Presidente da CEP defende reforço do apoio do Estado a Instituições de Solidariedade na abertura da 204ª Assembleia plenária, na qual participa o bispo de Angra nomeado pelo Papa, D. Armando Esteves Domingues
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) disse hoje em Fátima que a “grave” crise socioeconómica, provocada pelos efeitos da pandemia e da guerra, afeta particularmente “os mais vulneráveis”, pedindo soluções concertadas, a nível político.
“Entre os mais prejudicados estão, como sempre, os mais vulneráveis: as famílias pobres e de baixos rendimentos; os jovens à busca de emprego; os idosos e agora as famílias de classe média, com grandes taxas de esforço para honrar os compromissos com a habitação e a educação dos filhos”, assinalou D. José Ornelas, na abertura da 204.ª Assembleia Plenária da CEP, que decorre até quinta-feira.
O bispo de Leiria-Fátima recordou ainda os pequenos e médios empresários, afetados pelo “agravamento das taxas de juro e o aumento galopante da inflação”.
O responsável católico afirmou que as políticas definidas na Europa e em Portugal “podem diminuir algumas consequências”, mas, a longo prazo, “não vão resolver os maiores problemas”.
“As medidas paliativas de emergência tomadas pelo Governo português são importantes para responder ao apoio de emergência, mas é imprescindível realizar convergências de regime com base nos partidos e com consistência parlamentar”, sustentou.
D. José Ornelas apelou à definição de políticas estruturais, de médio e longo prazo, que “permitam mitigar os efeitos da inflação e incentivar o crescimento, tendo como preocupação o combate à pobreza, a diminuição das desigualdades sociais e o bem-estar dos cidadãos, com uma mais justa repartição da riqueza”.
O discurso abordou o impacto da crise instituições de solidariedade social, muitas das quais ligadas à Igreja Católica, que coloca em risco a sua “sustentabilidade”.
“A justa e imperiosa necessidade de aumentar os ordenados dos trabalhadores destas instituições para fazer face à inflação e aos baixos salários que já recebem, confronta-se com a situação financeira aflitiva em que estas instituições já se encontravam, particularmente devido à pandemia”, indicou o bispo de Leiria-Fátima.
O presidente da CEP apelou a uma “uma atenção especial”, por parte do Estado, com estas instituições, observando que aquele “sustenta apenas uma parte limitada do esforço financeiro”.
D.José Ornelas advertiu que uma eventual falência das instituições viria “agravar a situação das centenas de milhares de pessoas que delas dependem”.
Por outro lado, o presidente da CEP defendeu, de novo, o princípio de “tolerância zero” com casos de abusos sexuais de menores, na Igreja Católica.
“A todos quero garantir que a tolerância zero, nesta matéria, é um firme propósito que queremos ver concretizado, para erradicar este mal na Igreja”, assinalou D. José Ornelas.
O bispo de Leiria-Fátima apontou ao relatório final da Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais contra as Crianças na Igreja Católica em Portugal, que vai ser apresentado em janeiro de 2023.
“Permitir-nos-á conhecer a verdade de um passado doloroso, antes de mais para as vítimas de tais abusos, que a todos nos fere e envergonha”, apontou.
O relatório da Comissão Independente, que aguardamos, será um instrumento fundamental que nos ajudará nesse caminho de definição e implementação de estratégias para mitigar a reincidência dos abusos, em complementaridade com os passos já dados pelas Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis e pela Equipa de Coordenação Nacional destas comissões, cujo trabalho dedicado e empenhado agradeço”.
O presidente da CEP agradeceu a todas as vítimas que “têm dado, corajosamente, o seu testemunho ao longo dos últimos meses”, afirmando que elas ajudam a iluminar esta “sombria realidade que contradiz a identidade e a missão evangelizadora da Igreja”.
“Quero dizer também às vítimas que preferem manter selada no íntimo do coração a sua história que estamos cada vez mais conscientes da dureza da vossa dor, e gostaríamos de poder colaborar convosco na superação destes injustos e, a todos os títulos, inadmissíveis atentados”, acrescentou.
Para D. José Ornelas, este tem sido um “tempo penoso” para leigos e, particularmente, os sacerdotes, por causa do “duro embate” com esta realidade.
“Tem-se revelado também um tempo de purificação, na busca da justiça, através da concreta identificação dessas situações dolorosas, de modo que não se façam generalizações indevidas, nem acusações indiscriminadas e que os responsáveis de tão condenáveis crimes possam ter também um tratamento justo, nas sedes apropriadas”, assumiu.
O bispo de Leiria-Fátima citou a intervenção que fez na abertura do último Simpósio do Clero, a 29 de agosto, para sublinhar que a Igreja Católica em Portugal está a fazer “um caminho necessário de identificação de males que existiram e continuam presentes”, para que os possa assumir “na sua realidade dolorosa, como processo de conversão e de libertação para todos”.
Nesta assembleia plenária estão a participar todos os bispos titulares das dioceses, bem como os auxiliares e ainda dois dos administradores diocesanos nomeados, Angra e Setúbal , respetivamente. Também está presente o bispo nomeado de Angra, D. Armando Esteves Domingues.
(Com Ecclesia)