Responsáveis pelos «Caminhos de Fátima» abordam iniciativa que tem pela primeira vez lugar esta segunda feira, 13 de outubro
Celebra-se pela primeira vez esta segunda-feira, 13 de Outubro, o Dia do Peregrino, instituído pela Assembleia da República, para “dignificar o papel do peregrino na construção da sociedade portuguesa”, como se lê na resolução 1050/XII, aprovada em junho.
Lourenço Almeida e Isabel Blanco Ferreira, ligados ao projeto “Caminhos de Fátima”, do Centro Nacional de Cultura (CNC), em declarações à Agência Ecclesia, destacam a importância do Dia do Peregrino não só do ponto de vista “religioso” mas também ao nível de todas as “atividades complementares” que a partir dele se geram.
Mais-valias que “contribuem para o bem-estar das pessoas e para a dinamização económica e cultural”, com particular destaque, por exemplo, para a dinamização de muitos locais que “estão desertificados e que ganham uma nova vida com este fenómeno”.
“Há uns anos confidenciavam-me que cumpriam promessas. Hoje vejo que vão à procura de algo, à procura de Deus. A instituição deste dia faz-nos olhar para os peregrinos como pessoas que procuram algo de bom, para além de fatores económicos que não deixam de ser importantes”, aponta Isabel Blanco Ferreira.
Não é fácil saber quantos peregrinos nacionais se dirigem anualmente para o Santuário de Fátima. São milhares de todos os pontos do país. Nos últimos anos, tem aumentado o número de peregrinos que, dos mais diversos pontos do país, sobretudo nos meses de Maio e Agosto, se dirigem a pé para o “Altar do Mundo”. As motivações são, essencialmente, de natureza espiritual.
Peregrinações que mudam uma vida
Foi uma promessa, um problema grave de saúde da esposa, que levou Rui Guerra, há oito anos, pela primeira vez em peregrinação a Fátima.
Na altura, este funcionário público, de 53 anos, fez a viagem de automóvel e ficou hospedado num hotel, mas, ao encontrar-se com outros peregrinos que fizeram o caminho a pé e ao ouvir as suas experiências, percebeu que ser peregrino não conjugava com o conforto da viagem e da estadia e, então, decidiu tornar-se peregrino a pé. Desde essa altura, já fez cinco peregrinações, mais de mil e oitocentos quilómetros.
“O bonito disto tudo é a fé, a oração, a relação de compromisso, de cumplicidade de entre-ajuda, de verdadeira amizade que se estabelece”, conta, revelando que foi a partir da mensagem de Fátima e das experiência como peregrino que se tornou uma “pessoa diferente”, relata Rui Guerra à Rádio Renascença.
“Nós mudamos muito porque os ensinamentos de Nossa Senhora vão no sentido de sermos melhores e tornarmos o mundo melhor. E eu mudei também no ser mais compreensivo com os outros e tentar perceber que a nossa vida é uma passagem”, confidencia.
Este amor e esta solidariedade que Rui procura ter presente no seu dia-a-dia no trabalho, na família, na relação com os outros e em cada peregrinação a Fátima.
“Este ano. voltei a fazer a peregrinação. Fi-lo com imensa alegria, com mais maturidade, numa atitude menos egoísta e de total abertura a quem encontrasse pelo caminho. Assumi como compromisso pessoal estar ao lado e ajudar quem tivesse mais dificuldade em chegar a Fátima”, conta à Renascença.
Mónica Fernandes, de 38 anos, é licenciada em psicologia, exerce as funções de directora do Lar da Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor. Fez a sua primeira peregrinação a pé em 2003. Desde então, só faltou dois anos. Já fez, por isso, nove peregrinações. São mais de 3.200 quilómetros palmilhados na “alegria” e em “gratidão” pelo dom da fé.
Mónica promete que vai continuar a peregrinar para “aprender com Maria o caminho para Deus”.
“É uma forma de viver a fé como Nossa Senhora, porque Maria também foi peregrina”, conta à Renascença.
Mónica diz que “a peregrinação é feita de coisas muito boas”.
Destaca “o convívio, a ajuda, o sair da rotina e caminhar”, para afirmar que “quem faz a experiência de ir a pé a Fátima, nunca mais deixa de ser peregrino”.
“A vida humana é uma peregrinação e ao caminhamos para Fátima, assimilamos mais esta verdade”, realça.
Já Paula Morais, 42 anos e auxiliar de Lar de Terceira Idade, não encontra muitas palavras para descrever a experiência de peregrina. Foi a pé a Fátima por duas vezes, em cumprimento de uma promessa, mas quer voltar a ir “só para agradecer”, conta na primeira pessoa à Rádio Renascença.
“Percorrer o caminho a pé implica algum sofrimento, sobretudo para quem sofre dos pés, como é o meu caso, mas nada se compara à experiência de caminhar com os outros, à amizade que se estabelece e ao podermos celebrar a fé em conjunto”, diz Paula.
A peregrinação aniversária de Fátima , este ano, fica marcada por vários eventos importantes: o centenário do início da I Grande Guerra e os 75 anos do início da II, além dos 25 anos da queda do muro de Berlim. Datas que, de algum modo, estão abrangidas pela mensagem de paz transmitida em Fátima por Nossa Senhora.
A peregrinação ocorre também uma semana antes da beatificação do Papa Paulo VI, “o primeiro Papa a visitar o santuário de Fátima”.
“Foi ele que em pleno Concílio Vaticano II, no final da terceira sessão, ofereceu a rosa de ouro ao nosso Santuário e, por isso, não podemos deixar de ter bem presente este acontecimento da sua beatificação como um dom para o nosso Santuário”, disse o Bispo de Leiria –Fátima, D. António Marto.
As celebrações são presididas pelo arcebispo de Goa e Damão, como forma de exprimir os laços com o povo asiático. “Arrependei-vos porque Deus está perto” é o tema desta peregrinação presidida por D. Filipe Neri Ferrão.
Ecclesia/Rádio Renascença/Lusa