O Papa Francisco convida, na sua mensagem para o 56.º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2023) a “mudar o coração”, no pós-pandemia, destacando que o impacto da Covid-19 deve reforçar o “sentido comunitário” e de fraternidade, na humanidade.
“Deixarmos mudar o coração pela emergência que estivemos a viver, ou seja, permitir que, através deste momento histórico, Deus transforme os nossos critérios habituais de interpretação do mundo e da realidade”, escreve.
Para o assistente diocesano da Comissão Justiça e Paz, padre José Júlio Rocha, trata-se de uma mensagem “acutilante” e “muito sintonizada” com os acontecimentos de 2022 e com a esperança que é “tão necessária” no novo ano.
“O recuo ao tempo do Covid 19 pode parecer desadequado mas o que o Papa vem referir é que estamos todos no mesmo barco e que apesar da pandemia, apesar da guerra, apesar da crise económica nós continuamos sem promover a fraternidade humana de forma universal e é isso que esta mensagem pede”, afirma o sacerdote.
“O Papa recua a 2020, àquela expressão e imagem icónica na Praça de São Pedro, sozinho, para dizer que temos de repensar tudo de novo, desde a economia ao ambiente, mas fazendo-o de forma global”, esclarece.
O sacerdote lembra ainda a tragédia da guerra na Ucrânia, “uma guerra abstrusa”, que é “sem dúvida” o acontecimento de 2022 e antecipa: “se a guerra continuar em 2023 teremos a tempestade perfeita e além da inflação e da crise económica teremos mesmo fome”.
A mensagem para a celebração do primeiro dia do novo ano tem como tema ‘Ninguém pode salvar-se sozinho. Juntos, recomecemos a partir da Covid-19 para traçar sendas de paz.
“Não podemos continuar a pensar apenas em salvaguardar o espaço dos nossos interesses pessoais ou nacionais, mas devemos repensar-nos à luz do bem comum, com um sentido comunitário, como um ‘nós’ aberto à fraternidade universal”, indica o Papa.
“A maior lição que a Covid-19 nos deixa em herança é a consciência de que todos precisamos uns dos outros, que o nosso maior tesouro, ainda que o mais frágil, é a fraternidade humana, fundada na filiação divina comum, e que ninguém pode salvar-se sozinho”, escreve na mensagem.
Francisco elogia a resposta do mundo da saúde e das autoridades políticas à crise provocada pela Covid-19, “empenho, nalguns casos verdadeiramente heróico, de muitas pessoas que se deram para que todos conseguissem superar do melhor modo possível o drama da emergência”.
A mensagem alude à falta de segurança laboral, solidão e um “um mal-estar geral, que se concentrou no coração de tantas pessoas e famílias”, com a pandemia, que pôs a descoberto “contradições e desigualdades” da humanidade atual.
“Hoje somos chamados a questionar-nos: o que é que aprendemos com esta situação de pandemia?”, apela o Papa.
“Quais são os novos caminhos que deveremos empreender para romper com as correntes dos nossos velhos hábitos, estar mais bem preparados, ousar a novidade? Que sinais de vida e esperança podemos individuar para avançar e procurar tornar melhor o nosso mundo?”, lê-se.
O texto considera que a confiança posta no progresso, na tecnologia e nos efeitos da globalização gerou uma “intoxicação individualista e idólatra”.
“Não podemos ter em vista apenas a nossa própria proteção, mas é hora de nos comprometermos todos em prol da cura de nossa sociedade e do nosso planeta, criando as bases para um mundo mais justo e pacífico, seriamente empenhado na busca dum bem que seja verdadeiramente comum”, sustenta Francisco.
A mensagem conclui-se com votos de que todos possam aprender, no novo ano, a “caminhar juntos, valorizando tudo o que a história pode ensinar.
“Formulo votos de todo o bem aos Chefes de Estado e de Governo, aos Responsáveis das Organizações Internacionais, aos líderes das várias religiões. Desejo a todos os homens e mulheres de boa vontade que possam, como artesãos de paz, construir dia após dia um ano feliz”, refere o Papa.
O Dia Mundial da Paz foi instituído em 1968 por São Paulo VI (1897-1978) e é celebrado no primeiro dia de cada ano, com uma mensagem papal.