O Papa assinalou hoje na cidade italiana de Matera o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, que a Igreja celebra no último domingo de setembro, pedindo que “cada pessoa encontre o seu lugar e seja respeitada”.
“Renovemos o compromisso para edificar o futuro segundo o desígnio de Deus: um futuro em que cada pessoa encontre o seu lugar e seja respeitada; em que os migrantes, os refugiados, os deslocados e as vítimas do tráfico humano possam viver em paz e com dignidade”, disse, no final da Missa a que presidiu na cidade do sul da Itália, que acolheu o 27.º Congresso Eucarístico Nacional do país.
O Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2022 tem como tema “Construir o futuro com os migrantes e os refugiados”.
“O Reino de Deus realiza-se com eles, sem excluídos. É também graças a esses irmãos e irmãs que as comunidades podem crescer em nível social, económico, cultural e espiritual”, indicou o Papa.
Francisco destacou que a “partilha das diversas tradições” é uma riqueza também para as comunidades católicas.
“Comprometamo-nos todos em construir um futuro mais inclusivo e fraterno! Que os migrantes seja acolhidos, acompanhados, promovidos e integrados”, apelou.
O Papa deixou uma oração especial pela Igreja na Itália, “para que em cada comunidade se sinta o perfume de Cristo Pão vivo descido do Céu”, rezando em particular para que o país tenha “mais nascimentos, mais filhos”.
Na homilia da Missa a que presidiu e que encerrou o 27º Congresso Eucarístico Nacional de Itália, alertou para as “injustiças e discriminações contra os pobres” de todo o mundo.
“As injustiças, as disparidades, os recursos da terra distribuídos de forma desigual, os abusos dos poderosos contra os fracos, a indiferença ao clamor dos pobres, o abismo que cavamos todos os dias, gerando marginalização, não nos podem – todas estas coisas – deixar indiferentes”, referiu Francisco, na homilia que proferiu esta manhã, em Matera, cerca de 400 quilómetros a sul de Roma.
Perante milhares de pessoas, numa celebração com transmissão online, o pontífice pediu que os católicos sejam “apóstolos da fraternidade, da justiça e da paz”, porque “nem sempre o pão é repartido na mesa do mundo”.
“Hoje, juntos, reconheçamos que a Eucaristia é profecia de um mundo novo, é a presença de Jesus que nos pede para nos comprometermos para que ocorra uma conversão efetiva: da indiferença à compaixão, do desperdício à partilha, do egoísmo ao amor, do individualismo à fraternidade”, disse.
O Papa afirmou que uma Igreja “eucarística”, marcada pela adoração a Deus e o serviço aos outros, é “feita de homens e mulheres que se partem como pão para todos aqueles que mastigam a solidão e a pobreza, para aqueles que têm fome de ternura e compaixão”.
“Uma Igreja que se ajoelha diante da Eucaristia e adora com espanto o Senhor presente no pão, mas que também se sabe curvar com compaixão diante das feridas de quem sofre, aliviando os pobres, enxugando as lágrimas de quem sofre, fazendo-se pão de esperança e de alegria para todos”, precisou.
Francisco, acolhido em festa no Estádio Municipal de Matera, onde chegou em papamóvel, sublinhou que, “além do primado de Deus, a Eucaristia chama ao amor dos irmãos”.
A homilia partiu de uma passagem do Evangelho de São Lucas, lida hoje nas igrejas de todo o mundo, na qual Jesus apresenta a parábola do homem rico e do pobre Lázaro, ao qual o rico não prestou atenção.
“É doloroso ver que esta parábola ainda é a história dos nossos dias”, lamentou.
Segundo Francisco, a figura do pobre – que ao contrário do homem rico é tratado pelo seu nome próprio, Lázaro, que significa “Deus ajuda” -, “mesmo na sua condição de pobreza e marginalização, pôde manter a sua dignidade intacta, porque viveu em relação com Deus.
“Não há verdadeiro culto eucarístico sem compaixão pelos muitos ‘Lázaros’ que ainda hoje caminham ao nosso lado”, apontou.
Menos de 24 horas depois de uma viagem a Assis, para assinar com jovens de todo o mundo um pacto por uma nova Economia, o Papa deixou uma reflexão sobre a riqueza, o consumismo e o culto da aparência.
“É a religião do ter e do parecer, que muitas vezes domina a cena deste mundo, mas no final nos deixa de mãos vazias”, advertiu.
“Eis então o desafio permanente que a Eucaristia oferece à nossa vida: adorar a Deus e não a nós mesmos. Colocar Deus no centro e não a vaidade de si mesmo. Lembrar-se de que só o Senhor é Deus e tudo o mais é um dom do seu amor”, disse.
Francisco convidou a redescobrir a oração de adoração, que liberta da “escravatura” do dinheiro, do sucesso, do individualismo.
“O nosso futuro eterno depende desta vida presente: se cavamos agora um abismo com os irmãos, cavamos a fossa para o depois; se erguemos muros contra os nossos irmãos agora, continuaremos presos na solidão e na morte, mesmo depois”, declarou.
A homilia terminou com uma recomendação a todos os participantes: “Pensemos hoje, a sério, sobre o rico e sobre Lázaro. Acontece todos os dias, isto, e muitas vezes, também – envergonhemo-nos -, em nós e entre nós, esta luta, na comunidade”.
Antes do final da Missa, o presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Matteo Zuppi, arcebispo de Bolonha,deixou uma palavra de saudação ao Papa e aos organizadores do Congresso Eucarístico, evocando as consequências da guerra na Ucrânia, que “queima os campos de trigo, tira o pão, faz morrer de fome, transforma os irmãos em inimigos”.
Francisco agradeceu às autoridades que o receberam em Matera e regressou ao Vaticano, encerrando a segunda viagem a cidades italianas em dias consecutivos.
(Com Ecclesia)