Celebrações apresentam diferenças
As festas em louvor do Divino Espírito Santo são vividas com intensidade em todo o arquipélago dos Açores, ainda que as celebrações apresentem diferenças de ilha para ilha e até mesmo entre freguesias.
As festas do Divino Espírito Santo iniciam-se após a Páscoa e prolongam-se até ao oitavo domingo seguinte, o da Trindade, apesar de já ser comum alargarem-se até ao verão, devido ao regresso dos emigrantes à terra natal.
O domingo de Pentecostes, celebrado hoje, e o sétimo após a Páscoa, é o momento mais alto das comemorações, que, neste dia, se repetem por todas as ilhas.
O impacto das festas do Espírito Santo é de tal que a segunda-feira a seguir ao domingo de Pentecostes é feriado regional e o Dia da Região Autónoma dos Açores, sendo ainda habitual o executivo açoriano dar tolerância de ponto na terça-feira nas ilhas do Pico, S. Jorge e Faial.
As comemorações são muito diferentes entre as ilhas, mas todas têm em comum a oração (normalmente o terço), a missa da coroação e a distribuição de esmolas aos pobres, as chamadas pensões compostas por carne, pão e vinho.
Santa Maria
A ilha de Santa Maria foi a primeira a ser descoberta e povoada e por isso também aquela onde o Espírito Santo se começou a celebrar pela primeira vez. Hoje é talvez das ilhas onde as festas em domingo de Pentecostes têm menor expressão. É o próprio ouvidor da ilha que o sublinha. Numa entrevista ao Igreja Açores, o Pe. Rui Silva lembra que o envelhecimento e o progressivo despovoamento da ilha tem feito com que a festa seja transferida para o verão.
“Infelizmente nos últimos anos o Pentecostes tem sido adiado para o verão altura em que regressam a casa os emigrantes e os estudantes e por isso as festas do Espírito Santo são promovidas no verão”, referiu.
As festas resultam quase todas de promessas e para o sacerdote “não tem sido fácil explicar e convencer as pessoas de que as festas devem ser feitas no tempo próprio e nas datas certas”.
No ano passado, por exemplo, no domingo de Pentecostes, “tive de coroar a pessoa mais velha e a mais nova da assembleia para ter um cheirinho a festa e assim todos se sentissem coroados” disse ainda o sacerdote.
As festas de Santa Maria são particulares na medida em que na chamada função todos partilham da mesma mesa sem haver convites expressos: quem passa come e partilha do pão da carne e do vinho.
São Miguel
Na ilha de são Miguel “é uma grande manifestação de alegria à volta da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade” refere o ouvidor de Ponta Delgada, Cónego José Medeiros Constância.
“Não há lugar nem lugarejo da ilha onde não haja uma festa do Espírito Santo” refere lembrando que a festa passa pela igreja com a celebração da Eucaristia e as coroações, depois segue com a função- o almoço- e depois com arraial.
“Toda a ilha está unida à volta desta devoção, num intercâmbio muito grande numa grande manifestação de fé ainda que de forma popular. É uma celebração capilar de fé do nosso povo”, referiu.
Graciosa
Na ilha Graciosa, o destaque este ano vai para o Império da Guadalupe, que este ano celebra o seu centésimo aniversário. Por isso a missa de coroação será à beira mar, na igreja da Vitória, no curato com o mesmo nome, onde haverá a bênção e o bodo e distribuição das rosquilhas, refere o ouvidor Pe. Sérgio Mendonça que sublinha a importância desta festa em toda a ilha.
São Jorge
Também o ouvidor de São Jorge, Pe. Manuel das Matas, sublinha a importância desta festa em toda a ilha: “em todos os lugares e freguesias há coroações”.
“São festas de grande profundidade e um dia muito participado em que as pessoas vivem com grande profundidade e devoção” refere.
Em São Jorge, como em todas as ilhas, as festas integram a bênção do pão e da carne, a missa, a coroação e depois a função.
Faial
No Faial, o destaque vai para o voto camarário, feito em 1672, aquando da entrada em erupção do vulcão que hoje é conhecido como o Cabeço do Fogo, entre a Praia do Norte e o Capelo.
Este voto à Terceira Pessoa da Santíssima Trindade tem uma particular relevância porque leva a Câmara Municipal a participar nestas celebrações de uma forma ativa com gestos de partilha e atenção redobrada pelos mais frágeis. A autarquia entrega sempre duas pensões a duas instituições de solidariedade social e beneficia sempre dez famílias faialenses desfavorecidas, como explicou ao Igreja Açores o ouvidor, Pe. Marco Luciano Carvalho.
Flores
A piedade popular, nesta manifestação de fé, é “muito forte na ilha das Flores” refere o ouvidor, Pe. Eurico Caetano.
O terço, a coroação, a missa e depois as sopas são “extremamente importantes e momentos de grande partilha”.
O culto pelo Espírito Santo foi trazido para os Açores pelos primeiros povoadores e perdeu expressão no continente português durante o liberalismo.
O Espírito Santo é simbolizado por coroas, cetros e bandeiras, todos eles com pombas representadas.
O símbolo que é usado no Espírito Santo é o símbolo do batismo de Jesus. Quando ele é batizado, ouve-se uma voz que diz ‘este é o meu filho muito amado’ e toda a gente vê uma figura em forma de pomba, que é tida como símbolo do Espírito Santo.
As festas incluem uma missa, em que as pessoas são coroadas pelos padres, o que, segundo Francisco Dolores, provoca alguma confusão em quem não conhece a tradição.
A coroa quer dizer que o poder vem de Deus e cada um é filho de Deus, cada um deles pode ser coroado. Até a tradição diz que a rainha Santa Isabel tirou a coroa do rei D. Dinis e pô-la num mendigo, para que naquele dia o mendigo fosse tratado como um rei.