Ciclo “O desafio da (i)Humanidade de grupo” reflete sobre documento lançando no início de 2021 pela CEP
A proximidade, com a criação de grupos de entreajuda que reflitam um verdadeiro diálogo inter-geracional, entre jovens e idosos, pode ser uma das marcas da resposta da Igreja no pós pandemia, defendeu esta tarde Anabela Borba no quinto encontro do ciclo de conversas sobre ‘O desafio da (i)Humanidade de grupo’, que se realizam a cada quarta-feira da Quaresma.
No centro do debate entre as Dioceses do Algarve, Angra, Aveiro e Setúbal esteve o documento dos bispos portugueses intitulado ‘Desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal’, da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP.
“Esta pandemia converteu-se no facto social mais importante; afetou a saúde de milhões de pessoas no mundo inteiro; acelerou e acentuou processos de precariedade e agravou as desigualdades” disse a presidente da Cáritas diocesana ao sublinhar que esta pandemia “acentuou uma desagregação social mais profunda com feridas que vão levar tempo a passar”.
Para Anabela Borba é fundamental que a resposta da Igreja a esta crise seja uma resposta assente no principio da proximidade, procurando, por um lado, evangelizar os mais jovens, despertando-os para a importância do outro, sobretudo do mais velho e, a estes, dar uma oportunidade de se fazerem presentes na vida dos mais novos.
“Precisamos de uma resposta de proximidade com grupos de entre-ajuda reunindo novos e mais velhos. O sofrimento dos idosos e o seu descarte pelos mais novos é um desafio que a igreja tem que enfrentar, a partir da própria família que deve ser o testemunho de uma verdadeira `igreja doméstica´”.
“O paradigma da máxima felicidade individual sem que nos preocupemos com a felicidade do outro não pode dar bons frutos e esta pandemia veio mostrá-lo”, disse Anabela Borba frisando o valor do regresso à escuta permanente da palavra de Deus.
“Como ouvir Deus e os homens é de facto um grande desafio” sublinhou Anabela Borba ao destacar também a importância de que esta Palavra seja partilhada entre todos e refletida por todos numa lógica sinodal como de resto é a que a diocese de Angra, em particular, atravessa.
Neste debate, que decorreu em ambiente digital, participaram também os padres Carlos Aquino, pároco de Loulé, responsável pelo Setor da Pastoral da Cultura, Património e dos Bens Culturais e coordenador do Departamento da Pastoral Litúrgica na Diocese do Algarve; Licínio Cardoso, coordenador da Pastoral na Diocese de Aveiro; e Luís Ferreira, vigário episcopal para a Pastoral da Diocese de Setúbal.
Durante cerca de hora e meia discutiu-se o documento dos bispos portugueses ‘Desafios pastorais da pandemia à Igreja em Portugal’, com 53 pontos, sublinhando a necessidade de uma cultura de proximidade e de novas vizinhanças.
O padre Licínio Cardoso, coordenador da Pastoral na Diocese de Aveiro, afirmou que a pandemia “desmascarou muitas realidades” na Igreja e na sociedade, falando na quinta sessão dos colóquios online ‘O desafio da (i)Humanidade de Grupo’.
“Esta pandemia desmascarou muitas realidades na Igreja e na sociedade, por isso é importante a cultura do encontro, do diálogo e da valorização do humano”, referiu o participante.
O padre Carlos Aquino, pároco de Loulé (Diocese do Algarve), referiu que o primado da palavra deve ser valorizado porque “existe muito analfabetismo bíblico” e uma “crise de linguagem”.
Para o sacerdote, a chave passa pela sinodalidade entre o clero, entre o povo de Deus e nas atividades pastorais.
Segundo o responsável, existe “uma grande dificuldade no compromisso”, por isso apela “à criatividade” nas atividades pastorais.
Durante o tempo de pandemia, “a proposta espiritual foi fortificada no seio da família” na Diocese do Algarve, mas a integração dos jovens nas comunidades “é difícil”.
“A Igreja necessita de sair e ir ao encontro dos jovens”, apelou.
Na linha das apostas, o pároco de Loulé propõe “pequenos grupos comunitários”, nos quais “é mais fácil partilhar a palavra e a vida”.
O vigário episcopal para a Pastoral da Diocese de Setúbal, padre Luís Ferreira, sublinhou que nos últimos tempos “houve criatividade, mas também se sentiram dificuldades nas comunidades”.
Os secretariados e os movimentos ficaram “aprisionados” porque estão habituados “ao modelo presencial”, acentuou o padre Luis Ferreira.
Na sua intervenção, o sacerdote da diocese sadina frisou que D. José Ornelas de Carvalho, bispo de Setúbal, centrou a sua pastoral em dois conceitos – fraternidade e proximidade – e quer os jovens como intervenientes da pastoral, por isso “apostou nas visitas pastorais com dinamismo juvenil”.
Na abertura deste quarto encontro, o bispo de Angra que tutela o sector sublinhou a “desarticulação social” decorrente da pandemia que gerou uma ambivalência assente, por um lado, no medo do outro mas, também, na proliferação de gestos de solidariedade.
D. João Lavrador apontou ainda a própria desarticulação das comunidades cristãs, que “é muito forte” e que por vezes pode “dificultar uma resposta mais assertiva às questões que a pandemia nos vai trazendo”.
(Com Ecclesia)