral e lançou a si própria os desafios de dialogar mais com a sociedade, de se tornar uma igreja mais ministerial e mais jovem.

Nas jornadas pastorais de apresentação da temática do novo ano pastoral, assente na “Beleza de caminharmos juntos em Cristo”, dirigidas ao clero, religiosos e leigos, o bispo de Angra interpelou sacerdotes, religiosos e leigos- “agentes de pastoral”- a olhar para a “realidade da Igreja” e para o seu “modelo de ação evangelizadora”, apostando na sua formação e numa caminhada em conjunto que permita encontrar as melhores soluções para agir na sociedade, cumprindo a missão de evangelização que lhe é própria em cada tempo e em cada lugar.

No documento, elaborado por um conjunto de leigos, e que foi partilhado com todos para que possa ser motivo de “debate e reflexão” junto das comunidades, são levantadas inúmeras questões quer à Igreja enquanto instituição, quer à sua presença no mundo, quer ainda em relação à situação em que se encontra o arquipélago, que devem ser agora discutidas e as respostas enviadas até março à Comissão de Coordenação da Caminhada Sinodal que depois elaborará um relatório que será discutido nos Conselhos Presbiteral e Pastoral Diocesano.

O documento, partilhado com todas as ouvidorias, parte de uma análise à cultura contemporânea, cujas marcas são essencialmente “criticas, desconstrutivas, multíplices, ambíguas, contraditórias, fragmentárias e descrentes”, que se acentuam graças a um “contexto disruptivo de digitalidade, que traz novas formas de poder e alienação e vai muito além do tecnológico ou virtual”.

Os autores do documento, coordenado pelo Vigário Geral, cónego Hélder Fonseca Mendes, para o perigo de “numa Cultura Pós-moderna, alicerçada na descrença das ideologias e dos valores absolutos do século XX poderem também estar de regresso os extremismos mais violentos das crenças e dos valores”. Uma situação a que os Açores não estão alheios, concluem os autores do documento que deixam questões para reflexão, umas dirigidas à própria instituição, outras às respostas que a Igreja pode desenvolver face ao contexto insular e, por último, relativas à missão da própria Igreja nos nossos dias.

O documento que servirá de base aos primeiros passos da `caminhada sinodal´ começa por apresentar a “situação social e económica dos Açores” entre 2001 e 2018, utilizando indicadores estatísticos do INE e Serviço Regional de Estatística sobre o PIB, a atividade económica regional, a evolução da Taxa de crescimento da população, Esperança média de vida, indicadores de saúde, educação, emprego, habitação, proteção do património e pobreza, num total de 16 items, onde de uma maneira geral, a performance do arquipélago está abaixo da média nacional e da média europeia. No final deste capítulo são deixadas 3 questões para reflexão a partir do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja de forma a identificar os problemas e as soluções que a Igreja propõe para cada questão.

No segundo tópico do documento que serve para orientar os debates ao nível local, faz-se uma “breve análise à realidade da Igreja dos Açores hoje”.

“Não obstante a nossa pregação, aprofundamento bíblico e itinerário catequético, permanecemos numa igreja de `quase catecúmenos´ e a nossa prática sacramental, sobretudo a da Eucaristia dominical, é baixa. A militância cristã e apostólica, embora envolva muita gente, é realizada no geral por gente de idade avançada” refere o documento.

“As nossas comunidades e o todo da nossa Igreja ainda apresentam um rosto muito clericalizado e de pouca participação na sua acção evangelizadora no mundo”, acrescentam, socorrendo-se de dados do estudo mais recente (de 2013) desenvolvido pela Universidade Católica Portuguesa que dá conta de que entre os inquiridos quase metade dos açorianos admite que ainda reza todos os dias. À questão colocada por este estudo sobre a frequência com que os açorianos costumam participar ou assistir a atos de culto religioso, 33,5% respondeu uma vez por semana, 17,5% várias vezes no ano, 14,9% duas ou mais vezes no mês e apenas 9,1% admite fazê-lo diariamente.

Outro dado avançado pelo documento prende-se com a prática religiosa em que os dados mais relevantes dizem respeito a 27,6% dos açorianos que se dizem católicos observantes, 21,7% católicos praticantes ocasionais e 17,4 católicos militantes.

Por isso, conclui-se é necessária uma “presença interventiva na evangelização dos sectores socioprofissionais e dos vários campos da cultura, da arte, da política e da economia”, seja em quantidade seja em qualidade de forma a que a Igreja possa entrar “com sabedoria no novo espaço operado pela evolução informática” para intervir “na cultura da comunicação de massas” que ajude “a construir uma identidade cristã nesta sociedade pluralista”. Como é que isso se faz é o desafio reflexivo que o documento propõe.

A Região Autónoma dos Açores possuía em 2018 243.358 habitantes. A principal atividade económica é a Agricultura e as Pescas, com destaque também para o crescimento do Turismo. A maior fatia do Produto Interno Bruto (PIB) é gerada em São Miguel, mas no modelo de desenvolvimento dos Açores está consagrado o principio da coesão, que é porventura o que mais falha. O Poder de compra per capita da região é dos mais baixos do país, quase menos 20 euros e só as regiões norte e centro superam negativamente os Açores no valor do PIB Per capita.

O melhor indicador insular prende-se com o numero de jovens pois a média de pessoas com menos de 15 anos é de 16% quando a nível nacional se fica pelos 14%.

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