Por Carmo Rodeia
O Papa Francisco encerrou este sábado uma visita de dois dias ao Cairo, na qual repetiu mensagens contra a violência, o terrorismo e o ódio fundamentalista, em defesa da liberdade religiosa e do diálogo entre crentes.
“A violência é a negação de qualquer religiosidade autêntica” disse Francisco apelando a um “forte e claro ‘não’ a qualquer forma de violência, vingança e ódio cometidos em nome da religião ou em nome de Deus”.
Francisco sublinhou a necessidade de promover a liberdade religiosa e de “desmascarar a violência que se traveste de alegada sacralidade”.
Depois, no regresso a Roma e já só aos jornalistas, referindo-se a um dos episódios concretos mais ameaçadores dos últimos dias, apelou ao fim da escalada de tensão entre os Estados Unidos da América e a Coreia do Norte, dizendo temer um conflito nuclear que destruiria “grande parte da humanidade”.
“Peço-lhes, vou pedir-lhes, como já pedi a outros líderes de vários locais, que trabalhem para resolver os seus problemas através do caminho da diplomacia”, declarou.
Na mesma altura em que o Santo Padre fazia estes apelos, Donald Trump, numa entrevista à estação televisiva CBC News e depois de no inicio do mês ter bombardeado uma base Síria, também falava sobre a Coreia do Norte.
Com a incontinência verbal que lhe é tão cara, afirmava que caso o governo de Kim Jong-Um faça um sexto teste nuclear, os Estados Unidos poderão responder duramente. Na entrevista, Trump não especificou se a resposta seria ou não militar, no entanto, deixou claro que a “paciência” da maior potência mundial “estava a esgotar-se”, perante as provocações da parte do regime norte-coreano e não negou que há “uma chance de acabarmos por ter um grande, grande conflito com a Coreia do Norte”, avisando que os Estados Unidos vão “resolver” o problema, com ou sem ajuda da China. Mesmo sozinhos, resolvê-lo-ão “totalmente”.
Diz a sabedoria popular que há quatro coisas de cujas consequências nunca se recupera: uma pedra, depois de atirada; a palavra, depois de proferida; a ocasião, depois de perdida e o tempo, depois de passado.
Vivemos momentos muito estranhos e perante eles vivemos amedrontados. O medo é um sentimento natural que nos invade sempre que estamos perante o desconhecido. E, em bom rigor, ninguém sabe o que nos reserva a loucura dos homens, que fazem de si mesmos ídolos. A história recente está cheia deles e de cada vez que ligamos a Televisão ou folheamos um jornal vemos o seu rosto.
Das palavras e dos gestos de homens que se transformaram em ídolos ouvimos diariamente atoardas, em jeito de profissão de fé, que incitam de novo ao ódio, à xenofobia e à guerra. Parece até que a humanidade voltou a cair no mesmo buraco infernal do príncipio do século XX e nós não somos capazes de fazer frente e vencer o mal. Bem pelo contrário elegemo-lo, aplaudimo-lo e a única coisa que parece ficar ao nosso alcance é ter medo.
Não podemos passar indiferentes ao mal nem devemos tentar iludi-lo. Perante a incerteza do comportamento destes novos ídolos devemos contrapor uma mensagem de resistência e de superação: é possível vencer o mal. Podemos e devemos ler a história com a consciência de que é possível mudá-la a partir de dentro, com a força que vem do alto. Mas para isso temos de derrubar os novos ídolos cá de baixo. A primeira e próxima oportunidade será no dia 7 de maio e está na mão dos franceses.