A Equipa Sinodal da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) apresentou hoje em Praga o seu contributo para a Assembleia Continental do Sínodo 2021-2024, que apela a uma maior “transparência” e assume “tensões” em temas ditos “fraturantes”, na Igreja.
“Ressoa a necessidade de sermos uma Igreja com maior transparência nos processos de decisão e na sua comunicação, que dialoga com o mundo a partir da cultura numa perspetiva de ‘rasgar caminhos’, trazendo o Evangelho e a espiritualidade para o centro do debate público”, refere o texto, lido durante os trabalhos desta manhã, na capital da República Checa.
Perante cerca de 600 participantes de 39 conferências episcopais, que acompanham a assembleia de forma presencial e online, a intervenção da delegação da CEP apresentou preocupações com a “relevância cada vez menor” da dimensão institucional da Igreja, “numa Europa cada vez mais descristianizada”.
A síntese do episcopado português, após nova consulta às equipas sinodais diocesanas, sublinha a urgência de “rever a comunicação e linguagem da Igreja (para dentro e para fora) e a ocupação do espaço público como uma voz credível e de serviço”.
O texto assume a dificuldade em “acolher todos de igual forma” e em “aceitar a diversidade” no seio da Igreja – dando como exemplo os casais em segunda união, pessoas com atração pelo mesmo sexo ou em uniões homossexuais-, bem como em “valorizar a fragilidade”, particularmente a das pessoas com deficiência.
A equipa da CEP regista ainda “tensões diversas” no debate em curso sobre temas “ditos fraturantes” – o acesso das mulheres ao sacramento da ordem; a ordenação de homens casados; a identidade sexual e de género; a educação para a afetividade e sexualidade; e o celibato dos padres.
O documento aponta, nas suas prioridades, a necessidade de refletir sobre o ministério ordenado, “considerando a possibilidade de ordenar presbíteros homens casados”.
“Importa, também, explicar o que significa promover uma igreja ministerial, clarificando o papel de leigos e sacerdotes, refletindo sobre a ausência dos jovens e do clero neste processo sinodal”.
A imagem bíblica apresentada no Documento da Etapa Continental, “alargar o espaço da tenda”, publicado pela Santa Sé, é entendida pela CEP como “um sinal de esperança que revela a importância de a Igreja dar voz e vez a todos, indo às periferias, manifestando a necessidade de acolher a todos independentemente das suas circunstâncias, incluindo os que moral e canonicamente possam estar numa situação irregular”.
O documento desafia as comunidades católicas a dar resposta às “novas realidades sociais e afetivas”, com um acompanhamento personalizado das famílias e acolhendo os “novos modelos familiares”.
A Igreja, acrescenta a síntese, deve “dialogar com a cultura e com o pensamento contemporâneo, em temas como a inteligência artificial, a robótica ou as questões de identidade de género”.
A CEP admite que esta nova fase teve “menor participação”, mas refere um reconhecimento “transversal” da “validade do processo sinodal”.A Assembleia Continental acontece após um processo global de consulta às comunidades católicas, lançado pelo Papa em 2021, do qual resultaram relatórios nacionais e, a partir destes contributos, um documento de trabalho, elaborado pela Santa Sé, que foi devolvido às dioceses de todo o mundo.
Entre as preocupações apresentadas em Praga estão “forma como são geridas as situações de abusos sexuais”, o “clericalismo” e a “comunicação hermética”, por parte da Igreja.
A nova síntese nacional, pede ainda um “reconhecimento da igualdade e dignidade de todos os batizados”, admitindo que é necessária uma “Igreja ministerial que não esteja centrada no ministério ordenado”.
Outro foco de tensão identificado no texto está na Liturgia, face às “sensibilidades pré e pós-conciliares”, apontando a “questões relacionadas com os grupos que se opõem à mudança”.
A ação social e ecológica, o diálogo ecuménico e a participação das mulheres, para a promoção de uma verdadeira “cultura sinodal”, são outras as prioridades apontadas.
A intervenção chamou a “dar prioridade aos jovens, defendendo a importância de lhes dar voz e lugar na vida da Igreja e encontrar verdadeiros projetos de renovação que os incluam, como por exemplo, em Portugal, a Jornada Mundial da Juventude deste ano”.
O texto foi lido em francês – uma das línguas de trabalho, ao contrário do português – por Carmo Rodeia e Anabela Sousa, da Equipa Sinodal Nacional da CEP.