D. José Ornelas pediu “competência” aos poderes públicos para travar uma guerra “bárbara e incompreensível”

O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa afirmou que os poderes públicos devem ter “competência” para travar uma guerra “bárbara e incompreensível” e alertou para as “consequências sérias” do conflito, em curso na Ucrânia há dois meses, “em todo o mundo”.

“Esta guerra não atinge apenas a Ucrânia, mas tem consequências sérias em todo o mundo, agravando as dificuldades económicas e sociais provocadas por dois anos de pandemia”, afirmou D. José Ornelas.

No início a Assembleia Plenária do episcopado português, que iniciou hoje e decorre até à próxima quinta-feira, em Fátima, o presidente da CEP referiu “os efeitos da guerra, com a escassez de produtos, a subida dos preços e a progressiva tensão política internacional, estão a provocar o agravamento das condições de vida sobretudo das pessoas e famílias que dispõem de menores recursos”.

“O sofrimento das vítimas desta guerra não pode ser em vão, mas deve conduzir ao reforço das instituições internacionais com real capacidade de mediação e de promoção de uma humanidade baseada na justiça, na dignidade e na paz de um Direito Internacional que a humanidade ainda não conseguiu implementar”, sublinhou.

Todos os povos têm direito a lutar pela sua autodeterminação e a ambição cega de um regime não pode coartar ou beliscar esse direito, muito menos invocando razões históricas ou até religiosas”

O presidente da CEP lembrou que o tempo atual “é muito desafiador” e exige de “um grande sentido de responsabilidade”, disse que “aos poderes públicos exige-se competência” não só para “para travar a guerra”, mas também para “encontrar soluções duradouras de paz e para gizar políticas que ajudem as populações a ultrapassarem os constrangimentos de uma economia de guerra e a viver com dignidade e paz”.

D. José Ornelas lembrou a quadra pascal celebrada há uma semana na Igreja Católica de rito latino e no último domingo nas Igrejas Católicas de Rito Oriental e na Igreja Ortodoxa que ficou “dramaticamente ensombrada pela bárbara e incompreensível guerra”, com “consequências de trauma, destruição e morte para a população ucraniana e com consequências gravíssimas para toda a humanidade”.

Desejo exprimir ao povo da Ucrânia a solidariedade, proximidade e oração da Igreja em Portugal, com sentido apreço pelo movimento de solidariedade prática da população em geral e concretamente de muitas organizações eclesiais, visando minorar as consequências desumanas desta agressão, tanto através da ajuda às populações deslocadas na própria Ucrânia e países vizinhos, como no acolhimento de refugiados no nosso país”.

“É de louvar todo este esforço, sendo necessário, tanto da parte do Governo como das instituições civis e religiosas, um reforço de atenção e coordenação, para evitar o perigo de aproveitamentos ilícitos das pessoas vulneráveis e para encontrar os meios mais adequados às necessidades do povo ucraniano” afirmou.

D. José Ornelas valorizou a “ajuda de emergência” que permitiu livrar as pessoas da guerra, e apelou à “articulação entre as várias entidades acolhedoras para que essa ajuda garanta, de forma duradoura, a dignidade das pessoas e prossiga depois de um primeiro socorro”.

O presidente da CEP recordou também a consagração da Ucrânia e da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, realizada por iniciativa do Papa Francisco, em Roma e em Fátima, quanto “expressão dos sentimentos de solidariedade e esperança ativa na superação desta brutal agressão, assim como da continuidade da generosa assistência aos que são vítimas dela”.

Referindo-se ao 25 de abril, o prelado disse que o 25 de Abril significou uma “mudança fundamental de rumo” em Portugal e, valorizando “os passos dados”, disse que o ideal de abril permanece como “meta a alcançar”.

“Embora o ideal de Abril permaneça ainda, em muitos aspetos, como meta a alcançar, é importante sublinhar os passos dados na construção de um país baseado nos valores da dignidade e da abertura sem preconceitos aos outros povos e culturas, como terreno sólido para colaborar na construção de um futuro de real fraternidade, solidariedade e paz para toda a humanidade”, afirmou D. José Ornelas.

O prelado afirmou, ainda que o tema da proteção de menores “terá um lugar de destaque” na  assembleia do episcopado que hoje iniciou e reafirmou o “pedido de perdão” às pessoas que  passaram pela “dramática situação do abuso”.

“Às pessoas que passaram pela dramática situação do abuso reafirmamos o nosso pedido de perdão, em nome da Igreja Católica, e o nosso empenho em ajudar a sarar as feridas”, disse D. José Ornelas nas palavras de abertura da 202ª Assembleia Plenária da CEP.

O presidente da assembleia do episcopado agradeceu, em nome da A Conferência Episcopal Portuguesa, “a colaboração dedicada e responsável de todas as pessoas que integram as Comissões Diocesanas e sua Coordenação Nacional, assim como o trabalho da Comissão Independente”.

D. José Ornelas lembrou que, entre 2019 e 2020, “todas as dioceses criaram as respetivas Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e, em fevereiro de 2022, foi constituída uma Coordenação Nacional destas mesmas Comissões, para implementar procedimentos, orientações e esclarecimentos que possibilitem um melhor e mais articulado trabalho de todos”, coordenada por José Souto de Moura.

O presidente da CEP afirmou também que “paralelamente, e por iniciativa da Conferência Episcopal Portuguesa, foi criada uma Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa, com o objetivo prioritário de realizar um estudo que vise o apuramento histórico desta questão, assim como o de criar uma estrutura de ‘escuta’, a nível nacional”, coordenada Pedro Strecht, que “desenvolve o seu trabalho de forma autónoma”.

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica Portuguesa iniciou o seu trabalho em janeiro de 2022 e, na apresentação do balanço dos primeiros três meses, no dia 12 de abril, disse que registou 290 testemunhos.

A Conferência Episcopal expressou palavras de “profunda gratidão a quem já se aproximou para contar a sua dura história, superando compreensíveis resistências interiores, marcadas certamente por feridas profundas” e encorajou “as pessoas que ainda procuram o momento mais apropriado para se referirem ao que nunca devia ter acontecido nas suas vidas, para que o façam”.

“Estamos convosco: acompanhamos-vos na vossa dor, queremos ajudar a repará-la e tudo faremos para prevenir situações como as que tiveram de enfrentar”, disse D. José Ornelas, acrescentando que “este tema não está encerrado” e exige “acompanhamento ativo e cuidado para pôr em prática processos e atitudes que defendam a integridade, a dignidade e o futuro de todas as pessoas, particularmente as crianças e aqueles que se encontram em situação de fragilidade, na Igreja e na sociedade”.

“Como Igreja, sentimos o imperativo do Evangelho que anunciamos e que implica a promoção de uma cultura de respeito e dignidade que favoreça o são desenvolvimento de cada pessoa e ajude a sarar as feridas que permaneçam abertas”, sublinhou D. José Ornelas.

A 202ª Assembleia Plenária da Conferência Episcopal Portuguesa, que hoje iniciou, decorre na Casa Nossa Senhora das Dores, no Santuário de Fátima, até à próxima quinta-feira, dia 28 de abril.

(Com Ecclesia)

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