De Santa Maria ao Corvo padres apostam nas redes sociais

Este domingo, a ouvidoria do Pico estará também em direto numa página própria

Numa altura em que a pandemia da covid-19 força as pessoas a ficar em casa, e não podem participar na Eucaristia dominical em comunidade, há cada vez mais sacerdotes a explorar as redes sociais para manter o contacto com os fiéis.

No Pico, a ouvidoria criou uma página onde pode acompanhar todo o ano litúrgico a partir de agora.

“Este Domingo, dia 29, iniciaremos a atividade desta página com a transmissão da Missa Dominical em Direto da Igreja Matriz de Sta. Maria Madalena pelas 12H00” refere o ouvidor Padre Marco Martinho

“Fique atento às novidades, nesta época em que separados, estamos mais perto uns dos outros!” refere ainda o sacerdote que é pároco de Santa Maria Madalena.

Também, da Sé de Angra, todos os domingos a missa das 11h00, é transmitida em direto pela televisão e pela rádio.

Na página do Facebook do Igreja Açores pode acompanhar diariamente a missa e o terço, a partir de Fátima, de onde todos os dias chega, através da quatro celebrações- duas missas e dois terços-, transmitidas nos meios digitais, o conforto materno de Nossa Senhora do Rosário de Fátima.

Na ilha de São Miguel, o padre Horácio Dutra está a proporcionar às suas comunidades, de Santo António e Santa Bárbara, na ouvidoria das Capelas, a Eucaristia, momentos de adoração e reflexões diárias a partir do Evangelho, com uma atenção muito especial aos mais novos. O padre Horácio Dutra, que é professor de Educação Moral e Religiosa Católica na escola das Capelas, tem procurado fazer sugestões de filmes para que os jovens possam ficar em casa.

A Matriz da Ribeira Grande também tem sido uma presença constante na vida da comunidade.

“É um desafio para todos. Temos transmitido todos os dias na internet. Já fazíamos esta transmissão ao domingo mas agora estendemo-nos ao longo da semana. E, à sexta feira, porque estamos na Quaresma, rezamos o terço e fazemos uma via-sacra. Tem sido um desafio para todos”, afirma o padre Manuel Galvão.

“As pessoas têm gostado e têm rezado muito em família e isso é muito bom. Procuramos que as Eucaristias tenham qualidade com a intervenção de todos os ministros, nomeadamente leitores e cantores. As pessoas têm-se ligado muito”, sublinha o sacerdote.

O padre Nelson Pereira, um dos mais jovens da diocese, vigário em Porto Judeu, na ilha Terceira, acrescenta que “neste momento de escuridão, as tecnologias, nomeadamente as redes sociais, são o sítio onde as pessoas mais estão” e passeiam. Por isso a sua preocupação tem sido “levar luz neste tempo estranho”, de forma a que quem ande nas redes sociais possa ter contacto com a Palavra de Deus.

“A adesão tem sido muito positiva. Não só junto das comunidades paroquiais, mas também junto de outros, abriu-se aqui um canal de comunicação a um leque de pessoas que porventura estavam mais afastadas e que agora se sentem confortadas por essa palavra” refere o sacerdote, ao destacar que os próprios emigrantes na diáspora açoriana “participam muito” nas celebrações à distância que o pároco oferece a partir do facebook da paróquia.

“A ideia que eu tenho é que este momento veio-nos recentrar no essencial: a partilha da fé, a escuta da palavra de Deus, mais atenta e frequente, e a comunhão espiritual. Isto é muito importante”, frisa o sacerdote.

“Esta pandemia fez-nos repensar muita coisa ao nível das nossas vidas e, também na igreja,  pois fez-nos refletir sobre as nossas prioridades e como podemos chegar às pessoas. Esta presença é necessária e valorizada e, por isso,  é necessário investir” acrescenta, ainda, deixando um desejo: “espero que quando passar esta pandemia esta presença não desapareça”.

Numa entrevista à Agência de Notícia Lusa, também o padre José Júlio Rocha, que colabora regularmente com a comunicação social através de textos de opinião publicados no Igreja Açores, no Sete Margens, na Agência Ecclesia e no Diário Insular, lembra que a presença do sacerdote junto das suas comunidades é fundamental.

“Eu não quero que o povo das minhas paróquias, Porto Martins e Fonte do Bastardo, se sinta abandonado pelo seu pastor, quero que eles sintam que ele está presente, que ele pensa, que ele se preocupa espiritualmente com eles, quero dar a palavra que todas as semanas lhes dou”, afirmou.

Pároco das paróquias da Fonte Bastardo e de Porto Martins, o sacerdote afirma que estas transmissões que se iniciaram no domingo passado, o primeiro domingo em que na diocese de Angra não se pode celebrar comunitariamente a missa, até permitem chegar à diáspora.

“Houve pessoas que se levantaram às 04:30 na Califórnia para poderem ouvir a missa”, contou à Agência Lusa.

Júlio Rocha admite que a missa sem os fiéis “não é a mesma coisa” e não tem “valor pleno”, mas critica uma ala mais conservadora da Igreja Católica que defende que os cristãos devem continuar a deslocar-se às igrejas.

“Não há nada mais patético do que isto. Eu recordo que na Idade Média, em meados do século XIV, quando houve a peste negra, que dizimou uma terça parte da população da Europa, as pessoas se refugiavam nas igrejas, porque acreditavam que Deus, na sua bondade, não deixava que a doença se transmitisse na igreja e esta foi a principal causa de mortandade. Não estamos na Idade Média, estamos no século XXI”, sublinhou.

Na última missa que celebrou nas suas duas paróquias, pediu aos fiéis que agissem como se todos estivessem doentes e as pessoas respeitaram a decisão.

“Quando eu anunciei que iam acabar as missas, disse-lhes claramente que as pessoas doentes não podem ir à missa, mas podem de alguma forma receber as graças da Eucaristia. Neste momento, todos nós somos doentes. E as pessoas aceitaram isto”, adiantou.

Além de transmitir a missa no Facebook, o pároco açoriano recorre todos os dias às redes sociais para apelar a que as pessoas fiquem em casa.

“No normal da nossa vida, amar é unir-se, é dar as mãos, é abraçar-se. Hoje, por muito que dure esse hoje, amar é precisamente o contrário”, salientou.

 

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